A principal rede de organizações ambientais do Brasil descreveu como um "recuo vergonhoso" a proposta da Comissão Europeia de adiar por um ano a entrada em vigor da legislação para combater a desflorestação.
"Num momento em que a América do Sul tosta sob o efeito da pior seca em décadas e o Brasil é consumido por queimadas, a Europa abre mão deliberadamente de um instrumento que podia ajudar a reduzir a pressão sobre os ecossistemas naturais e as emissões de carbono por desmatamento", lamentou o Observatório do Clima, na quarta-feira.
As mais de 100 organizações que compõem a rede indicaram que, para os consumidores europeus, o adiamento significa continuar a colocar "crime ambiental no próprio prato", enquanto para aqueles que destroem as florestas é "um recado de que o crime compensa", denunciou o Observatório em comunicado.
Os ambientalistas alertaram que a proposta coloca em risco a redução da desflorestação ligada às matérias-primas exportadas para a Europa e "as graves violações de direitos humanos que ocorrem em territórios indígenas e de comunidades tradicionais, cujas terras são invadidas e destruídas por atividades predatórias".
O Observatório do Clima lembrou que em setembro alertou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para as manobras do governo do Brasil para atrasar a implementação da lei a favor do setor agrícola.
No mês passado, o ministro da Agricultura do Brasil, Carlos Fávaro, pediu ao comissário europeu para a Agricultura e Desenvolvimento Rural, Januz Wojciechowski, a suspensão da lei e "uma revisão da abordagem punitiva aos produtores".
Na quarta-feira, a Comissão Europeia propôs o adiamento por um ano da entrada em vigor da lei, "tendo em conta as reações recebidas dos parceiros internacionais sobre o seu estado de preparação".