Arábia Saudita leva a tribunal ativistas dos direitos das mulheres

por RTP
Mulher saudita festejando, em junho de 2018, o recém-conquistado direito de conduzir Hamad I Mohammed, Reuters

Um ano após terem sido presas, dez mulheres provenientes da Arábia Saudita defensoras dos direitos das mulheres foram hoje, quarta-feira, presentes a julgamento.

As dez ativistas que foram detidas em maio de 2018, sob a acusação de ameaçarem a segurança nacional e de oferecerem apoio a organizações estrangeiras não especificadas, foram julgadas quase um ano depois de terem sido detidas.

De acordo com a Amnistia Internacional, no julgamento de quarta-feira estiveram presentes Loujain al-Hathloul, líder ativista do movimento contra a lei que proibia as mulheres da Arábia Saudita de conduzir; Eman al-Nafjan, autora de um blog feminista; Aziza al-Yousef, professora reformada e ativista do movimento dos direitos das mulheres sauditas; e Amal al-Harbi, que defende os direitos dos presos políticos.

Na altura das detenções das ativistas, cinco homens e quatro mulheres já haviam sido detidos sob suspeita de prejudicarem os interesses do país e oferecerem apoio a elementos do exterior. O órgão de comunicação apoiado pelo Estado classificou-os como traidores.

Nos últimos dois anos, dezenas de ativistas, incluindo intelectuais e líderes religiosos, têm sido detidos no que aparenta ser, segundo a Amnistia Internacional, uma tentativa do príncipe herdeiro e regente, Mohammed bin Salman, para consolidar o seu poder.

Em outubro de 2018, o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado por agentes sauditas, em Istambul, por ter criticado o príncipe herdeiro. Tanto as detenções de maio como o assassinato de outubro intensificaram as críticas ao governo da Arábia Saudita.

Na semana passada, vários países, incluindo todos os 28 membros da União Europeia, pediram a libertação dos ativistas.
Vítimas de tortura
A Amnistia Internacional afirma que algumas das pessoas detidas, incluindo al-Hathloul, foram submetidas a tortura com choques elétricos, a maus-tratos e assediados sexualmente.

O MNE da Arábia Saudita, durante uma visita aos Estados Unidos no mês passado, afirmou que as autoridades estavam a investigar as acusações de tortura e maus tratos. Porém, o Observatório dos Direitos Humanos disse que “as autoridades sauditas não fizeram nada para investigar estas graves acusações”.

O irmão de Loujain al-Hathloul, Walid al-Hathloul, num artigo de opinião para a emissora norte-americana CNN, escreveu que a irmã afirmou que foi levada para um “palácio de terror” que fica a dez minutos da prisão, onde ocorrem normalmente as sessões de tortura.

A Amnistia Internacional confirmou que Hathloul foi torturada e alvo de assédio sexual, e a família da vítima afirma que esta não é capaz de se sentar nem de andar normalmente.
Caso da ativista Loujain al-Hathloul
Em 2014, Loujain al-Hathloul esteve presa durante 73 dias, por ter tentado entrar na Arábia Saudita a conduzir. Estudou Sociologia na Universidade Sorbonne de Abu Dhabi e um grupo de professores seus subscreveu a sua candidatura ao Prémio Nobel da Paz de 2019.

Mais tarde, Hathloul foi detida nos Emirados Árabes Unidos, onde viveu até março de 2018, quando foi extraditada para a Arábia Saudita.

Semanas antes da entrada em vigor da lei que permite às mulheres sauditas conduzir (junho de 2018), as autoridades detiveram Hathloul juntamente com outras nove ativistas que mobilizaram campanhas a favor da suspensão da lei anterior.

Um ano depois da sua detenção, Hathloul é uma das arguidas que não tem acesso a representação legal nem conhecimento dos crimes de que está ser acusada. Sabe apenas que foi detida sob a acusação de ameaçar a segurança nacional e de oferecer apoio a organizações estrangeiras “hostis”.

“Tememos que [Hathloul] seja acusada de terrorismo por ter defendido pacificamente os direitos das mulheres”, twittou a conta oficial da Amnistia Internacional, antes de Hathloul ter sido julgada num tribunal especializado em terrorismo.
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