O general croata Ante Gotovina, suspeito de crimes contra a humanidade e detido em Espanha, será transferido sábado para a cidade holandesa de Haia, indicaram hoje fontes policiais.
As mesmas fontes referiram que Gotovina será transferido para custódia do Tribunal Penal Internacional (TPI) num avião militar espanhol que deverá partir durante a manhã da base militar de Torrejón de Ardoz, nos arredores de Madrid.
Gotovina, detido quarta-feira à noite nas Canárias, foi apresentado na tarde de quinta-feira a um juiz espanhol, que o informou das acusações que pendem sobre ele e determinou a sua entrega imediata ao TPI para a ex- Jugoslávia sem ser necessário um processo de extradição.
Em conferência de imprensa hoje, o ministro do Interior espanhol, José António Alonso revelou que Gotovina viajou por sete países em três continentes com o mesmo passaporte falso que tinha na altura da sua detenção.
O passaporte falso, em nome de Kristian Horuat, tinha registos de entradas no Tahiti, Argentina, China, Chile, Rússia, República Checa e Ilhas Maurício, sendo este o mais recentes dos vistos, com data de 25 de Novembro.
No quarto do hotel onde Gotovina estava hospedado foi igualmente encontrado um segundo passaporte falso que demonstra que o general croata tinha "um elevado nível de mobilidade" pelo mundo.
A operação de detenção começou com um aviso da Interpol à Polícia espanhola, que confirmou que no passado mês de Outubro o militar tinha estado alojado durante pelo menos dois dias em hotéis das Ilhas Canárias.
Os agentes centraram por isso a operação de busca nas Canárias, tendo detectado Gotovina, registado sob nome falso num hotel, acabando por o deter alguns dias depois quando jantava com outro homem, ainda não identificado, que estava igualmente sob observação policial.
No quarto foram encontrados 12 mil euros em notas de 500 euros e um computador portátil.
O general croata Ante Gotovina, 40 anos, que está actualmente detido na cadeia de Soto del Real, nos arredores da capital espanhola, é um dos alegados criminosos de guerra mais procurados pelas suas acções na ex-Jugoslávia.
É acusado de responsabilidade, entre outros crimes, pela morte de 150 civis sérvios e pela deportação forçada de 200 mil pessoas na região de Krajina.
O militar era, a par dos ex-líder sérvio Radovan Karadzic e do general Ratko Mladic, o alegado criminoso de guerra mais procurado pelo TPI para a ex-Jugoslávia. É acusado nomeadamente de, entre Agosto e Novembro de 1995, ter comando a "operação Tormenta".
Gotovina foi detido na noite de quarta-feira em Tenerife, um local que segundo fontes citadas pela imprensa espanhola teria já visitado em Outubro.
Em declarações à agência Efe, o ex-ministro jugoslavo dos Negócios Estrangeiros Budmir Loncar (croata) afirmou hoje que a detenção de Gotovina ajudará o seu país a aproximar-se mais da União Europeia e permitirá "eliminar obstáculos e suspeitas entre a UE e a Croácia".
Loncar está em Granada a participar no seminário "Mediterrâneo: encontro e aliança de civilizações", um encontro de dois dias que começou hoje.
O actual conselheiro do Presidente croata afirmou ainda que a detenção é igualmente positiva "do ponto de vista humano", já que a família de Gotovina há muito que não tem qualquer contacto com o general.
Referindo-se às manifestações de apoio a Gotovina na Croácia, considerou que estas não traduzem a opinião maioritária da população, mas admitiu que alguns sectores da sociedade croata estão "descontentes" com as dúvidas levantadas pela UE relativamente à cooperação do país com o Tribunal Penal Internacional.