Alterações climáticas podem gerar perdas económicas superiores às da Covid-19, alertam especialistas
As economias dos países mais ricos vão encolher duas vezes mais do que na crise da Covid-19, se os governos não conseguirem lidar com o aumento das emissões de gases de efeito estufa. De acordo com um novo relatório, divulgado esta segunda-feira, as nações do G7 podem perder 8,5 por cento do seu PIB por ano até 2050.
Mas há países que serão ainda mais prejudicados, incluindo a Índia, cuja economia pode encolher cerca de 25 por cento devido ao aumento de temperatura. Também a Austrália vai perder cerca de 12,5 por cento da sua produção e a Coreia do Sul arrisca-se a perder quase um décimo do seu potencial económico.
Por essa razão, a Oxfam apela ao G7 para que estabeleça novas metas climáticas na preparação para a COP26. Os líderes dos países do G7 - Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Canadá, França, Alemanha, Itália - e a União Europeia vão reunir-se, na Cornualha, na próxima sexta-feira para debater a economia global, as vacinas contra a Covid-19, os impostos sobre as empresas e, claro, a crise climática.
O Índice de Economia do Clima, apresentado no relatório, indica que "muitas economias avançadas no hemisfério norte são menos vulneráveis aos efeitos gerais das alterações climáticas, estando menos expostas aos riscos associados e com melhores recursos para lidar com isso". Os EUA, o Canadá e a Alemanha, por exemplo, estão entre os dez países menos vulneráveis aos impactos da crise climática, tanto a nível ambiental e de saúde da população como a nível económico.
Estas descobertas, avisa a Oxfam, fazem sobressair a necessidade de as nações reduzirem as emissões de carbono mais rapidamente.
"A crise climática já está a devastar vidas nos países mais pobres, mas as economias mais desenvolvidas do mundo não estão imunes", apontou no relatório o CEO da Oxfam GB, Danny Sriskandarajah.
"O Governo do Reino Unido tem uma oportunidade única numa geração de liderar o mundo em direção a um planeta mais seguro e habitável para todos nós", acrescentou. "Deve forçar todos os tendões diplomáticos para garantir o resultado mais forte possível no G7 e na COP26, e liderar pelo exemplo transformando promessas em ações e revertendo decisões autodestrutivas, como a proposta da mina de carvão em Cumbria e cortes na ajuda internacional".
Já Jerome Haegeli, economista-chefe do grupo Swiss Re, considera que "as alterações climáticas são o risco número um de longo prazo para a economia global, e ficar onde estamos não é uma opção - precisamos de mais progresso por parte do G7".
Isso significa "não apenas obrigações de reduzir o CO2, mas também ajudar os países em desenvolvimento".
Segundo Haegeli, também a distribuição de vacinas contra a Covid-19 é uma forma de ajudar os países em desenvolvimento, "já que as suas economias foram duramente atingidas pela pandemia e precisariam de ajuda para se recuperar num caminho verde, em vez de aumentar os combustíveis fósseis".
Mas este limite está cada vez mais ameaçado, visto que as emissões de gases de efeito estufa devem aumentar drasticamente este ano, para o segundo maior aumento já registado, devido à recuperação da recessão da Covid-19 e ao aumento do uso de carvão.
O país mais afetado no G7 seria a Itália, que deve perder 11,4 por cento do PIB por cada ano. Mas os países em desenvolvimento seriam duramente atingidos, com a Índia a sofrer perdas de 27 por cento no PIB e as Filipinas de 35 por cento.
O relatório da Oxfam reitera ainda que os Governos do G7 não estão a cumprir a promessa de contribuir com 100 mil milhões de dólares para ajudar os países em desenvolvimento, estimando-se que os compromissos atuais do G7 entregaram, até agora, apenas 10 mil milhões para projetos e iniciativas de adaptação climática.
Atualmente, apenas o Reino Unido e os EUA concordaram em aumentar o financiamento dos níveis atuais. A França, por seu lado, pretende manter os níveis atuais de financiamento climático, e o Canadá, a Alemanha, o Japão e a Itália ainda não confirmaram se pretendem manter ou aumentar os investimentos verdes nos países menos desenvolvidos.