Alerta de cientistas ingleses. Principais lições da covid-19 estão a ser esquecidas

por Cristina Sambado - RTP
Rasid Necati Aslim - Anadolu via AFP

As principais lições científicas aprendidas durante a pandemia da covid-19 estão a ser esquecidas, alertaram cientistas britânicos. Os investigadores deram o alarme no momento em que o país assinala o quinto aniversário do início do confinamento, que foi anunciado pelo então primeiro-ministro, Boris Johnson, a 23 de março de 2020.

A decisão foi tomada para evitar que os hospitais do serviço público de saúde (NHS) fossem inundados por centenas de milhares de novos casos de pacientes gravemente infetados com SARS-CoV-2.

No entanto, não há provas de que o serviço de saúde esteja atualmente preparado, caso surja outro vírus letal num futuro próximo, afirmam cientistas ao jornal britânico The Guardian.A pandemia de covid-19 continua a ser um tema sensível no Reino Unido, onde o governo conservador da altura foi acusado de reagir demasiado tarde à crise.


“Todos os invernos, mesmo antes da covid, os hospitais eram geridos muito perto do limite”, afirmou Rowland Kao, da Universidade de Edimburgo. “Quando a doença chegou, o NHS simplesmente não estava em condições de aguentar mais. E não há sinais de que da próxima vez será diferente. De facto, é provável que seja pior”.

Segundo os especialistas, também não há indícios de que o país tenha compreendido as consequências psicológicas desencadeadas pela colocação da Nação em confinamento.


Para Dominic Abrams, professor de psicologia social na Universidade de Kent, o confinamento pode ter sido moderadamente eficaz para reduzir a infeção, mas subestimou a necessidade de ligação, contacto e comunidade.

“Parecia não haver quase nenhuma estratégia para satisfazer essas necessidades fundamentais. As cicatrizes sociais e psicológicas permanecem extensas e profundas”.

Apesar do distanciamento social, o uso de máscaras e a utilização de testes tenham sido amplamente empregues, não houve qualquer tentativa subsequente de compreender a sua utilidade e importância, frisou Paul Hunter da Universidade de East Anglia.

“O meu grande pesar é o facto de ainda não termos chegado a um consenso científico sobre o valor e a eficácia das intervenções não farmacêuticas [NPI]”, frisou. “Sabemos que as NPI reduzem a transmissão. Mas se os benefícios superam os danos ainda está longe de ser claro”, sublinhou.

Já as implicações internacionais e económicas foram realçadas por Andrew Shepherd, diretor da Chronic Poverty Advisory Network. “Os confinamentos não são adequados para todos os países. Durante a pandemia, as nações mais ricas pressionaram os países de baixo e médio rendimento a introduzir confinamentos, com consequências desastrosas.

“A maioria destes países não estava em condições de mitigar a perda de empregos, rendimentos e empresas da mesma forma que nós, no Reino Unido, e o resultado foi um empobrecimento maciço, do qual levará anos a recuperar”.

Michael Head, da Universidade de Southampton, reconheceu que os confinamentos são uma componente vital de qualquer resposta a uma pandemia.

“Mas precisamos de confinamentos mais inteligentes, que sejam postos em prática numa fase mais precoce do surto para reduzir melhor a transmissão e, por conseguinte, com uma duração mais curta”.

O aniversário também foi assinalado por um grupo constituído por quase 10 mil pessoas enlutadas pela pandemia que escreveu à chanceler do Tesouro, Rachel Reeves, pedindo que não avance com o plano de redução das prestações por deficiência.

“A desigualdade desenfreada contribuiu para o elevado número de mortes [covid-19] no Reino Unido”, lê-se na missiva a que o jornal britânico teve acesso.

As pessoas com deficiência têm 11 vezes mais probabilidades de morrer de covid-19 do que as pessoas sem deficiência. Em vez de abordar as desigualdades que contribuíram para essa estatística horrível, o governo está a avançar com planos para reduzir os subsídios de invalidez, levando mais pessoas à pobreza e tornando o país ainda menos preparado para futuras pandemias.

“O Governo prometeu aprender com a pandemia, mas parece estar a sofrer de amnésia covid, esquecendo o custo devastador de um serviço de saúde subfinanciado e de serviços públicos reduzidos ao mínimo”, acrescenta a carta enviada a Rachel Reeves.Lista de 24 doenças infeciosas a monitorizar
Cinco anos após a pandemia de covid-19, que provocou mais de 232 mil mortos no Reino Unido, e para prevenir uma nova crise sanitária, foi criada uma lista de 24 doenças infeciosas a monitorizar.

Este guia de “agentes patogénicos prioritários” foi concebido para ajudar os investigadores a concentrar os seus esforços em determinados vírus e bactérias que representam uma ameaça para a saúde pública, explica o comunicado de imprensa da Agência de Saúde e Segurança do Reino Unido (UKHSA).

Os vírus sob vigilância incluem o Ébola e o Mpox, cujos epicentros se situam fora do Reino Unido, mas cujo risco patogénico é elevado.

A gripe aviária, a bactéria E.coli e as doenças transmitidas por mosquitos também constam da lista.

Para criar esta lista, os cientistas avaliaram o potencial epidémico de cada família viral, analisando a gravidade da doença, as vias de transmissão e as pandemias anteriores.

“Esta ferramenta é um guia essencial para a indústria e o mundo académico”, afirmou Isabel Olivier, cientista-chefe da UKHSA, citada no comunicado de imprensa.

O objetivo é incentivar os cientistas e os investidores a desenvolverem novos testes, vacinas ou medicamentos.

Em última análise, o objetivo é incentivar os cientistas e os investidores a desenvolverem novos testes, vacinas ou medicamentos.

A lista será atualizada pelo menos uma vez por ano.

c/ agências
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