Em direto
Incêndios em Portugal. A situação ao minuto

"Ameaça". Polónia preocupada com acolhimento do Grupo Wagner na vizinha Bielorrússia

por Graça Andrade Ramos - RTP
"Ameaça". Polónia preocupada com acolhimento do Grupo Wagner na vizinha Bielorrússia Alina Smutko - Reuters

A presença do grupo paramilitar de Evgueny Prigozhin na Bielorrússia é "uma ameaça potencial" para os países vizinhos, membros da frente leste da NATO, considerou esta quarta-feira o Presidente da Polónia, Andrzej Duda, à margem de uma visita a Kiev, Ucrânia.

"É difícil para nós excluir que a presença do Grupo Wagner na Bielorrússia possa constituir uma ameaça potencial para a Polónia, que partilha uma fronteira com a Bielorrússia" referiu Duda em conferência de imprensa ao lado dos seus homólogos ucraniano e lituano.

Os Wagner constituem igualmente uma ameaça para a Lituânia "e, potencialmente, para a Letónia, ela também vizinha da Bielorrússia", acrescentou o polaco.O Grupo Wagner aceitou mudar as suas bases para a Bielorrússia depois de se ter rebelado contra as chefias militares russas no passado fim-de-semana e o país de acolhimento confirmou terça-feira a chegada de Prigozhin ao território.

Andrzej Duda questionou igualmente o "objetivo da relocalização" dos mercenários.

"Para que servem realmente as forças do Grupo Wagner, mais vale dizer o exército russo, precisamente na Bielorrússia?" perguntou.

"Destinam-se elas a ocupar a Bielorrússia ou a criar uma ameaça suplementar a partir do norte para a Ucrânia, ameaçando este país com um ataque potencial a partir de território bielorrusso? Ou é uma nova forma de ameaça potencial precisamente contra os nossos países da NATO, contra a Polónia?", inquietou-se o polaco.
Nem "um pé" Wagner na Polónia ou na Lituânia
O chefe de Estado ucraniano aconselhou por seu lado a Aliança não hesitar na retórica.

"A NATO deve dizer de forma unânime às sociedades polacas e lituanas que se um pé de um único homem das Wagner tocar o território da Lituânia ou da Polónia, então todos os combatentes do grupo serão destruídos, onde quer que se encontrem", afirmou Volodymyr Zelensky.
A próxima cimeira da NATO, marcada para Vilnius em 11 de julho, "é uma plataforma excelente para passar uma tal mensagem", considerou.

O secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, já avisou que a NATO está preparada para ataques de mercenários, numa altura em que Letónia e Lituânia lhe solicitaram o reforço do controlo das fronteiras no leste europeu.

Prigozhin acusou sexta-feira passada a cúpula militar do Kremlin de atacar as bases do seu grupo na Ucrânia e avançou em rebelião sobre a Rússia, tendo conquistado duas cidades e abatido seis aeronaves russas num período de 24 horas, antes de recuar e de aceitar o exílio na Bielorrússia em troca de uma amnistia generalizada.

Após meses de críticas de Prigozhin à falta de apoios militares, Moscovo preparava-se para terminar contratos com o Grupo Wagner na Ucrânia, propondo alistar os mercenários nas fileiras do seu exército regular já em julho. O líder dos paramilitares justificou a rebelião como tentativa de garantir a sobrevivência do grupo.

Zelensky referiu esta quarta-feira que alguns membros Wagner permanecem na Ucrânia, mas sublinhou a convicção de que o exército ucraniano tem a situação no norte do país sob controlo.
Paris quer acções contra "grupo criminoso e mafioso"
A França apelou aos países associados à Wagner para se desvincularem da grupo paramilitar russo e frisou estar pronta a impor sanções adicionais pelos crimes que a organização é acusada de cometer na Ucrânia e em África.

"Continuaremos a impor sanções europeias rigorosas pelas ações [do Grupo Wagner] na Ucrânia e em África", garantiu Olivier Becht, ministro delegado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, quando questionado pelo Senado.

"Dizemos aos países que escolheram a Wagner, e que talvez se arrependam, que é altura de se dissociarem dela, porque nada de bom pode sair do caos que Wagner se especializou a criar", declarou o ministro. Becht criticou o que considerou ser "um grupo criminoso e mafioso que tem entre os seus métodos a violência, a predação, a manipulação, o ajuste de contas".

O governante francês observou também que, onde quer que o Grupo Wagner esteja presente, "a ameaça jihadista aumenta", apesar de se afirmar que estava tudo sob o seu controlo, "seja na Síria, na Líbia, em Moçambique, no Mali ou na República Centro-Africana".

Descrevendo o Grupo Wagner como "um verdadeiro flagelo", cujo "único objetivo é pilhar riquezas em detrimento dos Estados e das populações", Becht garantiu que a França "não ficará de braços cruzados".

Terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, anunciou que os Estados Unidos tencionam tomar ainda na semana em curso "novas medidas" contra as atividades do Grupo Wagner em África.
Sanções norte-americanas
O Departamento do Tesouro norte-americano anunciou por seu lado a imposição de sanções a empresas que acusa de financiarem o Grupo Wagner através de transações de ouro ilegais.

Em comunicado, revelou que impôs sanções a quatro empresas dos Emirados Árabes Unidos, da República Centro Africana e da Rússia, acusadas de ter laços ao Grupo Wagner e ao seu líder, Evgueny Prigozhin, e de auxiliar a milícia a sustentar-se e a expandir-se, tanto na Ucrânia como nalguns países do Norte de África.

"O grupo Wagner financia as suas operações brutais em parte pela exploração de recursos naturais em países como a República Centro Africana e o Mali", referiu o cimunicado de Brian Nelson, vice-secretário do Tesouro para as Informações Financeiras e Terrorismo.

"Os Estados Unidos irão continuar a visar os fluxos de rendimentos do Grupo Wagner para diminuir a sua expansão e a violência em África, Ucrânia e onde for necessário".

O Grupo Wagner não reagiu às alegações norte-americanas.

c/ agências
PUB