Aliados devolvem críticas a Trump. "Soldados americanos e europeus em risco acrescido"

por Carlos Santos Neves - RTP
“Qualquer sugestão de que os aliados não vão defender-se mutuamente mina toda a nossa segurança”, reagiu o secretário-geral da NATO Dado Ruvic - Reuters

Donald Trump recuperou a retórica do isolacionismo norte-americano e a Aliança Atlântica já reagiu. O secretário-geral da NATO saiu este domingo a público para afiançar que qualquer ataque contra o bloco, por parte da Rússia ou qualquer outro ator internacional, merecerá “uma resposta unida e forte”. Jens Stoltenberg considera que, ao admitir deixar aliados sem proteção, por causa de alegadas falhas de financiamento, o candidato ao regresso à Casa Branca coloca “soldados americanos e europeus em risco acrescido”.

Qualquer sugestão de que os aliados não vão defender-se mutuamente mina toda a nossa segurança, incluindo dos Estados Unidos, é pôr soldados americanos e europeus em risco acrescido. Espero que, independentemente de quem ganhar a eleição presidencial, os Estados Unidos continuem a ser um aliado da NATO forte e comprometido”, redarguiu Jens Stoltenberg, numa reação citada pela edição online do jornal britânico The Guardian.A Aliança Atlântica, quis ainda enfatizar Stoltenberg, permanece “pronta e apta a defender todos os aliados”.

Durante um comício na Carolina de Sul, na noite de sábado, o antigo presidente dos Estados Unidos voltou à carga com a retórica de acrimónia para com a NATO. E deixou mesmo no ar a ideia de poder vir a fechar os olhos a uma hipotética investida russa contra países-membros da organização. Isto porque, na sua ótica, estes não estão a cumprir com as respetivas obrigações de financiamento do bloco militar.

“Um dos presidentes de um grande país levantou-se e disse: e se não pagarmos e formos atacados pela Rússia vocês protegem-nos?”, contou Trump, referindo-se a um suposto encontro no âmbito da NATO.

“Não, não vou proteger-vos. De facto, até os encorajaria a fazer-vos o que entendessem. Têm de pagar as vossas dívidas”, acrescentou.
A Casa Branca também já reagiu à alocução de Donald Trump na Carolina do Sul, acusando-o de insensatez.

“Encorajar a invasão dos nossos aliados mais próximos por regimes mortíferos é preocupante e insensato”, devolveu em comunicado o porta-voz da Casa Branca Andrew Bates. Para sustentar, em seguida, que “mais do que apelar à guerra e promover o caos o presidente Biden continuará a suportar a liderança americana”.
“Um compromisso concreto”
Por seu turno, o ministro polaco da Defesa escreveu no X que “o lema da NATO um por todos e todos por um é um compromisso concreto”.

“Minar a credibilidade de países aliados significa enfraquecer toda a NATO. Nenhuma campanha eleitoral é desculpa para brincar com a segurança da aliança”, acentuou Władysław Kosiniak-Kamysz.

Também o comissário europeu com o portefólio do mercado interno, Thierry Breton, reagiu às palavras do 45.º presidente norte-americano. Em declarações à estação televisiva francesa LCI, o responsável ironizou: “Já ouvimos isto antes. Nada de novo debaixo do Sol”.

“Não podemos atirar uma moeda ao ar sobre a nossa segurança a cada quatro anos, dependendo desta ou daquela eleição, nomeadamente a eleição presidencial dos Estados Unidos”, reforçou.

“Talvez haja um pequeno problema com a sua memória – foi, na verdade, uma mulher presidente, não de um país, mas da União Europeia”, revelou ainda Breton, referindo-se a Ursula von der Leyen e a uma conversa que a presidente da Comissão Europeia manteve com Donald Trump em 2020.

O discurso de Trump motivou igualmente uma resposta por parte do ministro checo dos Negócios Estrangeiros, Jan Lipavský, que fez questão de sublinhar que “a NATO está atualmente na mais forte posição de sempre, tanto pelo forte laço transatlântico, quer por causa das tarefas de dissuasão e defesa domésticas que os aliados europeus estão a desempenhar”.

“Confrontados com a maior ameaça desde o fim da II Guerra Mundial, estamos a aumentar os orçamentos de defesa e a adquirir novas capacidades, muitas das quais com origem nos Estados Unidos”, rematou o governante da Chéquia.

c/ agências internacionais
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