Os talibãs asseguraram, esta terça-feira, o controlo total do aeroporto internacional de Cabul. Os líderes do movimento extremista islâmico afirmam que deram uma "lição" ao mundo, após o último avião norte-americano ter descolado, marcando o fim de 20 anos de guerra, a mais longa dos Estados Unidos. Numa ação simbólica, os talibãs caminharam pela pista do aeroporto vestidos com a farda militar americana, assinalando a vitória, flanqueados por combatentes da unidade de elite dos rebeldes Badri.
"O mundo deve ter aprendido a sua lição e este é o momento de apreciar a vitória", disse o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid.
Mais tarde, em declarações à Al-Jazeera, na pista do aeroporto, Mujahid afirmou que "haverá segurança em Cabul e as pessoas não se devem preocupar".
Numa outra entrevista, desta vez à televisão estatal afegã, o porta-voz talibã também referiu o reinício das operações no aeroporto, que continua a ser uma saída importante para os que querem deixar o país.
"A nossa equipa técnica irá verificar as necessidades técnicas e logísticas do aeroporto", explicou. "Se formos capazes de resolver tudo por nós próprios, então não precisaremos de qualquer ajuda. Se houver necessidade de ajuda técnica ou logística para reparar a destruição, então poderemos pedir ajuda ao Catar ou à Turquia", afirmou.
Durante a noite, o Pentágono confirmava que o último avião americano tinha partido de Cabul, deixando no país milhares de afegãos em desespero.
O general da Marinha Frank McKenzie, o chefe do Comando Central do Exército dos EUA, já tinha afirmado que as tropas "desmilitarizaram" o sistema para que nunca mais pudesse ser utilizado. Neste sentido, os EUA desativaram 27 viaturas blindadas e 73 aviões.
De acordo com outros oficiais norte-americanos, as tropas não explodiram determinados equipamentos para garantir que deixavam o aeroporto operacional para futuros voos.
Uma das imagens da noite é a do último soldado norte-americano a abandonar Cabul, ”pondo fim à missão” no Afeganistão. De acordo com o departamento da Defesa, o último soldado é o major general Chris Donahue.
The last American soldier to leave Afghanistan: Maj. Gen. Chris Donahue, commanding general of the @82ndABNDiv, @18airbornecorps boards an @usairforce C-17 on August 30th, 2021, ending the U.S. mission in Kabul. pic.twitter.com/j5fPx4iv6a
— Department of Defense 🇺🇸 (@DeptofDefense) August 30, 2021
Foguetes em Cabul
A saída das tropas americanas foi celebrada com foguetes na capital do Afeganistão.
Os talibãs também dispararam para o ar como forma de comemoração. Os guardas de serviço mantiveram afastados os curiosos e os que de alguma forma ainda esperavam apanhar um voo para fora.
Mohammad Naeem, porta-voz do gabinete político dos talibãs no Qatar, saudou igualmente o momento num vídeo `online`.
"Graças a Deus todos os ocupantes deixaram completamente o nosso país", disse, felicitando os combatentes, apelidando-os de guerreiros santos. "Esta vitória foi-nos dada por Deus. (...) Foi devido a 20 anos de sacrifício", destacou.
"O Afeganistão está finalmente livre", disse um outro alto militante talibã, Hekmatullah Wasiq. "O lado militar e civil está connosco e no controlo. Esperamos agora anunciar o nosso Gabinete. Tudo é pacífico. Tudo é seguro", insistiu.
Wasiq apelou aos civis para que voltem ao trabalho e reiterou a promessa de uma amnistia geral. "As pessoas têm de ser pacientes", disse. "Lentamente voltará tudo ao normal. (...) Vai levar tempo", garantiu.
Zalmay Khalilzad, o representante especial dos EUA que supervisionou as conversações dos Estados Unidos com os talibãs, escreveu na rede social Twitter que "os afegãos enfrentam um momento de decisão e oportunidade" após a retirada norte-americana
3/5 The Taliban now face a test. Can they lead their country to a safe & prosperous future where all their citizens, men & women, have the chance to reach their potential? Can Afghanistan present the beauty & power of its diverse cultures, histories, & traditions to the world?
— U.S. Special Representative Zalmay Khalilzad (@US4AfghanPeace) August 30, 2021