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"Apoiar e reforçar a classe média". As prioridades de Kamala Harris na Casa Branca

por Cristina Sambado - RTP
Hunter D. Cone

Na quinta-feira, naquela que foi a primeira entrevista desde que se tornou candidata, concedida à CNN internacional, Kamala Harris afirmou que a sua maior prioridade ao assumir o cargo seria "apoiar e reforçar a classe média".

Questionada sobre qual seria a sua prioridade para o primeiro dia na Casa Branca, caso seja eleita, Kamala Harris focou-se na economia e em fazer a classe média prosperar através da implementação de várias propostas políticas, como reduzir os preços dos produtos alimentares, investir em pequenas empresas e na família norte-americana, e tornar mais acessível o acesso à habitação.

Através de políticas que incluem o aumento do crédito fiscal para crianças, a redução da subida dos preços dos bens de consumo diário e o aumento do acesso a habitação a preços acessíveis”, esclareceu.

A candidata democrata aproveitou para elogiar o progresso económico alcançado sob o atual Governo de Joe Biden, que sucedeu a Trump e que chegou à Casa Branca num momento em que a pandemia de covid-19 avançava pelo país.

No entanto, Harris reconheceu que “os preços, em particular dos alimentos, ainda estão muito altos”, uma situação que levou uma grande parte dos norte-americanos a mostrar descontentamento.

Na entrevista exclusiva à jornalista da CNN, Dana Bash, a atual vice-presidente, que se tornou a primeira mulher afro-indiana-americana a ser nomeada por um dos dois grandes partidos dos EUA às presidenciais, mostrou-se aberta a ter um republicano na administração caso vença as eleições de 5 de novembro.

“Passei a minha carreira a convidar à diversidade de opiniões”, afirmou. “Penso que é importante ter pessoas à mesa, quando estão a ser tomadas algumas das decisões mais importantes, com pontos de vista e experiências diferentes. E penso que seria benéfico para o público americano ter um membro do meu gabinete que fosse republicano”.
Acusações a Donald Trump

Kamala Harris acusou o adversário republicano e ex-Presidente, Donald Trump, de promover uma agenda que visa minar "o caráter e a força" dos norte-americanos e "dividir a nação".

"Penso que as pessoas estão prontas para virar a página", declarou Harris, na Geórgia, ao lado de Tim Walz, o governador de Minnesota e candidato a vice-presidente dos Estados Unidos, na primeira entrevista conjunta de ambos desde que se tornaram os nomeados democratas às presidenciais.

Quando questionada sobre os comentários do candidato republicano, Donald Trump de que “por acaso se tornou negra” nos últimos anos. Harris foi perentória: “O mesmo velho e cansado manual”, afirmou. “Próxima pergunta, por favor”.
Segurança nas fronteiras

Kamala Harris afirmou ainda que, se for eleita, irá garantir que há segurança nas fronteiras dos Estados Unidos, e que a lei é cumprida. Na entrevista, acusou ainda Donald Trump de ter impedido a aprovação da lei que garantia mais efetivos para o corpo de guardas fronteiriços. “Foi redigida uma proposta de lei, que nós apoiámos, que eu apoio, e Donald Trump soube desta proposta de lei que teria contribuído para a segurança da fronteira, e como ele acreditava que não o beneficiaria politicamente, disse aos seus partidários no Congresso para não a apoiar, inviabilizando-a”, afirmou.

"Uma lei de segurança que colocaria 1.500 agentes na fronteira", acrescentou.

Já sobre a imigração, um dos assuntos mais utilizados pela campanha republicada para atacar Harris, a democrata, de 59 anos, admitiu que deve haver consequências para quem entre ilegalmente em território norte-americano.

Temos leis que devem ser seguidas e aplicadas para lidar com pessoas que cruzam a nossa fronteira ilegalmente, e deve haver consequências. E sejamos claros, nesta corrida, sou a única pessoa que processou organizações criminosas transnacionais que traficam armas, drogas e seres humanos”, advogou a ex-procuradora.

“Sou a única pessoa nesta corrida que realmente serviu um Estado fronteiriço como procuradora-geral para fazer cumprir as nossas leis, e eu faria cumprir as nossas leis como Presidente daqui para a frente. Reconheço o problema", assumiu.
Guerra no Médio Oriente

Um dos temas mais sensíveis na campanha democrata é o forte apoio a Israel na guerra na Faixa de Gaza, com milhares de norte-americanos a acusarem o Governo de Biden e Harris de cumplicidade no genocídio do povo palestiniano.

Kamala Harris voltou a apoiar a solução dos dois Estados, mas mantem a posição de que Israel tem direito a defender-se, repetindo que um cessar-fogo deve ser alcançado.

“Um acordo [de cessar-fogo] é não só a coisa certa a fazer para acabar com esta guerra, mas abrirá caminho a muita coisa que tem de acontecer a seguir. Continuo empenhada, desde o dia 8 de outubro, no que temos de fazer para chegarmos a uma solução de dois Estados", defendeu.
Para a Kamala Harris a situação na Faixa de Gaza passa por uma situação em que “Israel fique seguro, e da mesma maneira, os palestinianos tenha segurança, autodeterminação e dignidade".
A desistência de Joe Biden

A jornalista da CNN quis também saber como é que Biden havia comunicado a Harris que iria desistir da reeleição, com a vice-presidente a contar que foi por telefone e que o atual Presidente ofereceu imediatamente apoio à sua candidatura.

"Eu sirvo com o Presidente Biden há quase quatro anos. E eu digo: é uma das maiores honras da minha carreira, de verdade. Ele importa-se profundamente com o povo norte-americano. Ele é tão inteligente e leal ao povo norte-americano. E eu passei horas e horas com ele, seja na Sala Oval ou na Sala de Crise. Ele tem a inteligência, o comprometimento (…) e disposição que eu acho que o povo norte-americano merece no seu Presidente", afirmou, negando arrepender-se de ter insistido que Biden estaria apto para mais quatro anos de Governo.
Alterações climáticas

Kamala Harris referiu ainda os seus esforços para combater as alterações climáticas e ao apoio ao Green New Deal, uma proposta democrata para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, como algo que continua a ser um valor inabalável quando pressionada sobre a mudança das suas posições políticas.

Sempre acreditei, e trabalhei para isso, que a crise climática é real, que é uma questão urgente”, frisou.

A vice-presidente destacou o trabalho da administração Biden na lei de redução da inflação, que canalizou centenas de milhares de milhões de dólares para as energias renováveis e para os programas de crédito fiscal e de descontos para veículos elétricos.

“Estabelecemos metas para os Estados Unidos da América e, por extensão, para o mundo, sobre quando devemos cumprir certos padrões de redução das emissões de gases de efeito estufa”.

No entanto, a candidata democrata não explicou a sua reviravolta na proibição do fracking - uma técnica de recuperação de gás e petróleo da rocha de xisto utilizada por uma indústria que é particularmente forte no estado da Pensilvânia.
Harris tinha afirmado em entrevista à CNN em 2019, que “não há dúvida de que sou a favor da proibição do fracking . No entanto recuou nessa visão desde que se tornou vice-presidente - até mesmo lançando o voto de desempate no Senado sobre novos arrendamentos de fracking.
Na entrevista à CNN, na quinta-feira, Kamala Haris revelou que: “Como presidente, não vou proibir fracking ”.

A entrevista foi gravada na tarde de quinta-feira no Kim's Cafe, um restaurante local em Savannah, no importante Estado da Geórgia, e foi transmitida na noite de quinta-feira.

A entrevista deu a Harris a oportunidade de afastar acusações de que estaria a evitar falar em ambientes em que não detinha o controlo, ao mesmo tempo em que conseguiu uma nova plataforma para apresentar mais detalhes da sua campanha antes do debate com Trump, em 10 de setembro.

Desde que Biden abandonou a corrida, em 21 de julho, Harris conversou com alguns repórteres e até com influenciadores digitais, mas este foi o primeiro encontro formal com um meio de comunicação norte-americano.

c/agências
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