Peggy Hicks, diretora do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, afirmou hoje, na Web Summit, em Lisboa, que o desenvolvimento do mundo digital traz novos desafios na aplicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Numa mesa que lançava a pergunta "Precisamos de uma declaração digital dos direitos humanos?", Peggy Hicks admitiu que são "muitos os desafios colocados pelo imparável desenvolvimento tecnológico", mas que ainda assim não considera ser necessária a criação de uma nova Declaração dos Direitos Humanos.
"A declaração que temos está muito bem enquadrada neste campo e é uma ótima base para o que temos de fazer. É tempo de passarmos dos fóruns de debate à ação, pois, sejamos sinceros, esta é uma área que está a ser liderada pelas empresas e que os governos se limitam a seguir. Por isso, defendo que temos de aplicar a declaração que temos com toda a nossa energia."
Brett Solomon, cofundador e diretor executivo da Access Now, salientou que as preocupações com questões relacionadas com a privacidade e segurança "têm colocado em causa a liberdade de expressão" e que, por isso, "a preocupação central de governos, empresas e cidadãos deve ir no sentido de conciliar os direitos humanos com a digitalização", considerando que "o próprio acesso à internet é um direito humano que tem de ser assegurado a todos".
Adrian Lovett, presidente da World Wide Web Foundation, foi outro dos palestrantes e defendeu que antes de sequer pensar em criar uma nova declaração dos direitos humanos, têm de ser feitos esforços por aplicar a existente. Nesta "luta" apontou que os governos devem ser os principais dinamizadores deste processo.
"Devemos lutar por aplicar os direitos humanos `online` como fazemos `offline`. Temos de concentrar aí os nossos esforços, os governos têm um papel fundamental nesta matéria, mas teremos de ser também nós, empresas e cidadãos, a zelar pela proteção dos nossos direitos", disse.
A cimeira tecnológica, de inovação e de empreendedorismo Web Summit nasceu em 2010 na Irlanda e mudou-se em 2016 para Lisboa, devendo permanecer até 2028 na Altice Arena (antigo Meo Arena) e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa.
Nesta terceira edição do evento em Portugal, que termina hoje, eram esperados cerca de 70 mil participantes de mais de 170 países.