Após votação no Conselho de Segurança. Blinken em Israel para discutir cessar-fogo em Gaza
O secretário de Estado norte-americano está esta terça-feira em Israel, no âmbito de uma nova digressão pelo Médio Oriente destinada a defender o plano de cessar-fogo para a Faixa de Gaza, entretanto aprovado na forma de uma resolução pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Blinken sublinhou que “a proposta em cima da mesa abriria caminho à calma ao longo da fronteira norte de Israel” com o Líbano e a uma “integração mais profunda” de Israel “com os países da região”, segundo o Departamento de Estado.
O secretário de Estado norte-americano vai ainda encontrar-se esta terça-feira, em Telavive, com Benny Gantz, o antigo chefe do exército que abandonou o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no domingo, bem como com o líder da oposição Yair Lapid.
Este oitavo périplo regional do secretário de Estado desde o início da guerra nos territórios palestinianos surge depois de o Conselho de Segurança da ONU ter aprovado, na segunda-feira, um projeto de resolução norte-americano que apoia o plano de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
O texto, que “saúda” a proposta de trégua anunciada a 31 de maio pelo presidente norte-americano Joe Biden, recebeu 14 votos a favor, com a abstenção da Rússia.
Hamas e Autoridade Palestiniana congratulam-se com resolução da ONU
Em comunicado, o Hamas “congratulou-se” com a resolução do Conselho de Segurança, sublinhando que “deseja reafirmar a sua vontade de cooperar com os irmãos mediadores para iniciar negociações indiretas sobre a aplicação destes princípios”.
O movimento islamita refere-se assim às suas exigências de um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza e de uma retirada total das forças israelitas do território.
Numa declaração, o Hamas afirmou que estava pronto para cooperar com os mediadores na implementação dos princípios do plano.
O plano aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU está dividido em três fases. A primeira prevê a toca de um primeiro grupo de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos e um cessar-fogo a curto prazo. A segunda propõe “um fim permanente das hostilidades”, a libertação dos últimos reféns por prisioneiros e a retirada total das forças militares israelitas da Faixa de Gaza, segundo o texto da resolução. A terceira inclui um plano de reconstrução da Faixa de Gaza para vários anos.
"O Hamas saúda o que está incluído na resolução do Conselho de Segurança que pede o cessar-fogo permanente em Gaza, a retirada completa das tropas israelitas, a troca de prisioneiros, a reconstrução, o retorno dos deslocados às suas áreas de residência, a rejeição de qualquer mudança demográfica ou redução na área da Faixa de Gaza e a entrega da ajuda necessária ao nosso povo na Faixa”, afirmou o movimento radical palestiniano em comunicado.
O Hamas afirmou também estar disposto a iniciar negociações indiretas sobre a implementação dos princípios “que sejam consistentes com as exigências do nosso povo e da nossa resistência”.
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, que se encontra na Cisjordânia, mas que deverá desempenhar um papel na situação pós-guerra em Gaza, descreveu a votação do Conselho de Segurança como um “passo na direção certa”.
“A presidência palestiniana considera a adoção desta resolução como um passo na boa direção para terminar com a guerra genocida em curso contra o nosso povo na Faixa de Gaza”, indicou o gabinete de Abbas num comunicado em árabe difundido pela agência noticiosa oficial palestiniana Wafa.
Já a Jihad Islâmica afirmou esta terça-feira que encara “positivamente” o que a resolução inclui, “especialmente em termos de abrir a porta para alcançar uma cessação abrangente da agressão e uma retirada completa das forças israelitas” da Faixa de Gaza.
Cimeira na Jordânia para angariar fundos
A Jordânia organiza esta terça-feira uma conferência internacional para angariar fundos para a ajuda humanitária aos palestinianos da Faixa de Gaza, devastada por oito meses de guerra.
Desencadeado pelo ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro, o conflito entre Israel e o movimento islamita provocou uma grave crise humanitária no território palestiniano.
Antony Blinken deverá participar nesta conferência, organizada conjuntamente pelas Nações Unidas, pela Jordânia e pelo Egito.
Uma grande parte da Faixa de Gaza foi reduzida a escombros e a maioria dos seus 2,4 milhões de habitantes foram deslocados devido aos combates.
Há vários meses que a ONU tem vindo a alertar para o facto de a fome estar a ameaçar Gaza.
Num relatório recente, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) denunciaram “o impacto devastador do conflito em curso, as graves restrições de acesso e o colapso dos sistemas alimentares locais”.
A ajuda humanitária tem chegado ao território a conta-gotas, sobretudo desde que o exército israelita lançou uma operação terrestre na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, no início de maio, e se apoderou do lado palestiniano do ponto de passagem com o Egito, por onde passava a maior parte da ajuda.
A cimeira, que se realiza nas margens do Mar Vermelho, tem como objetivo reunir dirigentes e responsáveis pela ajuda humanitária para “identificar formas de melhorar a resposta da comunidade internacional à catástrofe humanitária na Faixa de Gaza”, segundo o Palácio Real da Jordânia.
O Ministério jordano dos Negócios Estrangeiros afirmou que a conferência procurará obter “compromissos para uma resposta coletiva e coordenada para enfrentar a situação humanitária em Gaza”.
“O principal objetivo desta cimeira é chegar a um consenso sobre medidas práticas para responder às necessidades imediatas no terreno”, acrescentou o ministério.
O ataque levado a cabo a 7 de outubro por comandos do Hamas infiltrados no sul de Israel a partir do território palestiniano causou a morte de 194 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelitas.
Durante o ataque, 251 pessoas foram feitas reféns. 116 reféns continuam detidos em Gaza, 41 dos quais estão mortos, segundo o exército israelita.
Ataques prosseguem
Na Cisjordânia, quatro palestinianos, um dos quais suspeito de ter cometido um atentado, foram mortos ao fim da tarde de segunda-feira pelo exército israelita perto de Ramallah, numa nova ronda de tensões locais à margem da guerra em Gaza.
No Líbano, cinco pessoas foram mortas antes da meia-noite de segunda-feira, incluindo três sírios que trabalhavam com o Hezbollah, em ataques israelitas que visavam um comboio de camiões-cisterna que entravam no país vindos da vizinha Síria, segundo uma ONG e uma fonte militar.