Analistas apostam em fracasso de invasão chinesa de Taiwan com custos para EUA

por Cristina Sambado - RTP
Os especialistas testaram 24 cenários diferentes focados na tentativa chinesa de invadir Taiwan em 2026 Ritchie B. Tongo - EPA

Uma eventual invasão chinesa de Taiwan seria um fracasso, caso os Estados Unidos ajudassem a defender a ilha. No entanto, este cenário teria uma elevado custo para os militares norte-americanos e todos os participantes sofreriam grandes perdas num potencial conflito, segundo especialistas.

Especialistas militares reunidos pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais concluem que todos os prováveis participantes diretos numa guerra – Estados Unidos, China, Taiwan, e Japão – sofreriam “grandes” perdas.

Provavelmente, mísseis chineses destruiriam bases aéreas norte-americanas no Japão e até Guam, afundariam dois porta-aviões dos EUA e entre dez a 20 contratorpedeiros e cruzadores, quando a invasão tivesse início.


Contudo, a própria força chinesa seria destruída antes mesmo de ocupar qualquer parte significativa de Taiwan e, por fim, seria impedida de atingir o objetivo de invadir a capital da ilha, Taipé, segundo a maioria dos cenários testados. Este quadro, assim como os danos sofridos em alvos no continente por contra-ataques taiwaneses, poderiamm desestabilizar o Governo do Partido Comunista Chinês, avança o relatório citado pelo jornal britânico The Guardian.

“Chegámos a duas conclusões. Primeiro, na maioria das circunstâncias, é impossível que a China tenha sucesso nos seus objetivos operacionais ou ocupe Taipé. Segundo, o custo de guerra seria alto para todos os envolvidos, certamente os Estados Unidos”, afirmou ao jornal Eric Heginbotham, especialista em segurança do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
O jogo de guerra

Os especialistas testaram 24 cenários diferentes focados na tentativa chinesa de invadir Taiwan em 2026, com os EUA a desempenharem um papel crucial. Sem o apoio de Washington, a ilha seria conquistada pelo Exército de Libertação do Povo em três meses ou menos.

O jogo de guerra presumia que a invasão começaria com um bombardeamento inicial de Pequim que destruiria a maior parte da Marinha e da Força Aérea de Taiwan em poucas horas. A Marinha chinesa cercaria a ilha e começaria a transportar uma força de desembarque de milhares de soldados e os seus equipamentos pelo Estreito de Taiwan.

No que os especialistas chamam de cenário mais provável, o exército de Taiwan atolaria os invasores na costa.


“Enquanto isso, submarinos, bombardeiros e aviões de caça dos EUA, muitas vezes reforçados pelas forças nipónicas, paralisariam rapidamente a frota anfíbia de Pequim”, teoriza o relatório.

Segundo o documento, “os ataques da China às bases japonesas e aos navios dos EUA não podem alterar o resultado: Taiwan permanece autónomo”.

Matthew Cancian, do US Naval War College, defende que há variáveis cruciais das quais esse sucesso depende.

Primeiro, Taiwan deve estar determinado a replicar. Em segundo lugar, o Japão deve dar autorização para os Estados Unidos lançarem contra-ataques a partir das suas bases.  Sem isso, “a intervenção dos EUA não seria suficiente para manter a autonomia de Taiwan”, defende Cancian.

Nesses casos, as perdas humanas seriam elevadas: cerca de dez mil nas primeiras semanas de guerra.

Os especialistas em conflitos levantaram importantes enigmas, como se os EUA arriscariam uma guerra nuclear atacando diretamente a China.

Cancian questiona também se as populações norte-americana e japonesa estariam preparadas para aceitar baixas decorrentes da defesa de Taiwan, frisando que “as baixas americanas poderiam prejudicar a capacidade de Washington de projetar poder global por muito tempo”.

“Os Estados Unidos podem obter uma vitória de Pirro, sofrendo mais a longo prazo do que os derrotados chineses”, acrescenta o relatório.

O documento frisa ainda que “tanto Taiwan como os militares norte-americanos necessitariam de aumentar as forças militares, concentrando-se em armas mais eficazes, para criar uma maior dissuasão a uma invasão de Pequim”.

“Apesar da retórica sobre a adoção de uma estratégia de porco-espinho, Taiwan ainda gasta a maior parte do seu orçamento em navios e aviões dispendiosos que a China destruirá rapidamente”, remata o relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
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