Alemanha. Ascensão da extrema-direita e severa derrota da coligação de Olaf Scholz nas eleições regionais

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
O Governo do chanceler alemão, Olaf Scholz sofreu uma severa derrota nas eleições regionais da Baviera e Hesse, a 8 de outubro, na Alemanha. Liesa Johannssen - Reuters

As eleições regionais de domingo na Baviera e Hesse confirmaram as previsões de um avanço da extrema-direita, da Alternativa para a Alemanha (AfD), a hegemonia dos conservadores e populista da CDU e CSU, e uma severa derrota para os três partidos da coligação nacional liderada pela esquerda do chanceler Olaf Scholz. O veredito das urnas espelhou o forte descontentamento que se sente a nível nacional.

Um quarto dos eleitores alemães foi chamado às urnas nas eleições regionais em dois dos maiores e mais ricos estados da Alemanha, Baviera e Hesse, responsáveis por mais de um quarto da produção económica do país.

Após uma campanha eleitoral dos partidos conservadores e populistas de direita e extrema-direita contra o governo nacional de Olaf Scholz, que tem enfrentado múltiplas crises nos últimos meses, entre as quais a crise económica, migratória e energética, o resultado está à vista.

Como apontavam as sondagens, os partidos conservadores de centro-direita da União Democrata-Cristã (CDU) e a União Social-Cristã (CSU) mantiveram a sua hegemonia nos dois estados, tradicionalmente de direita, mas sem maioria absoluta. Apesar da vitória clara sobre os adversários políticos, em ambas as regiões será necessária uma coligação para governar, à semelhança do sucedido nas últimas eleições.

Na Baviera, a sul do país, cuja capital é Munique o partido conservador da União Social-Cristã (CSU) voltou a ser o mais votado, como tem vindo a acontecer desde a década de 1950, embora com apenas 36,6 por cento dos votos, um dos piores resultados do partido.

A CSU deverá coligar com o partido populista Eleitores Livres (FW, na sigla em alemão), que por sua vez conseguiram o melhor resultado até à data, com 15 por cento dos votos, à semelhança do que aconteceu nas eleições anteriores. Uma vez que já demonstrou essa intenção e afastou qualquer possível aliança com o partido de extrema-direita AfD.

Em Hesse, a oeste da Alemanha, onde se situa Frankfurt o partido conservador da União Democrata-Cristã (CDU) obteve 34,5 por cento dos votos, uma vitória mais sólida relativamente à de 2018, quando tinha alcançado apenas 27 por cento. 

O partido liderado pelo primeiro-ministro do Estado, Boris Rhein, deverá manter a coligação que tem há uma década com o partido dos Verdes, cujo resultado ficou aquém das expetativas, conseguindo apenas 14,8 por cento dos votos contra 19,7 nas últimas eleições.

Desempenho "desastroso"
Apesar de ambas as regiões serem tradicionalmente de direita, os três partidos que formam o Governo de coligação nacional liderada pela esquerda – entre eles o SPD, Verdes e Partido Democrático Liberal (FDP) - nunca obtiveram resultados tão fracos. Com destaque para a derrota do partido socialista do SPD, do chanceler alemão Olaf Scholz, cujo desempenho o jornal alemão Der Spiegel considerou “desastroso”.

Apesar dos esforços do Governo alemão para estabilizar a inflação, manter o desemprego baixo, afastar-se da dependência energética russa e acalmar as críticas da oposição que se insurgiu contra os planos de Berlim na gestão da crise migratória e no custo da transição ecológica, os eleitores não pouparam os partidos que lideram o país e demonstraram o seu descontentamento nas urnas.

Os três partidos da coligação nacional foram penalizados, com a descida de alguns pontos percentuais, tanto na Baviera como em Hesse. Na Baviera, os socialistas alcançaram apenas 7,9 por cento dos votos abaixo dos 9,7 de 2018 e os Verdes caíram para os 14,9 por centro face aos 17,6 das últimas eleições. Já o FDP obteve o pior resultado dos três, não atingido o limite mínimo necessário para eleger deputados, ficando-se pelos 2,9 por cento dos 5 necessários.

Já no Hesse, o SPD de Olaf Sholz obteve apenas 15,1 por cento, contra os 19,8 das eleições anteriores, ligeiramente à frente dos Verdes e muito longe do FDP com dificuldade para obter representação parlamentar.  “É um resultado muito dececionante”, confessou no domingo à noite Nancy Faeser, atual ministra do Interior e candidata do partido SPD ao governo regional de Hesse.


Considerada uma "grande" aposta do partido socialista que acabou por revelar-se falhada, uma vez que a candidata foi duramente criticada pela direita e extrema-direita durante a campanha eleitoral, na sua qualidade de ministra do Interior e responsável pela pasta da migração, devido ao aumento do número de requerentes de asilo na Alemanha nos últimos meses.
AfD, uma ascensão da extrema-direita alemã O partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) pode ser um considerado um dos grandes vencedores da noite eleitoral quer na Baviera, quer no Hesse. Apesar de não poder vir a fazer parte dos governos regionais destes dois Estados, uma vez que os conservadores da CSU e da CDU recusaram coligar-se com a extrema-direita, a AfD subiu mais de 5 pontos percentuais nas duas regiões, e consolida assim a sua posição no parlamento regional e a crescente popularidade na Alemanha. “Cada vez mais eleitores estão a dar-nos a sua confiança. Estamos no bom caminho”, afirmou Alice Weidel, uma das líderes do partido de extrema-direita AfD.


Apesar de se tratar de eleições regionais em dois dos 16 Estados que constituem o país, os três partidos da coligação do Governo alemão que estão a meio do mandato político estão agora sob maior pressão para lutar pela governação do país, e isto numa altura em que as sondagens apontam o partido de extrema-direita AfD a segunda força política nas intenções de voto a nível nacional.
 
c/agências
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