Na Ucrânia, prossegue o face a face entre as forças de segurança e os manifestantes pró-europeus concentrados no centro de Kiev. Terminado o ultimato das autoridades para que fossem desimpedidos os acessos aos edifícios governamentais da capital, a policia desmantelou algumas barricadas, desalojando os manifestantes que bloqueavam a sede do governo. Os agentes assumiram também posições em torno da praça Maidan, onde continuam concentradas em protesto centenas de pessoas. Os opositores exigem a demissão do presidente Ianukovitch e acusam-no de ter traído a Ucrânia quando renunciou a um acordo de associação com a União Europeia a favor de uma união aduaneira com a Rússia.
O ultimato expirava hoje ao cair da noite, mas antes ainda do final do prazo, as forças especiais da polícia ucraniana (Berkut), começaram a bloquear a maior parte dos acessos ao centro da capital , utilizando em alguns casos, autocarros.
Os agentes assumiram posições em torno do núcleo de resistentes concentrados na praça Maidan, que iam fortalecendo as barreiras na antecipação de um ataque dos polícias de choque.
Um dos líderes da oposição, o ex boxeur Vitaly Klitshcko, apelou aos manifestantes para resistirem firmes e avisou o presidente Viktor Ianukovich de que teria sangue nas mãos, se as forças de segurança tentassem dispersar o protesto à força.
Mascarados invadem sede do partido de Timoshenko
No ínterim, homens mascarados e armados penetraram à força do partido da ex-primeira ministra Iulia Timoshenko, a líder oposicionista que se encontra a cumprir uma pena de prisão.
À saída, os intrusos levaram consigo os computadores e servidores da aliança oposicionista, fazendo com que a sua página de internet deixasse de estar acessível.
Uma porta-voz da Aliança Batkivchtchina (Pátria), acusou as Berkut de estarem por detrás do raide mas a polícia local negou que “qualquer operação” tenha tido lugar naquela área.
O jornal online Ukrainska Pravda afirma que o raide foi obra da SBU, os serviços de segurança do estado, que não se mostraram disponíveis para comentar.
No entanto, uma fonte do governo tinha dito ontem que os serviços secretos estão a investigar alegadas ligações entre figuras da oposição e interesses estrangeiros não identificados.
A onda de protestos que se estende a outras cidades é a maior desde a Revolução laranja” em 2004. Confrontado com a rejeição popular, presidente e governo parecem indecisos no caminho a seguir, alternando entre a conciliação e a ameaça.
Ianukovich abre a porta ao diálogo
Num comunicado no website da presidência, Ianukovich declarava-se hoje pronto a dialogar com a oposição.
O comunicado falava de negociações entre as autoridades e a oposição como “uma plataforma para um entendimento mútuo”, sem propor, no entanto uma data concreta para o início das conversações.
No entanto, a abertura foi sol de pouca dura e, ao final do dia, o procurador geral Viktor Pchonka avisava os manifestantes para “não porem à prova a paciencia das autoridades”.
O incidente na sede do Batkivchtchina, ocorreu um dia depois de uma manifestação que reuniu centenas de milhares de pessoas no centro da capital, para exigirem a demissão do presidente Viktor Ianukovitch e eleições antecipadas.
União Europeia apela à calma
A União Europeia assiste preocupada ao aumento da tensão na Ucrânia e tem vindo a apelar às partes envolvidas para terem calma e evitarem atos de violência.
A Lituânia, que assegura atualmente a presidência rotativa da União, pediu ao presidente Ianukovitch para encetar um “diálogo autêntico com a oposição”, depois de o chefe de estado ucraniano ter mostrado abertura a negociações.
O ministro lituano dos Negócios Estrangeiros pediu ao governo de Kiev para que não recorra à força contra os manifestantes, advertindo que isso “cortaria as pontes de diálogo”.
“Pedimos neste momento ao governo ucraniano para que não recorra à força , para impedir toda a provocação contra os manifestantes pacíficos a fim de manter a possibilidade de um diálogo”, disse o ministro Linas Linkevicius.
O representante da diplomacia de Vilnius, sublinhou que “a União Europeia está pronta , pela sua parte, a facilitar o diálogo com a Ucrânia”.
Terça e quarta-feira, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, deverá deslocar-se a Kiev, numa missão de conciliação para tentar ajudar à resolução da crise.