Arábia Saudita terá utilizado tecnologia israelita para espiar Khashoggi
Edward Snowden, antigo trabalhador da agência norte-americana de segurança National Security Agency (NSA), conhecido por ter tornado públicos dados secretos do serviço de inteligência dos Estados Unidos, acredita que a Arábia Saudita utilizou software israelita para espiar o jornalista Jamal Khashoggi, que foi morto a 2 de outubro no consulado saudita em Istambul.
“Como é que eles tinham conhecimento sobre os planos de Khashoggi e como é que sabiam que tinham de agir em relação a ele?”, questionou. “Essas informações vieram da tecnologia desenvolvida pela NSO”, disse, referindo-se à empresa de inteligência israelita NSO Group Technologies.
Snowden acusou a NSO de “vender uma ferramenta digital para crimes”, defendendo que a empresa “está a utilizar o seu poder não para apanhar criminosos e parar ataques terroristas, não para salvar vidas, mas para fazer dinheiro”.“Apesar de ser um aliado, Israel está constantemente no topo da lista norte-americana de piratas informáticos, juntamente com a Rússia, China e França”, explicou Snowden.
“Um nível tão elevado de imprudência e irresponsabilidade começa a custar vidas”, acrescentou, referindo-se à morte de Khashoggi. “A realidade é que já tinham pirateado o dispositivo de um dos seus amigos e respetivos contactos utilizando este software”.
A empresa israelita afirma, no entanto, que os produtos e programas informáticos que desenvolve estão “licenciados apenas para agências governamentais legítimas com o único propósito de investigar e prevenir crimes e terrorismo”.
A NSO, à qual Snowden se referiu como “a pior das piores” empresas de cibersegurança, é conhecida por ter desenvolvido o programa “Pegasus”, que pode ser utilizado para colocar vírus em telemóveis e aceder aos seus dados.
Em outubro deste ano, a Arábia Saudita terá utilizado o “Pegasus” para ter acesso às chamadas de Omar Abdulaziz, refugiado político e forte crítico do Governo do país.
“Estão a enviar vírus a jornalistas mexicanos, a figuras públicas, a funcionários da justiça e da saúde pública e a grupos anticorrupção”, acusou Snowden. “Não é que esta empresa sequer saiba quem essas pessoas são. Mas não querem saber, pois não é problema deles”.
As mais recentes revelações de Snowden chegam uma semana depois de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter pedido aos Estados Unidos para apoiarem o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, após este ter sido acusado de orquestrar o assassínio de Jamal Khashoggi.
Em 2013, Snowden ficou conhecido por ter divulgado ficheiros confidenciais da NSA e por ter exposto os níveis de atuação da vigilância nos Estados Unidos, considerada excessiva por muitos. Desde então é procurado pelas autoridades norte-americanas, acusado de espionagem.
Em 2016, o antigo trabalhador dos serviços de inteligência partilhou provas de que os EUA espiaram passageiros de aviões comerciais, a diplomacia israelita e a Autoridade Nacional Palestiniana.