A crise climática provocou seis semanas adicionais de dias perigosamente quentes em 2024 para a população, aumentando o impacto mortal das ondas de calor em todo o mundo.
Os habitantes dos Estados insulares das Caraíbas e do Pacífico foram as mais afetados. Muitos suportaram cerca de 150 dias de calor a mais do que teriam suportado sem o aquecimento global, quase metade do ano.
Quase metade dos países do mundo registou pelo menos dois meses de temperaturas de alto risco. Mesmo nos locais menos afetados, como o Reino Unido, os EUA e a Austrália, a poluição por carbono resultante da queima de combustíveis fósseis provocou mais três semanas de temperaturas elevadas.
O agravamento das ondas de calor é a consequência mais mortífera da emergência climática. O fim da queima de carvão, petróleo e gás é vital para impedir que os efeitos se agravem ainda mais, afirmaram os cientistas, prevendo-se que 2024 seja o ano mais quente de que há registo, com emissões de carbono recorde.
Em novembro, a crise climática já tinha provocado dezenas de ondas de calor anteriormente impossíveis, bem como tornado mais graves ou mais prováveis centenas de outros fenómenos meteorológicos extremos. Os investigadores apelaram a que as mortes causadas por ondas de calor fossem comunicadas em tempo real, uma vez que os dados atuais são uma “subestimação muito grosseira” devido à falta de monitorização. É possível que milhões de pessoas tenham morrido devido ao aquecimento global provocado pelo homem nas últimas décadas.
“Os impactos do aquecimento provocado pelos combustíveis fósseis nunca foram tão claros ou devastadores como em 2024 e causaram um sofrimento implacável”, afirmou ao jornal britânico Guardian , Friederike Otto, do Imperial College de Londres e um dos responsáveis da WWA.
Segundo Friederike Otto, “as inundações em Espanha, os furacões nos EUA, a seca na Amazónia e as inundações em África são apenas alguns exemplos. Sabemos exatamente o que temos de fazer para evitar que as coisas piorem: parar de queimar combustíveis fósseis.”
Para Joseph Giguere, técnico de investigação da Climate Central, “em quase todo o planeta, as temperaturas diárias elevadas ameaçam a saúde humana e tornaram-se mais comuns devido às alterações climáticas.”
21 de julho foi um dos dias mais quentes de 2024A nova análise identificou os “dias de calor perigosos” a nível local, calculando a temperatura-limite para os 10 por cento dos dias mais quentes do período 1991-2020. Estes dias estão associados a riscos acrescidos para a saúde.
Em seguida, os investigadores compararam o número de dias que excederam este limiar em 2024 com os de um cenário sem aquecimento global, para calcular quantos dias quentes adicionais foram causados pela crise climática.
Descobriram que a população foi exposta a mais 41 dias de calor extremo, salientando o facto de a crise climática estar a expor milhões de pessoas a temperaturas perigosas durante períodos mais longos do ano.
A Indonésia, onde vivem 280 milhões de pessoas, registou 122 dias adicionais de calor perigoso, tal como Singapura e muitos Estados da América Central.
No Médio Oriente, a população da Arábia Saudita suportou mais 70 dias de calor, num ano em que pelo menos 1.300 peregrinos do Hajj, em Meca, morreram devido ao calor extremo.
O Brasil e o Bangladesh suportaram cerca de 50 dias de calor adicionais, enquanto a Espanha, a Noruega e os países dos Balcãs tiveram mais um mês de temperaturas elevadas.
Cinco mil milhões de pessoas, quase dois terços da população mundial, sofreram temperaturas elevadas, pelo menos duas vezes mais prováveis devido ao aquecimento global, no dia 21 de julho, um dos dias mais quentes do ano.
Furacões e tufões mais frequentes e intensos
Os furacões também foram mais intensos devido à crise climática em 2024.
“As nossas análises mostraram que todos os furacões atlânticos deste ano ficaram mais fortes devido às alterações climáticas e que os furacões Beryl e Milton, ambos de categoria cinco, não teriam atingido esse nível se não fossem as alterações climáticas”, explicou Kristina Dahl, vice-presidente para a ciência da Climate Central.
Uma análise recente da WWA mostrou que uma sequência extraordinária de seis tufões nas Filipinas em 30 dias, que afetou 13 milhões de pessoas, se tornou mais provável e mais grave devido ao aquecimento global.
“Mais um ano devastador de condições meteorológicas extremas demonstrou que não estamos bem preparados para a vida com [o nível atual] de aquecimento. Em 2025, é crucial que todos os países acelerem os esforços de adaptação às alterações climáticas e que as nações ricas disponibilizem fundos para ajudar os países em desenvolvimento a tornarem-se mais resistentes”, defendeu Julie Arrighi, diretora de programas do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
As medidas devem incluir melhores sistemas de alerta precoce, que salvam vidas, e a notificação de mortes por calor, pedem os investigadores.
Para Friederike Otto, “na maioria dos países não há qualquer tipo de informação sobre ondas de calor, o que significa que os números que temos são sempre uma subestimação muito fraca”.
“Se não conseguirmos comunicar de forma convincente que estão a morrer mais pessoas, é muito mais difícil sensibilizar a população para o facto de as ondas de calor serem, de longe, os fenómenos extremos mais mortíferos e de serem os fenómenos extremos em que as alterações climáticas são um verdadeiro fator de mudança”, acrescentou Friederike Otto.