Os talibãs, que instauraram o Emirado Islâmico depois da reconquista de Cabul, declararam uma “amnistia” em todo o Afeganistão e urgiram as mulheres a fazerem parte do Governo. Apesar das promessas dos talibãs de maior moderação, o povo afegão permanece cético e teme um retrocesso na sociedade, principalmente as mulheres.
Num discurso transmitido pela televisão do antigo Estado afegão, controlada desde domingo pelos talibãs, Samangani afirmou que “o Emirado Islâmico não quer que as mulheres sejam vítimas”, defendendo que “elas devem estar na estrutura do Governo de acordo com a lei sharia”.
O responsável do Emirado Islâmico acrescentou que “a estrutura do Governo não está totalmente definida”, mas afirma que “com base na experiência, deve haver uma liderança totalmente islâmica e todas as partes devem juntar-se”.
De acordo com a Associated Press, que cita a declaração transmitida pela televisão, Samangani não avançou com mais detalhes, mas sugeriu que o povo afegão já conhece as regras da lei islâmica que os talibãs esperam que sigam. “O nosso povo é muçulmano e não estamos aqui para os forçar ao Islão”, acrescentou.
Por outro lado, os insurgentes declararam que "uma amnistia geral foi declarada para todos (...) e que, por isso, todos devem regressar à normalidade, em confiança".
Afegãos temem regresso ao extremismo
Apesar das promessas dos talibãs de maior moderação, o povo afegão permanece cético e teme um retrocesso na sociedade, principalmente as mulheres, que durante 20 anos lutaram pela sua independência.
Entre 1996 e 2001, sob a governação dos talibãs – que têm uma interpretação extremista da lei islâmica –, as mulheres estavam em grande parte confinadas às suas casas, sem direito à educação. Eram obrigadas a usar burca e impedidas de sair à rua sem um homem a acompanhar.
Agora, os talibãs afirmam que não será negado o acesso à escola às mulheres e meninas, mas a vida das mulheres afegãs já mudou com a chegada dos extremistas ao poder. Os centros de estética foram encerrados em Cabul e os cartazes com mulheres foram retirados das ruas. Uma imagem de um homem a cobrir cartazes de mulheres nas montras das lojas com tinta está a tornar-se viral nas redes sociais.
Os talibãs também anunciaram que não se iriam “vingar” daqueles que trabalharam para o Governo ou para os serviços de segurança, mas as suas ações transmitem uma mensagem oposta. No mês passado, depois de terem conquistado a cidade de Malistan, na província de Ghazni, membros do grupo extremista foram de porta em porta em busca de pessoas que tinham trabalhado para o Governo, tendo matado pelo menos 27 civis.
“Calma regressou” ao aeroporto de Cabul
De acordo com os relatos das agências internacionais, "a calma regressou" ao aeroporto internacional de Cabul depois de um dia caótico marcado pela invasão de centenas de pessoas à pista do aeroporto, numa tentativa desesperada de fuga a bordo dos aviões dos Estados Unidos.
Alguns vídeos mostram mesmo pessoas a apoiarem-se nas laterais do avião, havendo relatos de vítimas que caíram do avião quando este já tinha descolado. Os soldados norte-americanos foram obrigados a disparar para dispersar multidões. Há registo de pelo menos sete vítimas mortais na segunda-feira no aeroporto de Cabul.
Esta terça-feira, o número de civis no aeroporto é muito menor e os voos militares de repatriamento foram retomados. Dois aviões militares, um francês e um alemão, realizaram uma primeira retirada de pessoas do aeroporto de Cabul.
Um avião militar francês realizou na madrugada de hoje uma primeira retirada de pessoas do aeroporto de Cabul no que pretende ser "uma ponte aérea" para tirar do país os franceses ainda presentes e os civis afegãos que colaboraram com o seu exército entre 2001 e 2014.
"Lançamos as bases para uma ponte aérea entre Cabul e Abu Dhabi", disse a ministra da Defesa francesa, Florence Parly, numa entrevista à rádio RTL, referindo que novos voos poderão ser organizados nos próximos dias.
A França enviou dois aviões militares para a sua base nos Emirados Árabes Unidos para organizar o repatriamento das "várias dezenas" de franceses que permanecem no Afeganistão e dos afegãos que trabalharam para as suas forças armadas durante a missão internacional naquele país.
Parly não quis dar uma estimativa de quantos afegãos poderiam chegar a França desta forma, considerando que seria prematuro, mas fez disse que o seu país não esperou até ao último minuto e que nos últimos anos já houve "várias centenas" de pessoas que saíram do país.
c/agências