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Arma acústica proibida? Milhares de sérvios exigem investigação da ONU

por Cristina Santos - RTP
Djordje Kojadinovic - Reuters

Mais de meio milhão de pessoas já assinaram uma petição online para que seja feita uma investigação independente às forças de segurança na Sérvia. Em causa está a suspeita de a polícia sérvia ter utilizado uma arma acústica, proibida, no passado sábado durante mais um enorme protesto contra a corrupção no país.

A petição foi criada depois de seis ONG na Sérvia começarem a recolher depoimentos do que aconteceu no sábado. Mais de 3.000 relatos já foram recolhidos e as testemunhas descrevem "um poderoso impacto sonoro, acompanhado por uma onda de calor ou vento".

Alguns descrevem o som como um "rugido profundo" semelhante a um motor a jato ou ao ruído de um comboio num túnel, "combinado com um apito de alta frequência, um tiro de canhão ou uma explosão".

"Com base nos depoimentos que temos, é evidente que houve um forte impacto sonoro durante o protesto e que causou uma série de reações físicas e psicológicas entre os manifestantes", referem as organizações não-governamentais.

Para além dos efeitos na multidão, as dúvidas aumentaram depois de divulgada uma fotografia que mostra um veículo da polícia com um grande equipamento fixado no capô.


Foto: AFP

Logo após o protesto de sábado, o movimento de oposição Move-Change lançou uma petição endereçada aos relatores especiais da ONU sobre o direito à reunião pacífica e liberdade de expressão, bem como ao Conselho da Europa.

Até quinta-feira, mais de 590 mil pessoas já tinham assinado a petição. "A utilização de meios ilegais contra civis representa uma violação grave dos direitos constitucionais e internacionalmente reconhecidos dos cidadãos", lê-se no texto.

"Pedimos às instituições competentes que investiguem com urgência estas denuncias
e que revelem publicamente os resultados” desses inquéritos independentes, explicam os autores da petição.


Foto: Oliver Bunic - AFP

Um vídeo, captado durante o protesto, mostra os manifestantes a cumprirem 15 minutos de silêncio pelas vítimas mortais do desastre numa estação ferroviária, em novembro. Quando, de repente, um som penetrante quebrou o silêncio, contam os jornalistas da Associated Press. O som provoca o pânico entre a multidão.Várias pessoas que estiveram no protesto relataram sentir dores de cabeça persistentes, náuseas e zumbidos nos ouvidos.


Um analista militar sérvio explica à agência France Presse que esta arma tem um dispositivo acústico de longo alcance de fabrico norte-americano. 

Ela emite ondas sonoras de alta frequência e serve para "controlar multidões, repelindo ataques a infraestruturas essenciais ou mesmo em operações anti pirataria".


Foto: Djordje Kojadinovic - Reuters

Políticos e responsáveis pela polícia da Sérvia negam as acusações de ter sido utilizada uma arma acústica para dispersar os manifestantes. No início desta semana, o presidente sérvio considerou as acusações como uma “mentira perversa” que visa “destruir” o país.

O ministro sérvio do Interior também desmentiu que o equipamento tivesse sido usado contra os manifestantes. O veículo "permaneceu parado e o dispositivo não foi usado, nem foi reproduzido som, exceto durante os preparativos, exercícios e o que é necessário para a operação” das unidades especiais.


Foto: Mitar Mitrovic - Reuters

Citado pela France Presse, o ministro acrescentou que a “utilização da arma acústica é proibida”.

No entanto, seis dias depois de cerca de 325 mil pessoas terem saído, de novo, à rua em Belgrado, grupos de direitos humanos e partidos de oposição continuam a afirmar que foi utilizado, ilegalmente, um dispositivo sonoro que espalhou o pânico.

Estas acusações aumentam ainda mais a pressão sobre o presidente da Sérvia, país cada vez mais autoritário.


Foto: Bernadett Szabo - Reuters

Sendo este o maior desafio que Aleksandar Vučić enfrenta desde que chegou ao poder sérvio há uma década.

Há quatro meses, desde novembro, que os sérvios protestam, quase diariamente, por causa do colapso do telhado de uma estação de comboios na cidade de Novi Sad, no norte do país. A tragédia, que matou 15 pessoas, foi a gota que fez transbordar a paciência dos sérvios.
 

Foto: Djordje Kojadinovic - Reuters

Em todo o país, a população veio para as ruas para exigir maior transparência do Governo e expressar o descontentamento. O protesto de sábado foi, até agora, o maior.
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