Alerta da Unicef e OMS. O mundo está a minar o futuro das crianças

por RTP
Crianças deslocadas brincam entre as tendas de um campo de refugiados em Afrin, na Síria Khalil Ashawi - Reuters

Os países do mundo estão a falhar na proteção da saúde e do futuro das crianças devido à intensificação da degradação ecológica, das mudanças climáticas, dos conflitos e até das práticas agressivas de marketing, lê-se num novo relatório.

O relatório afirma que, embora tenham sido realizadas várias melhorias na sobrevivência, nutrição e educação ao longo dos últimos 20 anos, as crianças enfrentam um “futuro incerto” e “ameaças existenciais”.

“Em 2015, os países do mundo concordaram com as metas de desenvolvimento sustentável. Contudo, cerca de cinco anos depois, foram poucos os países que registaram progresso”, declarou a comissão de 40 especialistas que fizeram parte da investigação, citada pelo jornal britânico The Guardian.

Os especialistas apontam as mudanças climáticas, a degradação ecológica, as populações migrantes, os conflitos, as desigualdades e as práticas comerciais agressivas como ameaças à saúde e ao futuro das gerações mais novas em todos os países.

A Organização Mundial de Saúde e a Unicef – responsáveis pelo relatório – pedem para que sejam realizadas mudanças urgentes na proteção da saúde infantil e na emergência climática.

A investigação destaca também a ameaça das práticas comerciais agressivas que expõem as crianças à comercialização de fast food e bebidas açucaradas, que provocaram um aumento 11 vezes maior da obesidade infantil.

O relatório inclui também um índice de 180 países em que são comparados dados sobre a sobrevivência, bem-estar, saúde, educação e nutrição, bem como a sustentabilidade, as emissões de gases de efeito de estufa e as diferenças de rendimentos.
“Emissões de CO2 ameaçam futuro das crianças”

Ainda segundo o relatório, o aquecimento global – provocado principalmente pelos países mais ricos – representa uma ameaça para a saúde, desde a propagação de ondas de calor até ao alastramento de doenças tropicais.

Os 40 especialistas consideram que os “países mais pobres precisam de fazer mais para apoiar mais a capacidade das crianças viverem de forma saudável”, enquanto que os países mais ricos “estão a ameaçar o futuro de todas as crianças”
.

O chefe de saúde da Unicef, Stefan Peterson, declarou que as crianças que vivem nos países mais pobres estão a enfrentar o impacto de uma mudança climática, embora tenham uma pequena pegada de carbono.

“Essas crianças enfrentam enormes desafios relacionados com a saúde e o bem-estar e agora também estão em maior desvantagem no que toca à crise climática. Precisamos de ganhos sustentáveis na saúde e no desenvolvimento infantil, o que significa que os grandes emissores de carbono precisam de reduzir as suas emissões para que todas as crianças prosperem, quer sejam pobres ou ricas”.

De acordo com o relatório, se o aquecimento global continuar a aumentar, de acordo com as projeções atuais, as consequências vão ser “devastadoras para a saúde das crianças”, devido ao aumento do nível dos oceanos, das ondas de calor, da propagação de doenças e da desnutrição.

“Os únicos países que estão a caminho de vencer as metas de emissão de CO2 per capita até 2030 são a Albânia, Arménia, Jordânia, Moldávia, Sri Lanka, Tunísia, Uruguai e Vietnam”, refere o relatório.
Obesidade infantil aumenta 11 vezes em 40 anos

O relatório, divulgado pela revista The Lancet, expõe que mais de 124 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo eram obesas em 2016, o que significa que, nas últimas quatro décadas, a obesidade aumentou 11 vezes.
Em 1975 existiam 11 milhões de crianças, em todo o mundo, com obesidade. Em 2016 o número subiu para 124 milhões.

Uma das causas apontadas pelos especialistas é a exposição exagerada das crianças a anúncios e comerciais sobre comida não saudável e bebidas açucaradas, que leva a que as crianças façam escolhas alimentares inadequadas.

O relatório sugere que, em alguns países, as crianças veem mais de 30 mil anúncios televisivos por ano, relacionados com aquilo que chamam de “marketing para obesidade infantil”.

“A autorregulação da indústria falhou”, afirmou Anthony Costello, um dos autores do documento.

Os autores apontam o dedo ao que consideram ser “práticas exploradoras” do marketing das indústrias, que promove a fast food e as bebidas açucaradas.
“A realidade pode ser ainda pior”

A exposição de menores a anúncios relacionados com o consumo de álcool e tabaco é outra das preocupações dos investigadores.

O relatório afirma que as crianças estão em risco. “A exposição dos jovens a anúncios de cigarros eletrónicos aumentou mais de 250 por cento nos Estados Unidos em dois anos, atingindo mais de 24 milhões de jovens”.

A comissão que elaborou o relatório pede aos governos que adotem medidas “para garantir que as crianças recebam o direito a terem um planeta habitável nos próximos anos”.

Costello afirmou que ainda existem “poucos factos e números sobre a expansão da publicidade nos media e algoritmos voltados para as crianças”. No caso de não serem realizadas mudanças, “a realidade pode ser ainda pior”.
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