A Amnistia Internacional (AI) lançou hoje uma campanha em defesa da ativista iraniana Narges Mohammadi, Nobel da Paz em 2023, atualmente detida e que sofre represálias há mais de 14 anos por defender os direitos humanos no Irão.
Num comunicado, divulgado na véspera do Dia Internacional da Mulher, a organização de defesa e promoção dos direitos humanos, com sede em Londres, apela à comunidade internacional para que renove pressão sobre Teerão para a "libertação imediata e incondicional" da ativista, bem como de "todas as outras mulheres e homens que foram presos injustamente simplesmente por exercerem pacificamente os seus direitos humanos".
"O reconhecimento [de Narges Mohammadi] pelo comité do Nobel da Paz envia uma mensagem clara às autoridades iranianas de que a sua repressão aos críticos pacíficos e aos defensores dos direitos humanos não permanecerá incontestada", sublinhou a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard.
Nascida a 21 de abril de 1972 em Zanjan, no noroeste do Irão, Mohammadi estudou Física antes de se tornar engenheira e, simultaneamente, começou a fazer jornalismo, trabalhando para jornais reformistas, onde começou a contestação ao regime teocrata do ayatollah Ali Khamenei.
Na década de 2000, juntou-se ao Centro para os Defensores dos Direitos Humanos, fundado pela advogada iraniana Shirin Ebadi (também vencedora do Prémio Nobel da Paz em 2023), e do qual é hoje vice-presidente, lutando, entre outras causas, pela abolição da pena de morte.
Mohammadi foi condenada a várias penas de prisão injustas, nomeadamente a 16 de novembro de 2021, quando foi violentamente detida ao participar numa cerimónia em homenagem a Ebrahim Ketabdar, morto pelas forças de segurança durante protestos que decorreram em todo o país em novembro de 2019, lembra a AI.
"Após a detenção, foi mantida em isolamento prolongado durante 64 dias, tendo sido sujeita a tortura e outros maus-tratos que lhe causaram grande angústia e sofrimento, incluindo falta de ar, ao manterem luzes intensas acesas 24 horas por dia, limitando severamente o seu acesso ao ar fresco e à luz natural a apenas três vezes por semana, durante 20 minutos de cada vez e mantendo-a em isolamento quase total, sem contacto significativo com outros prisioneiros", denunciou a Amnistia.
A 04 de janeiro de 2022, Narges Mohammadi compareceu perante o Tribunal Revolucionário em Teerão para ser julgada num novo processo que, segundo a AI, "foi manifestamente injusto: durou apenas cinco minutos e foi-lhe negado o acesso a um advogado antes e durante o julgamento". A 15 de janeiro de 2022, foi informada de que o Tribunal a tinha condenado a oito anos e dois meses de prisão por acusações relacionadas com a segurança nacional, bem como a 74 chicotadas.
Mais recentemente, num outro processo movido no início de agosto de 2023, o Tribunal Revolucionário de Teerão condenou-a a mais um ano de prisão por "espalhar propaganda contra o sistema" devido a documentos que escreveu no interior da prisão e que se tornaram públicos, pormenorizando a violência sexual contra mulheres manifestantes detidas durante a revolta "Mulher Vida Liberdade".
Só após ter sofrido uma série de ataques cardíacos, a 16 de fevereiro de 2022, é que Mohammadi foi transferida para um hospital, onde foi submetida a cirurgia cardíaca de emergência. Contra o parecer médico, e antes de ter recuperado, a 19 de fevereiro de 2022 as autoridades levaram-na de volta para a prisão, onde ainda se encontra.
Citada pela AI, Narges Mohammadi define como objetivo do seu ativismo impor os direitos humanos no Irão, além de "alcançar a paz".
"Sou uma mulher do Médio Oriente, de uma região que, apesar de ser herdeira de uma civilização rica, está atualmente presa na guerra e nas chamas do terrorismo e do extremismo", sustenta.