Alemanha prepara-se para corte de fornecimento de gás russo, "arma política" de Putin

por Lusa
A festa na conclusão de mais uma fase do gasoduto Nordstream durou pouco mais de um ano Reuters

A manutenção do gasoduto russo Nordstream em curso aumenta na Alemanha a preocupação de que o fornecimento não seja retomado na data prevista, 21 de julho, tornando mais provável a subida do alerta do plano de emergência.

Tanto o chanceler Olaf Scholz como o ministro da Economia alemão já sublinharam que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, está a usar o fornecimento de energia à Alemanha como "arma política". O ministro Robert Habeck revelou à emissora RTL que "estaria a mentir" se dissesse que não teme possíveis consequências.

Thekla von Bülow, analista do setor da energia na "Aurora Energy Research" admite que, ao contrário do passado e das manutenções anuais de rotina, a Rússia não substituiu os volumes do Nordstream 1 (NS1) através do fornecimento de gás por outros gasodutos.

"Existe certamente a preocupação entre a indústria alemã e o governo, de que a Rússia ou prolongará a manutenção do NS1 ou não voltará a colocar o gasoduto em funcionamento de todo", apontou, em declarações à agência Lusa.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, sublinhou na quinta-feira que o futuro do gasoduto e do fornecimento para a Alemanha depende da procura de gás na Europa e das sanções ocidentais contra a Rússia.

Thekla von Bülow espera que, "caso haja um sinal claro de que o gás não continuará a fluir para a Alemanha", o governo alemão "declare a terceira fase do plano nacional de emergência do gás".

"Isto permitiria ao governo alemão tomar medidas soberanas sobre a atribuição de gás na Alemanha", disse à Lusa.

Nos últimos tempos, apenas 40% do volume de gás que normalmente é entregue pela Rússia, tem chegado à Alemanha. O gás russo é extremamente importante, principalmente para a indústria e para as habitações. Metade das casas na Alemanha são aquecidas com gás fornecido por empresas russas.

A Alemanha tem vindo a implementar uma série de medidas para se preparar para um possível cenário `sem gás`.

"Do lado da oferta, a Alemanha encomendou unidades FSRU (terminais flutuantes de armazenamento e regaseificação de Gás Natural Liquefeito - GNL), o primeiro dos quais deverá poder começar a fornecer gás à Alemanha no final deste ano. Atualmente, mais GNL tem vindo a fluir para a Alemanha, especialmente a partir dos Estados Unidos. Esperam-se mais FSRU em funcionamento no próximo ano", apontou von Bülow.

"A Alemanha também emitiu uma lei para fazer cumprir o enchimento das reservas de gás para o início do inverno. A lei visa atribuir volumes de gás a armazenamentos, a fim de garantir a disponibilidade de gás suficiente durante o próximo inverno", esclareceu.

No entanto, no caso de uma "paragem completa no fornecimento de gás da Rússia", a especialista acredita que será necessária uma "redução do lado da procura".

Em todo o país, as autoridades estão a tomar medidas para abrandar o consumo de gás, como a redução das temperaturas nas piscinas públicas.

A senadora dos Assuntos Sociais de Berlim, Katja Kipping (do partido A Esquerda) está a considerar a criação de "salas de aquecimento" onde as pessoas carenciadas, afetadas pela falha de gás, possam ir aquecer-se no próximo inverno.

Também o senador da Economia e Energia da capital alemã, Stephan Schwarz (independente), garantiu que Berlim está preparada para a escassez. Foi criada uma `task force` para identificar formas de poupar energia em edifícios governamentais e lançado um apelo para que todos os cidadãos poupem gás.

Klaus Müller, do partido Os Verdes, e diretor da Agência Federal de Redes, responsável por determinar quem recebe que quantidades de gás na Alemanha, declarou, no RND, que a "lei alemã e europeia prevê a proteção de residências particulares" em relação às empresas, e essas devem ser abastecidas em primeiro lugar.

Uma opinião contrária à do ministro Robert Habeck, que quer reconsiderar a priorização da indústria sobre o uso pessoal, para que a economia não sofra muitos danos. Uma opinião que já sofreu duras críticas, sobre um tema que já merece a preocupação da maioria dos cidadãos a viver na Alemanha.

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