Amnistia Internacional quer investigação a possíveis crimes de guerra

por Lusa

A Amnistia Internacional (AI) pediu hoje que sejam investigados como alegados crimes de guerra dois bombardeamentos por Israel em Gaza nos quais morreram 46 civis, 20 dos quais menores.

Os ataques israelitas de 19 e 20 de outubro atingiram a igreja ortodoxa grega de São Porfírio, onde cerca de 450 cristãos deslocados se refugiavam na cidade de Gaza, e uma casa num campo de refugiados de Nuseirat, no centro do enclave palestiniano.

Na lista de mortos nestes dois atentados - que a AI diz terem sido "ataques indiscriminados ou ataques diretos contra civis" -- inclui-se um bebé de três meses como a vítima mais jovem e uma mulher de 80 anos.

A AI analisou imagens de satélite e material audiovisual para verificar e localizar geograficamente a localização precisa dos ataques, tendo entrevistado ainda nove sobreviventes, duas testemunhas, um familiar das vítimas e dois líderes religiosos.

A organização não governamental recordou que o Exército israelita apagou um vídeo em que afirmava que a Igreja Ortodoxa tinha um centro de comando e controlo do grupo islamita Hamas, no qual não apresentava provas das suas afirmações.

"Os responsáveis pela igreja declararam publicamente que centenas de civis estavam ali refugiados antes do ataque, pelo que as Forças Armadas deveriam saber da sua presença. A decisão (...) de avançar com um ataque contra um local religioso conhecido e o local onde havia civis deslocados foi imprudente e, portanto, constitui um crime de guerra", argumenta a AI.

A diretora do departamento de Investigação, Advocacia e Política Global da AI, Erika Guevara Rosas, garantiu que estes ataques "mortais e ilegítimos" provam "os efeitos devastadores da ofensiva sem precedentes de Israel" contra o enclave palestiniano.

Por isso, a organização instou o Tribunal Penal Internacional (TPI) a tomar "medidas imediatas concretas" para promover a investigação sobre possíveis crimes de guerra nos territórios palestinianos.

"A Amnistia Internacional não encontrou qualquer indicação de que houvesse alvos militares nos locais onde ocorreram os dois ataques, nem de que as pessoas nos edifícios fossem alvos militares, levantando preocupações de que estes ataques tenham sido ataques diretos contra civis ou contra propriedade civil", pode ler-se num comunicado hoje divulgado pela AI.

O movimento islamita Hamas lançou, em 07 de outubro, um ataque surpresa contra Israel, com milhares de foguetes e homens armados, fazendo mais de 1.200 mortos e 240 reféns.

Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e é classificado como terrorista pela UE e pelos Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo em Gaza e impondo um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.

A ONU indicou que mais de dois terços dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza foram deslocados pela guerra, tendo a maior parte fugido para sul.

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