Al Jazeera acusa Autoridade Palestiniana de "esconder a verdade" após corte de emissões

por Carla Quirino - RTP
Jaafar Ashtiyeh - AFP

No primeiro dia do ano, a cadeia de televisão Al Jazeera, com sede no Catar, viu a delegação na Cisjordânia ocupada ser fechada por ordem da Autoridade Palestiniana. Já esta quinta-feira, o operador televisivo lançou duras críticas à decisão, alegando que está "de acordo com as ações da ocupação israelita contra o seu pessoal". A estação é acusada de transmitir conteúdos que incentivam a "desinformação".

Na quarta-feira, a Autoridade Palestina decidiu suspender temporariamente o trabalho da Al Jazeera na Cisjordânia ocupada por transmitir “material instigador" e "desinformação", de acordo com a agência palestiniana Wafa.

Perante tal suspensão, a cadeia televisiva lançou um comunicado a repudiar a decisão.

“A Al Jazeera Media Network denuncia a decisão da Autoridade Palestina de suspender o seu trabalho e cobertura na Cisjordânia. Consideramos que essa decisão é uma tentativa de dissuadir o canal de cobrir os eventos que estão em rápida escalada a ocorrer nos territórios ocupados”, reagiu esta quinta-feira a rede televisiva.

“E - infelizmente - tal decisão vem de acordo com a ação anterior tomada pelo Governo israelita, que fechou o escritório da Al Jazeera em Ramallah”, acrescenta-se na nota.

Em setembro, as forças israelitas emitiram uma ordem militar para que a Al Jazeera encerrasse as operações televisivas, após invadirem o escritório na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, onde a Autoridade Palestiniana está sediada.
A Al Jazeera solicita ainda à Autoridade Palestiniana que “cancele imediatamente a decisão” e permita que as suas equipas cubram livremente da Cisjordânia ocupada “sem ameaças ou intimidação”.

A cadeia de televisão também deixa claro “que esta decisão não impedirá o compromisso de continuar a cobertura profissional de eventos e desenvolvimentos na Cisjordânia”.

A rede diz-se “chocada com esta decisão, que vem num momento em que a guerra na Faixa de Gaza ainda está em curso, e continua o ataque sistemático e assassinato de jornalistas palestinianos pelas forças de ocupação israelitas”.

Responsabiliza ainda a Autoridade Palestiniana pela “total segurança” de todos os funcionários da Al Jazeera a trabalharem na Cisjordânia ocupada.
Suspensão do sinal
Um comité que inclui os ministérios da Cultura, do Interior e das Comunicações da Autoridade Palestiniana descreveram que na radiodifusão da Aljazeera eram transmitidos “material instigador e relatos com desinformação e agitavam conflitos” no país.

Por isso, decidiu suspender as operações da emissora no primeiro dia do ano.

A decisão veio depois de a Fatah, fação palestiniana que domina a Autoridade Palestina, ter proibido a Al Jazeera de dar notícias sobra a província de Jenin, na Cisjordânia ocupada, pelo norte. Isto porque a emissora emitiu reportagens em que citou a existência de confrontos entre as forças de segurança palestinianas e grupos armados, também palestinianos, que operam na área.

A 24 de dezembro, a Fatah acusou a emissora de semear a divisão na “pátria árabe em geral e na Palestina em particular” e encorajou os palestinianos a não cooperarem com a rede de televisão.

Por sua vez, a Al Jazeera respondeu apontando o dedo à Fatah, por ter lançado uma “campanha de incitamento” contra a emissora e aos seus jornalistas na Cisjordânia ocupada durante a cobertura dos confrontos.
Silenciar reportagem em Jenin
A Al Jazeera Media Network argumenta que impedir os seus jornalistas de realizarem a função de informar é “uma tentativa de esconder a verdade sobre o que se passa nos territórios ocupados, especialmente o que está a acontecer em Jenin e nos seus campos”.

Hamdah Salhut, em reportagem para a Al Jazeera, a partir da capital jordaniana, Amã, relatou que os ataques das forças de segurança palestinianas em Jenin foram impopulares entre os palestinianos na Cisjordânia.

“A Autoridade Palestiniana, que vem conduzindo os seus próprios ataques separados das forças israelitas, intensificou essa ofensiva nas últimas quatro semanas”, reportou Salhut. “Essas repressões em lugares como Jenin mataram vários palestinianos”, afirmou o jornalista.

Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestiniana (partido político que se apresenta como alternativa às fações existentes, Hamas e Fatah) afirmou à cadeia de televisão que “é um grande erro e essa decisão deve ser revertida o mais rapidamente possível”.

“Se a Autoridade Palestiniana tem algum problema com a Al Jazeera, deve discuti-lo com a emissora”, declarou Barghouti, “especialmente porque a Al Jazeera tem exposto os crimes contra o povo palestiniano e [tem] promovido a causa palestiniana em geral”.

“Mas, mais do que isso, é uma questão de liberdade de imprensa”
, insistiu.
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