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As "Bruxas de Bucha". Unidade anti-drone feminina protege o céu ucraniano

por Carla Quirino - RTP
Bruxas de Bucha em treino Gleb Garanich - Reuters

São cerca de 100 mulheres que treinam nos subúrbio de Kiev e formam a unidade móvel feminina de defesa aérea anti-drone. São conhecidas por "Bruxas de Bucha" e têm idades entre os 19 e os 64 anos. Desde abril que se tornaram voluntárias e inscreveram-se no serviço militar da comunidade territorial ucraniana de Bucha.

Valentyna (nome fictício) desistiu da profissão de médica depois do bombardeamento russo em Bucha, região que ficou marcada pelo massacre de 2022. 

Tem 51 anos e é mãe de três filhos. Há dois anos, durante a fuga com a família, o carro de Valentyna foi intercetado por militares russos e um dos soldados apontou à cabeça do filho com o cano de uma arma, em tom de ameaça.

“Foi um choque e um medo tão grande” conta a mãe, agora militar, revelando que esse momento foi “o ponto de partida” que a levou ao grupo de mulheres combatentes.

Tal como Valentyna, dezenas de mulheres inscreveram-se no serviço militar para se tornarem “Bruxas de Bucha” - Bucha Witches -, onde encontraram realização pessoal.

“A minha mãe está feliz porque eu encontrei um propósito aqui. E encontrei amigos, colegas, irmãos e irmãs”, refere Valentyna à Aljazeera.

“Temos todos um objetivo. Temos um coração para todos. Temos um propósito – acelerar e investir na vitória ucrâniana de qualquer maneira que pudermos”, sublinhou Valentyna.

Uma das tarefas da unidade aérea móvel é neutralizar drones russos, "espiões" sem bomba que voam em direção a quem dispara.
Bruxas no terreno para neutralizar "orcs"

Os treinos acontecem num campo de tiro onde aprendem a carregar armas, disparar e coordenar ataques em duplas ou trios.

Recorreram à história do “Senhor dos anéis” de JRR Tolkien para batizaram essa área de treino de “Mordor, reino da Terra Média, habitado por seres terríveis conhecidos por “orcs”. E é precisamente como os russos são chamados – orcs.

Entre fazer flexões usando ao mesmo tempo colete à prova de balas, o treino torna-se exigente. A antiga médica diz que achava que não conseguiria lidar com esse esforço. Mas “quando a força acaba o espírito entra em ação”.

Kateryna, dona de uma galeria de arte em Kiev, nunca tinha pensado num desafio deste tipo.

“Eu estava preocupada. Nunca tinha tocado numa arma”, mas a guerra e a vontade de se defender levou-a a “Mordor”. Agora, com os treinos, sente-se mais confiante e confirma: “Já estou a começar a entender um pouco as coisas”.

Para muitas Bruxas, o treino tem-se revelado um espaço de psicoterapia coletiva, onde aprendem a proteger-se e a lutar em conjunto.

Natalya trabalhava das 9 às 5 numa confeitaria. No início da invasão viu os soldados russos a sairem de aviões e helicópteros no aeroporto de Hostomel, perto de Bucha.

Conseguiu fugir com as filhas e sobrinhas, enquanto o marido e o filho permaneceram para servir no exército.

Atualmente, Natalya considera-se igual a eles e sublinha: “É melhor participar do que assistir”.

E Valentyna acrescenta que aqui não há folga, “porque mesmo quando estamos em casa a guerra não acabou e nós temos sempre os pensamentos apontados para o combate”. 
Bruxas de Bucha em treino | Gleb Garanich - Reuters

No terreno está Andriy Verlaty, um coronel que dá instrução às “Bruxas de Bucha”.

“Há mulheres que podem superar qualquer homem no cumprimento de deveres militares. Elas já conseguem manusear com precisão as espingardas de assalto”, realça Verlaty.

E, mais importante, revela o coronel: “Quando vestem um uniforme, não se pensa se é uma mulher ou um homem. Pensa-se que é um defensor”.
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