Após missão diplomática a Pequim. Biden situa Xi Jinping entre ditadores

por Inês Moreira Santos - RTP
Biden lançou um ataque contundente a Xi Jinping EPA

Joe Biden referiu-se a Xi Jinping como um "ditador", depois de afirmar, num evento público, que o presidente chinês tinha ficado envergonhado com o episódio do balão que sobrevoou território norte-americano. O Governo chinês já reagiu e condenou as afirmações do presidente dos Estados Unidos, dizendo que é um atentado à "dignidade política" da China.

Foi durante um evento do Partido Democrático, na Califórnia, e na presença de jornalistas, que Biden recordou o episódio recente em que os EUA destruíram um balão chinês por, alegadamente, estar a espiar território norte-americano, acrescentando que "a razão pela qual [o presidente chinês] ficou tão chateado" quando foi abatido "aquele balão cheio de equipamento de espionagem é porque não sabia que [o dispositivo] estava lá".

"É muito embaraçoso para os ditadores quando não sabem o que aconteceu", continuou. "Quando [o balão] foi abatido ficou muito embaraçado e até negou que (o aparelho) estivesse lá".

Segundo o presidente norte-americano, o homólogo chinês acreditava que o dispositivo não podia estar em território dos EUA sem ter sido desviado.
“China tem problemas económicos”
No mesmo evento, e ainda a referir-se às relações com a Pequim, o presidente dos Estados Unidos garantiu que não havia razão para preocupação.

“A China tem problemas económicos reais", afirmou perante a plateia o democrata de 80 anos, que está em campanha para a reeleição.

Biden disse ainda, na terça-feira, que Xi Jinping estava preocupado com o chamado grupo estratégico de segurança Quad – que inclui o Japão, a Austrália, a Índia e os Estados Unidos.

“Ele ligou-me e pediu-me para não cercar [a China] porque o deixava em apuros”, disse Biden.

Ainda a propósito de Xi Jinping, Joe Biden afirmou: "Estamos num momento em que ele quer restabelecer uma relação".

Declarações que surgem apenas um dia depois de o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, ter regressado da China, onde se avistou com Xi Jinping. E aproveitando também essa visita oficial, o presidente norte-americano considerou que o secretário de Estado tinha feito um "bom trabalho", mas explicou que "vai levar tempo" para resolver a relação muito tensa entre as duas grandes potências.

A visita de Blinken a Pequim - a primeira do chefe da diplomacia dos EUA em quase cinco anos - reiniciou as negociações entre os dois países, depois de ter sido adiada devido ao incidente com o balão.

De acordo com o presidente chinês, houve alguns progressos feitos em Pequim. Já segundo Blinken, ambos os lados estão abertos a mais negociações. A rivalidade entre Pequim e Washington transformou-se numa crise diplomática com o episódio do balão, em fevereiro.
Pequim critica declarações “absurdas”
A China reagiu, esta quarta-feira, à observação "absurda" do presidente dos Estados Unidos sobre Xi Jinping pertencer à categoria de "ditadores".

"Esta observação do lado norte-americano é realmente absurda, muito irresponsável e não reflete a realidade", disse a porta-voz diplomática chinesa Mao Ning a jornalistas.

Já o Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros afirmou que as declarações de Joe Biden violavam gravemente a dignidade política da China e eram uma provocação política pública.

Não é a primeira vez que Joe Biden faz declarações marcantes em receções de angariação de fundos, eventos de pequena dimensão em que as câmaras, os microfones e as câmaras fotográficas estão excluídos, mas durante as quais os jornalistas presentes podem, no entanto, ouvir as observações introdutórias do presidente e transcrevê-las.

Foi num evento deste tipo, em outubro de 2022, por exemplo, que Joe Biden falou do risco de um "apocalipse" nuclear desencadeado pela Rússia.
PUB