Alexander Stubb. Novo presidente da Finlândia frisa importância da dissuasão nuclear
Alexander Stubb tomou posse esta sexta-feira como novo presidente da Finlândia, o primeiro eleito no país já membro da NATO. Uma circunstância sublinhada pelo próprio, como novo comandante supremo das Forças Armadas e corresponsável pela diplomacia finlandesa ao lado do executivo.
"Começaria pela premissa de que a Finlândia tem de possuir um dissuasor muclear, e é o que temos, porque a NATO dá-nos praticamente três dissuasores, através da nossa adesão", afirmou Stubb esta sexta-feira.
"O primeiro é militar, ou seja, tropas, o segundo são mísseis, ou munições, e o terceiro é a dissuasão nuclear, que nos chega dos Estados Unidos", acrescentou.
A Finlândia partilha 1.340 quilómetros de fronteira com a Rússia e é um dos países europeus mais ativos no apoio civil e militar à Ucrânia.
O seu rival, Pekka Haavisto, também antigo ministro dos Negócios Estrangeiros pelo Partido dos Verdes, de centro-esquerda, criticava determinantemente a ideia.
Outra inversão da política de defesa, que opunha os dois candidatos, centrava-se na presença militar finlandesa no arquipélago estratégico de Äland, no Mar Báltico. Stubb favorecia-a, revertendo uma política adotada desde 1856, com Haavisto a preferir manter a área desmilitarizada.
Apesar de Haavisto defender igualmente um endurecimento da política finlandesa face a Moscovo, Stubb foi considerado o mais firme dos dois, algo que poderá ter sido fundamental na sua vitória a 11 de fevereiro, por 51,6 por cento dos votos.
Conselho de Niinisto
Logo a seguir à sua eleição para a "maior honra da sua vida", o novo presidente garantiu contudo que, apesar de muito se ter falado na campanha sobre "guerra, defesa e a NATO", a sua mensagem permanecia "uma de paz".
As questões de Defesa foram determinantes nas recentes eleições presidenciais, depois do país ter invertido a sua política tradicional de neutralidade militar, solicitando a adesão à NATO em 2022, após a invasão russa da Ucrânia.
O responsável pela mudança foi o antecessor de Stubb, Sauli Niinisto, como ele do Partido da Coligação Nacional (NPC), de centro-direita.
Niinisto, um presidente popular eleito para dois mandatos consecutivos de seis anos e impedido de voltar a concorrer, ficou conhecido pela sua competência ao longo do processo de adesão, sobretudo nas negociações com a Turquia e com a Hungria.
Mas Niinisto era também considerado próximo do Kremlin, tendo mesmo sido apelidado pelos críticos como "sussurrador de Putin". A sua pirueta diplomática em 2022 desconcertou muitos analistas.
Esta sexta-feira, no seu discurso de despedida, o presidente cessante deixou por isso alguns conselhos ao sucessor, ao mesmo tempo que lhe desejava "força e sabedoria nestes tempos imprevisíveis".
"A diplomacia permanece um desporto individual, que requer subtileza. Dessa forma, até o mais pequeno consegue ser ouvido", advertiu.
O presidente cessante lembou ainda que "a Finlândia sempre trabalhou em equipa", defendendo a necessidade desta dinâmica se manter, tanto na União Europeia como na NATO.
Um aparente recado aos aliados perante os desafios levantados pelas críticas do ex-presidente norte-americano Donald Trump e pela divisão ocorrida ainda esta semana, após a proposta do presidente francês, Emmanuel Macron, de, no futuro, enviar tropas ocidentais para a Ucrânia.
Nova era, novas ameaças
Se ouviu as cautelas, Alexander Stubb, conhecido mais pela impulsividade e frontalidade do que pela subtileza, não deixou contudo dúvidas de que a Finlândia virou a página, mesmo se a prudência diplomática não foi completamente enfiada na gaveta.
"Estamos a entrar numa nova era", afirmou o novo presidente no seu discurso inaugural no Parlamento, de acordo com a emissora estatal Yle, citado pela agência Europa Press. Uma era plena de desafios de segurança num "mundo em caos", como lhe chamou, prevendo um cenário difícl para o seu mandato.
"Assistiremos à regionalização do poder e a alianças profanas", antecipou, "por outras palavras, uma espécie de mundo à la carte, onde os aliados são escolhidos a dedo. Temos de nos manter alerta". Apesar disso, o novo presidente considerou fulcral "não desesperar", lembrando que "o medo é o pior guia possível para a política externa".
"Em resultado do nosso alinhamento militar e da nossa filiação na NATO, demos o último passo na integração da comunidade ocidental de valores, à qual a nossa república pertenceu espiritualmente ao longo da sua independência", frisou.
A democracia, o primado da lei e os direitos humanos foram listados por Stubb como os valores fundamentais em que se irá basear a política estrangeira da Finlândia sob a sua liderança.
A par da Suécia, a Finlândia ocupa uma posição estratégica europeia, ao partilhar milhares de quilómetros de fronteira com a Rússia, proximidade agora aproveitada pela NATO para reforçar o seu flanco leste.
Vários observadores acreditam que o novo presidente deverá estar atento ao agravamento das ameaças oriundas do Kremlin, desde incursões no espaço aéreo finlandês por parte de caças russos até ciberataques e a facilitação da passagem de migrantes ilegais para território da Finlândia, que se tem tornado um espinho cultural e económico.
A questão do racismo tem aliás marcado os últimos anos da vida finlandesa, com o envolvimento de diversos ministros em vários escândalos. Mais recentemente, greves devido à deterioração das condições de trabalho e salários têm paralisado os serviços públicos.
O regresso do prodígio
Alexander Stubb prometeu ser uma força unificadora da sociedade e, durante a campanha, mostrou estar mais calmo e menos impulsivo do que na sua primeira passagem pela política finlandesa.
Nascido a 1 de abril de 1968 e criado na zona ocidental de Helsínquia, Alexander Stubb frequentou a escola na Finlândia e estudou ainda nos Estados Unidos, na Bélgica e no Reino Unido, entrando na política em 2004 como membro do Parlamento Europeu.
Conhecido pela sua energia, em 2008, para sua própria surpresa, foi escolhido para ministro dos Negócios Estrangeiros.
Durante o difícil ano de 2014, em plena crise económica e já como primeiro-ministro, foi incapaz de reverter a perda de popularidade do NCP e perdeu as eleições parlamentares em 2015. Depois de alguns meses como ministro das Finanças, anunciou a despedida irrevogável da política finlandesa em 2017.
O próprio afirmou que foi a invasão da Rússia a convencê-lo a tentar de novo a política ativa. Aos 55 anos foi eleito 13º presidente do país de 5,6 milhões de habitantes, jurando em finlandês e em sueco, as duas línguas oficiais. A Finlândia declarou a independência do Império Russo em 1917.
(com agências)