"Agora é o momento". Blinken insta Israel a pôr fim à guerra em Gaza e a travar escalada com Irão

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Nathan Howard - Reuters

Na sua 11ª visita a Israel desde o início da guerra na Faixa de Gaza, o secretário de Estado norte-americano instou Telavive a aproveitar a "oportunidade importante" criada pela morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, para alcançar uma solução a longo prazo para o conflito e evitar uma "escalada maior" com o Irão, numa altura em que Israel intensifica os ataques contra o Hezbollah no Líbano. Antony Blinken alertou os líderes israelitas para a necessidade de "fazer muito mais" para que a ajuda humanitária chegue aos civis palestinianos, sob pena de verem cortada alguma assistência militar fornecida pelos EUA.

O mais alto diplomata norte-americano reuniu-se na terça-feira com o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, o ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, o ministro dos Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, e o presidente de Israel, Isaac Herzog, em Jerusalém e Telavive para discutir as ofensivas militares israelitas em Gaza e no Líbano, antes de prosseguir a sua digressão regional rumo à Arábia Saudita esta quarta-feira.
Aviso de Washington a Israel

No encontro com os líderes israelitas, Antony Blinken instou Israel a tomar "medidas adicionais" para permitir que a ajuda humanitária controlada por Israel "chegue aos civis" em toda a Faixa de Gaza sitiada, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA.

"Reiterei a importância de trazer de volta os reféns, de fazer chegar ajuda humanitária aos que dela necessitam e de pôr fim à guerra em Gaza de uma forma que proporcione segurança e estabilidade duradouras", escreveu Blinken na rede social X.


O aparente aviso de Washington a Telavive sobre a ajuda humanitária em troca de assistência militar surge na sequência de uma carta de Antony Blinken, co-assinada pelo secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin, que deu ao Governo de Netanyahu 30 dias para aumentar a ajuda humanitária no norte do enclave ou a arriscar-se a perder alguma da assistência miltiar.
"Render-se ou morrer à fome"

Blinken também terá pressionado os líderes israelitas sobre a alegada implementação de um plano de guerra no norte de Gaza, conhecido como o "plano dos generais", que consiste na utilização de uma tática de deslocação forçada em massa de civis e de rendição ou fome contra todos os que permaneçam, de acordo com um alto funcionário da administração Biden, citado pela BBC.

Segundo a mesma fonte, Telavive negou que esta tática de guerra fizesse parte da sua política, e acrescentou que a sua ofensiva militar no norte da Faixa de Gaza tem como objetivo derrotar o ressurgimento do Hamas. Ao que Blinken respondeu que tinham de esclarecer isso publicamente.

Apesar da assistência humanitária ter sido alegadamente uma questão central da reunião entre Blinken e Netanyahu, o comunicado do gabinete de primeiro-ministro de Israel não a menciona. Virando o seu foco para a "ameaça iraniana" contra Israel e a necessidade de os EUA e Israel se "unirem" contra esta ameaça. 

A Al Jazeera escreve que as leituras dos EUA e de Israel sobre as reuniões "foram bastante diferentes" com os EUA a procurarem sublinhar a "necessidade de encontrar uma solução diplomática" para o conflito, e Israel a concentrar-se na "perceção da ameaça do Irão e na necessidade de a enfrentar".
"Evitar escalada maior"

Antes de partir para a Arábia Saudita, Antony Blinken disse que "agora é o momento de transformar esses êxitos em êxitos duradouros e estratégicos", referindo-se ao sucesso militar israelita no desmantelamento de grande parte da capacidade do Hamas em Gaza e à morte do seu líder, Yahya Sinwar, na semana passada.


Em declarações aos jornalistas esta quarta-feira em Israel, o diplomata explicou que a solução deverá passar pelo regresso de todos os reféns a casa e o fim da guerra "com uma compreensão do que se seguirá".

A propósito da "ameaça iraniana", o secretário de Estado norte-americano considerou ser "muito importante que Israel responda de forma a não criar uma escalada maior" ao ataque com mísseis do Irão no início do mês.

c/ agências
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