Alvo de mandado do TPI. Netanyahu promete "continuar a defender" Israel
Após mais de um ano de conflito em Gaza, o Tribunal Penal Internacional enfureceu Israel ao emitir, na quinta-feira, mandados de captura sem precedentes contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o seu ex-ministro da Defesa Yoav Gallant por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
“Nenhuma decisão anti-israelita escandalosa nos impedirá - e particularmente a mim - de continuar a defender o nosso país, seja de que forma for”, garantiu Benjamin Netanyahu aos seus concidadãos, numa mensagem na noite de quinta-feira.
“O Tribunal Penal Internacional em Haia, que foi fundado para defender a humanidade, transformou-se num inimigo da humanidade. Este tribunal tendencioso decidiu emitir mandados de detenção contra mim e contra o anterior ministro Yoav Gallant, com uma acusação infundada por termos, alegadamente, cometido crimes contra a humanidade, quando a verdade revela absolutamente o contrário”, considerou o primeiro-ministro israelita. Para Netanyahu, a decisão do TPI "é a bancarrota moral" e afeta o direito natural das democracias se defenderem de um terror selvagem. O mesmo tribunal que agora nos acusa de crimes fictícios, ignora os verdadeiros crimes de guerra, os chocantes crimes que foram perpetrados contra nós”.
O líder israelita tinha anteriormente denunciado a decisão como “antissemita” e disse ser vítima de um novo processo Dreyfus, nome dado em homenagem ao capitão francês de origem judaica que foi condenado por espionagem no final do século XIX, antes de ser exonerado e reabilitado.
Já Yoav Gallant considerou-a “um precedente perigoso” que “encoraja o terrorismo”, enquanto o Presidente israelita Isaac Herzog a condenou como um “dia negro para a justiça” e para a “humanidade”.
A Autoridade Palestiniana, por seu lado, congratulou-se com um “sinal de esperança”.
Também descrita como “escandalosa” por Joe Biden, esta decisão restringe os movimentos dos dois dirigentes israelitas. Qualquer um dos 124 Estados membros do tribunal seria teoricamente obrigado a prendê-los se entrassem no seu território, apesar de dezenas de países, incluindo a Rússia, os Estados Unidos e a China, não reconhecerem a jurisdição do TPI.
O movimento radical palestiniano saudou a acusação dos dirigentes israelitas como um “passo importante para a justiça”, sem mencionar o mandado de captura anunciado simultaneamente para o seu líder militar.
As alegações do TPI
Os mandados de captura emitidos pelo TPI são “sem precedentes, justificados e tardios”, disse o advogado especializado em crimes de guerra Reed Brody.
O Tribuna Penal Internacional afirmou ter encontrado “motivos razoáveis” para acreditar que Netanyahu e Gallant são “criminalmente responsáveis” pelo crime de guerra da fome como método de guerra, bem como pelos crimes contra a humanidade de homicídio, perseguição e outros atos desumanos.
De acordo com o TPI, os dois homens “privaram intencionalmente e com conhecimento de causa a população civil de Gaza de coisas essenciais à sua sobrevivência”, em particular alimentos, água, medicamentos, combustível e eletricidade.
Nem os Estados Unidos nem Israel são membros do TPI, órgão responsável por processar e julgar indivíduos
acusados de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Fundada em 2002, a instituição conta atualmente com 124 Estados-membros.
Foi emitido outro mandado de captura para Mohammed Deif, apesar de, segundo Israel, ter sido morto num ataque a 13 de julho no sul de Gaza. O Hamas nega a sua morte.
“Isto significa que as vozes das vítimas estão a ser ouvidas”, afirmou Yael Vias Gvirsman, que representa as famílias de 300 vítimas israelitas do ataque do Hamas de 7 de outubro.
A ofensiva militar israelita contra o Hamas na Faixa de Gaza causou a morte de pelo menos 44 056 palestinianos, segundo os números do Ministério da Saúde do governo do Hamas, que não faz distinção entre civis e combatentes.
A 7 de outubro, os comandos do Hamas atacaram sem precedentes o território israelita, causando a morte de 1.205 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelitas.
Israel afirma ter matado cinco combatentes do Hamas em Beit Lahia
O exército israelita anunciou esta sexta-feira que matou cinco combatentes do movimento islamita palestiniano Hamas, incluindo dois comandantes, durante o seu ataque na zona de Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza, na noite de quarta-feira.
Em comunicado, o exército e o Shin Bet (serviços secretos internos) afirmaram ter “eliminado cinco terroristas do Hamas, incluindo um comandante da companhia Noukhba e outro comandante desta companhia”.O exército israelita identificou os dois comandantes mortos como Jihad Mahmoud Yehia Kahlout e Muhammad Riyad Ali Okel, “dois terroristas que comandaram a invasão do território israelita a 7 de outubro e dirigiram os massacres e os raptos na estrada de Mefalsim”.
Estes dois homens foram responsáveis, a 7 de outubro de 2023, por “assassínios e raptos na zona de Mefalsim”, um dos kibutzes visados no ataque sem precedentes do movimento islamita no sul de Israel, segundo o comunicado.
Na quarta-feira à noite, um ataque na zona de Beit Lahia e Jabalia (norte) fez dezenas de mortos e desaparecidos, segundo fontes médicas palestinianas.
“Trata-se de dois terroristas que se encontravam entre os líderes dos combates no norte da Faixa de Gaza contra os soldados do exército israelita durante a atual operação na região”, declarou o exército.
Afirmando querer impedir que os combatentes do Hamas se reagrupem e se reforcem na zona, o exército israelita lançou no início de outubro uma nova e importante ofensiva no norte da Faixa de Gaza, que já causou mais de mil mortos, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza.
A Defesa Civil palestiniana ainda não forneceu quaisquer números. Por seu lado, o exército israelita, que combate o Hamas, afirma ter tomado todas as precauções para reduzir ao mínimo o número de vítimas civisAtaques nos subúrbios do sul de Beirute
Na outra frente da ofensiva israelita, esta sexta-feira os ataques das forças de Telavive visaram subúrbios da capital do Líbano, reduto do Hezbollah libanês, depois do Israel ter apelado à evacuação, segundo imagens da AFPTV.
Para além dos subúrbios de Beirute, o exército israelita tinha apelado à evacuação de várias zonas do sul do Líbano durante a noite.
Na quinta-feira, os ataques israelitas no vale de Bekaa, reduto do Hezbollah no leste do país, fizeram 40 mortos, segundo o Ministério da Saúde libanês.
Ao fim da tarde, o Ministério anunciou que doze pessoas tinham sido mortas e 50 feridas em ataques no sul do país.
A Agência Nacional de Notícias (ANI) contabilizou 12 ataques nos subúrbios do sul de Beirute, alguns dos quais “muito violentos”, tendo o exército israelita afirmado ter atacado centros de comando e infraestruturas do Hezbollah.
Os ataques foram precedidos de apelos do exército israelita à evacuação de certos bairros.
As imagens da AFPTV mostraram espessas colunas de fumo sobre os subúrbios do sul da capital libanesa, desertos por muitos dos seus habitantes devido aos ataques diários que os têm como alvo desde o final de setembro.
Os ataques do “inimigo israelita” em cinco zonas da região de Baalbeck (leste) custaram a vida a 22 pessoas, informou o Ministério libanês da Saúde.
Segundo a ANI, um ataque contra a aldeia de Makneh, nesta região, causou a morte de pelo menos quatro membros de uma mesma família.
c/ agências
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