Apoio a Israel pode prejudicar Kamala em Estados decisivos - Walter Mead

por Lusa

O apoio de Kamala Harris a Israel poderá, no contexto das eleições presidenciais de 05 de novembro, prejudicar a candidata democrata em Estados decisivos, como o Michigan e a Pensilvânia, defende o professor Walter Russell Mead.

Embora o apoio a Israel seja política inquestionável de sucessivas administrações norte-americanas - e até defendido de forma mais ostensiva pelo rival de Harris, Donald Trump - "há comunidades particulares, como a comunidade árabe em partes do Michigan, um Estado decisivo nestas eleições", cujos eleitores tendem a ser pró-palestinianos e poderão decidir o seu voto influenciados pela política externa democrata, sublinhou o professor norte-americano em entrevista à Lusa em Lisboa.

Alguns eleitos dos dois partidos têm assumido posições abertamente pró-Israel no contexto do atual conflito no Médio Oriente, tendo em conta que os seus estados têm também numerosas populações judias, que tendem até a ser importantes financiadores das campanhas dos dois partidos.

"Por outro lado, olho para o estado da Pensilvânia, que é, de certa forma, semelhante ao Michigan, um estado decisivo, e onde o senador democrata, John Fetterman, fez declarações extremamente pró-Israel após o dia 07 de outubro e a sua popularidade na Pensilvânia aumentou muito", acrescentou Mead.

A candidata democrata segue à frente na generalidade das sondagens, no voto nacional, mas no sistema norte-americano, que funciona por colégio eleitoral, um pequeno número de Estados fortemente disputados pelos dois partidos faz pender a balança para um lado ou outro, e nestes um pequeno número de votos poderá decidir o vencedor.

O académico norte-americano sublinhou ainda que a campanha de Harris tem analisado as sondagens nestes Estados para alterar a sua estratégia e "manifestar a sua tristeza" relativamente à situação do povo palestiniano, "sem nunca prometer grandes mudanças" na sua política externa.

Walter Russell Mead é Distinguished Fellow em estratégia e estadismo no Hudson Institute Strategy and Statesmanship e professor de relações internacionais e humanidades no Bard College. Foi também galardoado com o Prémio Benjamin Franklin 2012 do Foreign Policy Research Institute pelo seu trabalho sobre a política externa americana.

Mead esteve em Portugal a convite do Clube de Lisboa para participar no painel "A Guerra como extensão da Geopolítica", durante a 6ª Conferência de Lisboa, onde foram discutidos vários desafios à escala global, desde as alterações climáticas ao rearmamento.

A corrida presidencial norte-americana, que culminará a 05 de novembro, decorre em circunstâncias extremamente renhidas, marcadas por um ambiente de polarização e tensões políticas, elevado custo de vida e, mais recentemente, pela devastação causada pelos últimos furacões Helene e Milton no sul do país.

Mead criticou ainda a inexperiência de Kamala Harris no mundo da política internacional, que terá de ser aprendida "no terreno", admitindo que "sentir-se-ia muito melhor" se a candidata democrata "nomeasse algumas pessoas (...) muito, muito competentes, com bons instintos e muita experiência".

Mead enalteceu, por outro lado, as capacidades de negociação de Donald Trump, o candidato republicano, por se tratar de um "político mais realista, com um bom faro para o poder, uma compreensão instintiva de quem é forte e de quem é fraco, o que significa que por vezes consegue ver vantagens que outros não conseguem".

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