Argentina. Javier Milei enfrenta dificuldades para conseguir governar o país

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Agustin Marcarian - Reuters

Um mês depois de ter assumido a presidência argentina, Javier Milei enfrenta dificuldades para conseguir governar o país. Sem maioria absoluta no Parlamento, o presidente argentino procura "superpoderes" para alcançar as reformas estruturais, à medida que a paciência dos argentinos começa a esgotar-se com o aumento galopante da inflação.

Com menos de 15 por cento dos deputados e menos de dez por cento dos senadores, "a grande incógnita do começo do Governo Milei era como faria para governar com uma hiperminoria governativa no Parlamento" afirmou o cientista político Lucas Romero, diretor da Synopsis Consultores, à agência Lusa.

“Milei tinha duas opções: conformar uma ampla coligação ou negociar com cada ator para chegar a maiorias e consensos. Resolveu o dilema da forma menos esperada, subvertendo o princípio de maioria parlamentar através de instrumentos nos quais ele decide sozinho" explicou Lucas Romero. Embora preveja que “não vá conseguir subverter o princípio de maioria em todas as medidas".

Segundo Lucas Romero, o governante argentino decidiu avançar com uma revolução liberal imediata, tomando todas as medidas de uma vez só com “decisões polémicas e sem consenso”, em vez de ter-se “concentrado naquilo que é urgente e importante”, acrescentou. "O Presidente precisa convencer o mercado de que têm condições de tomar decisões e de convencer a população de que está no rumo correto", aponta Romero.

Apesar da ausência da maioria para governar e dos graves problemas económicos que o país enfrenta, a consultora Trespuntozero, que acertou no resultado eleitoral que deu a vitória a Javier Milei, observou que a base popular de 55, 7 por cento que elegeu Milei mantém o seu apoio. Uma vez que quem votou nele vê em Milei a última chance de mudança.

"A popularidade de Javier Milei ainda é sólida, mas é de esperar-se que esse apoio se dilua à medida que as medidas tenham impacto no dia-a-dia. Dezembro, janeiro e fevereiro tendem a ser meses benevolentes com os governos, mas março é quando o impacto acumulado será sentido", apontou a analista política Shila Vilker, diretora da consultora Trespuntozero.
Inflação galopanteApesar de 55,7 por cento da população ver em Javier Milei uma “chance” para mudar o rumo do país, nenhuma medida trouxe até agora alívio ao bolso dos argentinos e não aparece no horizonte deste trimestre nenhuma luz de esperança. Estima-se que os próximos meses serão de inflação em torno dos 30 por cento, como antecipou no seu discurso de tomada de posse Javier Milei, que apontou que a inflação no país deveria variar entre 20 e 40 por cento neste período. 

Nos últimos 30 dias, os combustíveis aumentaram 90 por cento e um novo aumento está previsto para as próximas semanas. Vários produtos básicos tiveram um reajuste acima de 100 por cento. Seguros de saúde tiveram um reajuste de 40 por cento e terão outro de 30 por cento em fevereiro, em sintonia mensal com a taxa de inflação. Também em fevereiro começarão os aumentos de gás e energia elétrica, previstos em 300 por cento para o gás e 200 por cento para a eletricidade.

Em consequência, o consumo em mercados caiu 50 por cento, em combustíveis 20 por cento, outros 20 por cento em materiais da construção. O país entrou velozmente na letal combinação de recessão com alta inflação. O ajuste da economia tem vindo pelo lado da desvalorização da moeda e do salário que se diluem.

Na quinta-feira, será divulgado o índice de inflação de dezembro e do ano anterior, dezembro deverá ficar entre 25 e 30 por cento, totalizando cerca de 200 por cento em todo o ano passado.

"As pessoas não vão pedir resultados em apenas três meses, mas vão pedir argumentos que validem a ideia de que se está no rumo correto e que cada dia será menos mau do que o anterior. Se Milei não der isso, será muito difícil que beneficie de paciência" dos argentinos, indicou o cientista político Lucas Romero, diretor da Synopsis Consultores, à agência Lusa.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT) convocou a uma greve geral para o próximo dia 24 de janeiro, o que poderá tornar Javier Milei no presidente que mais rápido terá de enfrentar a primeira greve geral com apenas 44 dias de mandato.

c/agências
PUB