Greta Thunberg tem expectativas baixas quanto aos resultados práticos da conferência das Nações Unidas sobre o clima, que vai decorrer em Glasgow, na Escócia, entre 1 e 12 de novembro. A ativista sueca está recetiva à ideia de se encontrar com líderes mundiais, como Joe Biden, mas não percebe porque estes teriam interesse em falar com ela e promete continuar a alertar para a ausência de medidas concretas para controlar as alterações climáticas.
“Não estou a ver um motivo para que estas pessoas queiram encontrar-se comigo, mas sim”, anuiu a adolescente a um hipotético encontro com Joe Biden ou – num cenário ainda mais remoto – com o Xi Jinping, que designa como “líder de uma ditadura”. Para a ativista, a “democracia é a única solução que poderá combater a crise climática, uma vez que a única coisa que nos pode tirar desta situação é uma pressão pública em massa”.
A jovem sueca está pouco impressionada pelas ações do presidente americano, que tenta fazer aprovar legislação climática num contexto de forte oposição republicana. As medidas propostas pelos democratas foram “muito diluídas pelos lobistas”, aponta Greta Thunberg, “então não devemos fingir que isto seria uma solução para a crise climática”.
Na entrevista realizada pela agência Reuters, pelo canal de televisão NBC News e pela revista The Nation, Greta Thunberg considera que o que interessa para avaliar Joe Biden são os resultados e estes mostram que “as emissões ainda estão a subir”.
Greta Thunberg considera ainda que os jovens ativistas “não estão a ser levados a sério” pelos chefes de Estado e de Governo. “Eles apenas dizem: ‘Estamos a escutar-vos’ e depois aplaudem-nos e depois prosseguem como dantes”, lamentou. Por isso, a ativista promete continuar a insistir na sua mensagem até que os governantes tomem medidas significativas, que realmente possam combater as alterações climáticas.
Baixas expectativas
Para a ativista sueca o sucesso da 26ª Conferência das Partes (COP26) da Convenção-Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que deverá identificar respostas para a crise climática, vai depender em muito da atitude dos líderes das maiores potências mundiais a quem pede uma honestidade inabalável.
"Estamos muito, muito aquém do que seria necessário (…) Talvez se os líderes forem honestos criem um sentido de urgência que faça as pessoas acordarem”, comentou Greta Thunberg, na cozinha do seu apartamento em Estocolmo.
Greta aponta as falhas entre o discurso e a ação dos políticos. “Estamos a tentar encontrar pequenas soluções concretas que sejam simbólicas para fazer parecer que estamos a fazer alguma coisa, sem realmente enfrentar o problema. Ainda não estamos a contabilizar todas as emissões quando anunciamos as metas. Ainda estamos a fazer contabilidade criativa quando se trata de cortes de emissões e assim por diante. Enquanto for este o caso, não iremos muito longe”.
A cimeira é considerada a última grande oportunidade para os governantes mundiais anunciarem metas firmes para a redução das emissões poluentes, de modo a cumprirem a promessa de limitar a subida da temperatura global em 1,5 graus celsius, em comparação com valores anteriores à Revolução Industrial.
Thunberg considera deslocar-se à conferência porque a reunião de milhares de políticos, ativistas, cientistas e jornalistas é um momento importante de visibilidade pública, para “mostrar que estamos numa situação de emergência… e vamos tentar mobilizar as pessoas em torno disto”.
No entanto, a ativista admite que já espera sair de Glasgow dececionada. "Espero que as coisas continuem na mesma (...). As Conferências das Partes tal como estão não vão conduzir a nada, a menos que haja uma grande pressão de fora", considerou.
"A minha expectativa é que ouviremos muitos, muitos discursos agradáveis, ouviremos muitas promessas que - se realmente olharmos para os detalhes - são mais ou menos sem sentido, mas que são apenas ditos para que [quem os profere] tenham algo dizer, para que os meios de comunicação social tenham algo para contar", vaticinou a ativista.
Blá, blá, blá
Greta Thunberg tem denunciado repetidamente a falta de ação dos chefes de Estado e de Governo de países como os Estados Unidos, Alemanha e até da Comissão Europeia, apesar das palavras bem intencionadas.
No final do passado mês de Setembro, em Milão, a ativista sueca protagonizou um momento que se tornou viral nas redes sociais. Durante o discurso perante jovens ativistas, Greta Thunberg enumerou os chavões que os políticos usam, mas que nunca passam a medidas concretas: “reconstruir melhor, blá blá blá, economia verde, blá blá blá, emissões líquidas (de gases com efeitos de estufa) zero até 2050, blá blá blá, neutralidade climática, blá blá blá. Isto é tudo o que ouvimos dos nossos designados líderes. Palavras! Palavras que soam bem, mas que até agora não levaram a nenhuma ação", denunciou.
ONU não se pronuncia sobre queixa
Um painel das Nações Unidas disse que não pode decidir de imediato sobre uma queixa de Greta Thunberg e outros adolescentes, que alegam que a inação do Estado sobre as alterações climáticas viola os direitos das crianças. Para as Nações Unidas, os ativistas adolescentes deveriam ter apresentado o caso primeiro nos tribunais nacionais.
Este é um entre vários casos de litígios climáticos que invocam os direitos humanos, mas já é considerado como um precedente importante.
A queixa foi apresentada na Comissão da ONU para os Direitos da Criança em 2019 e o painel de 18 membros tem conduzido audiências e deliberações desde então.
Os 15 ativistas, com idades entre 8 e 17 anos em 2019, argumentavam que França, Turquia, Brasil, Alemanha e Argentina sabiam do risco das alterações climáticas há décadas, mas não reduziram as suas emissões de carbono.
"Não tenho dúvidas de que este julgamento irá assombrar a comissão no futuro", comentou a principal autora da petição nos Estados Unidos, Alexandria Villasenor.
"Quando os desastres climáticos forem ainda mais graves do que são agora, a comissão lamentará seriamente não ter feito a coisa certa quando teve a oportunidade”, acrescentou.
A ativista sueca não comentou a decisão da Comissão da ONU.
Greta Thunberg combina agora o ativismo com o segundo ano do ensino secundário. O movimento Sextas-feiras pelo Futuro está de regresso, em que milhares de jovens faltavam em protesto pela ação contra as alterações climáticas, depois de na pandemia se ter limitado aos encontros online.