O antigo primeiro-ministro guineense Martinho Ndafa Cabi exortou hoje o Presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, a ordenar a reabertura do parlamento, que dissolveu em dezembro passado.
Cabi, militante e antigo vice-presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), falava hoje numa conferência de imprensa em nome de uma organização que lidera denominada "Patriotas para a Salvação da Constituição".
O dirigente disse que voltou ao "combate político", que tinha abandonado em 2012, tendo-se remetido ao silêncio desde então.
Martinho Ndafa Cabi, de quem Sissoco Embaló foi conselheiro quando o antigo dirigente do PAIGC liderou o Governo guineense, entre abril de 2007 a agosto de 2008, desferiu críticas à forma como o seu antigo colaborador está a dirigir a Guiné-Bissau.
O antigo primeiro-ministro questionou os motivos pelos quais os guineenses "devem continuar a ter as liberdades limitadas pelo Estado" e ainda o receio de perguntar "o porquê do fecho do parlamento desde dezembro".
"O Presidente que ordene a reabertura do parlamento, porque ele é quem manda no Ministério do Interior", que mantém uma equipa de agentes de segurança, em permanência, no edifício, disse.
O Presidente guineense dissolveu o parlamento, em dezembro de 2023, alegando a existência de uma grave crise institucional que teria o hemiciclo como o epicentro.
Sissoco Embaló invocou a existência de uma tentativa de golpe de Estado para justificar a sua decisão.
Martinho Ndafa Cabi afirmou que Umaro Sissoco Embaló "derrubou o parlamento, duas vezes" desde que é Presidente da Guiné-Bissau "para esconder o acordo de petróleo" assinado com o Senegal.
O parlamento guineense denunciou, em dezembro de 2021, um alegado acordo de partilha de hidrocarbonetos, assinado entre Embaló e o então Presidente do Senegal, Macky Sall.
O acordo denunciado, entretanto, pelo parlamento guineense, previa que a partilha daqueles recursos, em caso de exploração na chamada Zona Comum entre os dois países, daria 70% para o Senegal e 30% para a Guiné-Bissau.
Martinho Ndafa Cabi afirmou que a sua organização "irá atrás deste acordo" para a descoberta da verdade e acusou a classe política guineense de "andar no negócio da droga desde os anos 1980".
"A classe política guineense é maior traficante de droga na Guiné-Bissau, não os militares. Eu disse isso até nas Nações Unidas quando fui primeiro-ministro", referiu Ndafa Cabi.
Para provar a sua acusação, o ex-primeiro-ministro disse que basta avaliar as casas construídas pelos políticos e as dos militares, bem como as viaturas que cada classe utiliza.
Martinho Ndafa Cabi afirmou ter moral para fazer as acusações que faz e desafiou quem tiver algo que não abone à sua pessoa que o diga publicamente.
"Quando eu fui primeiro-ministro prendi dois aviões que ficaram no aeroporto até se apodrecerem lá", lembrou Cabi.
Em julho de 2008, um avião proveniente de um país da América Latina com destino à Europa aterrou no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, de Bissau, alegadamente com avaria mecânica.
Dias depois, um outro aparelho aterrou em Bissau, supostamente com mecânicos para reparar o aparelho com problemas.
Na inspeção de rotina, as autoridades militares acabaram por descobrir que o aparelho com "problemas mecânicos" continha a bordo cerca de 500 quilogramas de cocaína. O avião ficou retido, seguindo-se, dias depois, um outro.
As duas aeronaves foram confiscadas pelo Estado guineense e ainda se encontram nas pistas do aeroporto Osvaldo Vieira, embora em avançado estado de degradação.