Arcebispo da Cantuária resigna ao cargo

por Graça Andrade Ramos, RTP
O Arcebispo de Cantuária quer regressar à vida académica Claudio Onorati, EPA

Rowan Williams, líder espiritual de 80 milhões de fiéis da Comunhão Anglicana, anunciou que irá abandonar o cargo no final do ano. O 104º arcebispo da Cantuária tem 61 anos e ocupa o mais alto lugar religioso da Igreja de Inglaterra desde 2002. Na última década enfrentou divisões entre reformistas e conservadores, sem alcançar consensos.

Williams, poeta e linguista e ainda o primeiro galês a tornar-se arcebispo de Cantuária, irá afastar-se em dezembro de 2012, para regressar à vida académica como Mestre no Colégio de Madalena, da Universidade de Cambridge, a partir de janeiro de 2013.

Apoiante da realeza, terá ainda tempo de presidir ao jubileu de diamante da Rainha Isabel II, que comemora 60 anos de reinado e é a líder nominal da Igreja de Inglaterra.

"Tem sido um enorme privilégio servir como Arcebispo de Cantuária ao longo da última década e afastar-me não foi uma decisão fácil", afirmou Williams em comunicado, sem explicar os motivos para resignar. A idade habitual para a reforma para os aispos da Igreja de Inglaterra são os 70 anos.
Sucessão
A Rainha terá agora de escolher o sucessor de Williams.

John Sentamu, arcebispo de York e segundo na linha hierárquica da Igreja de Inglaterra é um dos favoritos, embora considerado por muitos demasiado frontal nas suas opiniões. Se for o escolhido, será o primeiro arcebispo de Cantuária negro.

Outro candidato provável é o bispo de Londres, Richard Chartres, um amigo do Príncipe Carlos mas criticado, pela forma como lidou com quatro meses de acampamento ilegal de manifestantes anti-capitalistas, frente à Catedral de S.Paulo, em Londres.
Legado complicado
A Comunhão Anglicana agrupa 38 Igrejas nacionais e estatais e tem cerca de 80 milhões de fiéis. Apesar de aceitarem a liderança espiritual do arcebispo de Cantuária, todas as Igrejas são independentes entre si e podem adotar diferentes regras doutrinais, ao contrário da Igreja Católica.

Um dos pontos altos do último ano do mandato de Williams será a realização, em julho, do parlamento da Igreja de Inglaterra, o Sínodo Geral, que deverá votar a consagração de mulheres bispos, um marco no Convénio, ou acordo anglicano.

Mas essa deverá ser a única vitória de Williams em relação aos conservadores.

Nos últimos anos, a Comunhão tem estado profundamente dividida doutrinalmente em questões relacionadas com a homossexualidade e, apesar dos seus esforços, Rowan Williams só a muito custo conseguiu manter a unidade.
Preocupado com um possível cisma
Ao comunicar a resignação, Williams admitiu estar preocupado com uma eventual divisão da Comunhão.

"Os piores aspetos do lugar, penso, têm sido as sensações de que alguns conflitos não vão desaparecer, por mais esforços que façamos e que nem todos os membros da Comunhão Anglicana, ou até na Igreja de Inglaterra, estão ativamente interessados em evitar um cisma" escreveu Williams.

"Mas eu certamente considerei realmente prioritário tentar e manter as pessoas relacionadas umas com as outras," acrescentou o Arcebispo.

Considerado um liberal quando foi escolhido, Williams, acabou por sacrificar a sua própria visão para manter a Comunhão unida. Acabou por desiludir os liberais sem chegar a satisfazer os conservadores.

"Ele é bondoso, sábio, afetuoso e um homem de Deus, mas se ele se tivesse realmente afirmado e se fosse visto como um líder, estaríamos numa Igreja de Inglaterra muito diferente da que estamos hoje e isso é lamentável," afirmou um dos membros do Sínodo Geral, Alison Ruoff, ao saber da decisão do Arcebispo.
Questões homossexuais fraturantes
Williams tentou manter a união da Comunhão através de um novo acordo que propunha maior autoridade central, o que não tem tido acolhimento favorável.

As comunidades anglicanas elegem elas próprias os seus líderes e os reformistas receiam perder a possibilidade de elevar sacerdotes homossexuais ao bispado.

Várias Igrejas alteraram já a doutrina quanto à consagração de homossexuais e ao casamento de pessoas do mesmo sexo, sobretudo as Igrejas Episcopais, dos Estados Unidos.

Mas outras comunidades, sobretudo em África, rejeitam totalmente adotar tais mudanças. Algumas reagiram mesmo com violência, quando o abertamente homossexual Gene Robinson foi consagrado bispo e ameaçaram abandonar a Comunhão.
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