Um antigo polícia da Stasi foi condenado a dez anos de prisão pelo homicídio de um bombeiro polaco que tentou passar o muro de Berlim. O crime com meio século foi descoberto após o trabalho de um historiador que encontrou vários documentos destruídos pela polícia secreta da Alemanha Oriental.
O crime acabou por ser escondido e a família nunca soube o que havia acontecido. O corpo de Kukuczka foi cremado e as cinzas enviadas à mulher Emilia, sendo posteriormente enterrado numa cerimónia privada na Polónia.
De acordo com o Guardian, a verdade veio ao de cima depois de um historiador especializado na história da Stasi ter estudado vários documentos nos arquivos da polícia da Alemanha Oriental que mostraram as tentativas para esconder o crime. A polícia polaca foi alertada e emitiu um pedido de detenção europeu para Naumann em 2021.
A Alemanha deu seguimento ao pedido polaco e Martin Naumann foi acusado de homicídio em outubro de 2023. A ligação de Naumann ao crime só foi descoberta em 2016 depois de investigação ter usado uma máquina digital para colocar junto documentos que foram destruídos pela Stasi nos últimos dias daquela polícia.
Naumann negou as acusações mas acabou por ir a tribunal, onde foi explicado que Kukuczka, em 1974, se dirigiu à Embaixada polaca na Alemanha Oriental e exigiu uma permissão para poder passar para a Alemanha Ocidental, ameaçando que iria detonar um explosivo que se veio a provar falso.
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Depois do aviso da Embaixada, Kukuczka dirigiu-se a um dos postos fronteiriços onde a Stasi lhe ofereceu um visto de saída levando-o para um dos pontos de passagem. O polaco pensou que tinha permissão para sair e Naumann acabou por atirar pelas costas, depois de Kukuczka ter passado dois de três postos de controlo.
Num dos documentos que destruídos e posteriormente recuperados pode ler-se que Kukuczka foi “neutralizado” sem chamar a atenção de outros civis. O advogado da família do polaco descreveu Naumann como a “última peça da cadeia de comando” e a advogada de Naumann insistiu na inocência do alemão, alegando que depois de uma ameaça de bomba, Kukuczla não é uma parte “inocente no processo”.
Martin Naumann viveu até aos 80 anos na cidade de Leipzig e acabou por ser incriminado por três reformados (na altura adolescentes). Uma das testemunhas, uma professora de Hessen afirmou ter visto um “homem a matar outro que tinha passado com uma pasta” e relembrou como as pessoas no túnel de passagem mostraram choque.
“Do nada, as portas abrem-se onde não estava nenhuma porta e pessoas em uniforme saíram a selaram as passagens”, recordou.
As autoridades nunca chegaram a descobrir explosivos no corpo de Kukuczka que acabou por ser levado para um hospital onde acabou por morrer. De acordo com a autópsia, o polaco perdeu muito sangue.
Estima-se que pelo menos 140 pessoas perderam a vida ao tentar passar o Muro de Berlim, que dividiu a cidade entre 1961 e 1989.