Uma equipa de investigadores portugueses apresenta hoje, no V Encontro Iberoamericano de Gestão do Património, no Uruguai, uma proposta de pesquisa, salvaguarda e valorização do Património Cultural Subaquático (PCS) de contexto português em águas territoriais uruguaias.
Em concreto, o objeto da investigação é o PCS português que jaz nas águas circundantes à cidade de Colonia do Sacramento e das ilhas próximas, explicou à agência Lusa o arqueólogo náutico Alexandre Monteiro, da Universidade Nova de Lisboa, que lidera a missão científica.
A colónia do Sacramento, no estuário do rio da Prata, foi fundada por portugueses em 1680, que já se tinham estabelecido na região, em 1512.
Ponto estratégico, pelo qual "desaguava" a prata boliviana de Potosi, com forte tráfego comercial, foi alvo de várias contendas entre Portugal e Espanha, que tomou a sua pose de 1777 até 1807, quando passou para domínio inglês.
A região voltou para a coroa portuguesa de 1817 a 1822, quando se tornou brasileira, com a independência. Em 1828, passou a fazer parte da recém-criada República Oriental do Uruguai.
A documentação escrita existente nos arquivos portugueses, nomeadamente no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), dá conta de vários naufrágios de barcos portugueses nestas águas, nos séculos XVI a XIX.
Os depósitos arqueológicos têm sido alvo de vários caçadores de tesouros que se aventuram naquelas águas por causa das cargas perdidas, algumas valiosas, como o naufrágio da nau Nossa Senhora da Luz, em 1752, perto Montevideu, que foi alvo de saque entre 1991 e 1993.
Segundo o projeto de investigação que é hoje apresentado no Uruguai, este navio português foi pilhado de todos os artefactos em ouro, que foram vendidos em leilão na Sotheby`s, tendo o produto da venda sido dividido em partes iguais pelo achador, o argentino Rúben Collado, que tem obtido várias licenças do Uruguai para prospeção, e o Estado uruguaio.
A proposta técnico-científica para a deteção e identificação de sítios arqueológicos submersos é apresentada no V Encontro Iberoamericano de Gestão do Património, em Fray Bento, no sudoeste do Uruguai, e visa "qualificar e valorizar as condições de conhecimento do PCS de origem portuguesa ou em contexto histórico português, de modo a cumprir com obrigações legais, nacionais e internacionais".
Portugal ratificou a Convenção da UNESCO sobre a Proteção do Património Cultural Subaquático, comprometendo-se em termos nacionais e internacionais, "a preservar o seu património cultural subaquático em benefício da Humanidade", lê-se na proposta apresentada.
A área que será objeto de investigação da equipa é a baía de Sacramento e as sete ilhas próximas onde foram localizados pelo menos quatro naufrágios históricos, "existindo dados sobre outros mais".
"Evidência deste património são os dois canhões portugueses em bronze, recuperados aquando de dragagens executadas defronte a Colónia, em 2007", explicou Alexandre Monteiro.
O sítio da baía foi classificado como Património Mundial pela UNESCO, e o Governo uruguaio propôs, em 2005, a criação de uma zona de proteção fluvial à Nova Colónia do Santíssimo Sacramento.
A proposta da missão científica portuguesa, em consonância com as autoridades culturais uruguaias, tem por objetivo desenvolver "a investigação e a valorização" da baía de Colonia de Sacramento e do seu território insular, e considera "urgente identificar, catalogar e classificar os sítios arqueológicos marítimos na área", assim como "diagnosticar a conservação dos recursos culturais submergidos".
Outro dos objetivos apresentados é "efetuar atividades de prospeção não intrusiva de superfícies e sub-superfícies, georreferenciando-as num Sistema de Informação Geográfica (SIG)", o "registo direto e prospeção de superfície em mergulho", assim como o "registo fílmico e fotográfico, que complemente o suporte SIG do inventário", e ainda a "arqueometria e identificação de elementos-diagnóstico".
A missão portuguesa considera que se devem "tomar todas as medidas oportunas com vista a sensibilizar o público para o valor e o significado do PCS e para a importância da sua proteção nos termos da Convenção da UNESCO", bem como "criar, manter e atualizar um inventário do seu património cultural subaquático disperso pelo mundo, de modo a garantir de forma eficaz a sua proteção, preservação, valorização e gestão".
A equipa portuguesa é liderada pelo arqueólogo náutico Alexandre Monteiro, doutorando em História-Arqueologia, Filipe Castro, doutorado em Arqueologia Náutica, e catedrático na Universidade do Texas, os arqueólogos náuticos Maria João Santos e Miguel San Claudio, o historiador naval Paulo Costa, a doutorada em Arqueologia Rosa Varela Gomes, professora na Universidade Nova de Lisboa, e a doutorada em Arqueologia Moderna, Tânia Casimiro.
A missão científica projeta ainda a participação da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental, do Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, do Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, do Centro de Investigação da Marinha, e ainda a da Texas A&M University.