Afeganistão. Talibãs anunciam controlo do vale de Panchir e prometem governo para breve

por RTP
Fotografias publicadas nas redes sociais mostram elementos talibãs em frente do portão da residência do governador da província, após lutar com a Frente Nacional de Resistência (FNR), liderada por Ahmad Massoud. Reuters

Os talibãs reclamam a conquista do vale de Panchir, o último reduto da resistência afegã desde que os extremistas islâmicos aumentaram o controlo sobre o território do país durante o mês de agosto. O líder da resistência Ahmad Massoud fez saber que está “em segurança” e os talibãs dizem que o antigo vice-presidente fugiu do Afeganistão. Por outro lado, os talibãs tardam a anunciar o governo, mas garantem que tal não se deve a desacordos.

Numa publicação na rede social Twitter, Ahmad Massoud, filho do histórico líder da resistência às forças soviéticas na década de 1980 Ahmed Shah Massoud, garantiu encontrar-se “em segurança”. 
Mais tarde, o líder da Frente Nacional da Resistência (FNR) escreveu que ainda se encontra na área de Panchir e que "a Resistência vai continuar".

Ao início da manhã, o responsável pelas relações externas do grupo confirmou a morte em combate do general Abdul Wudod Zara e do principal porta-voz do grupo, Fahim Dashti. Também Ahmad Massoud lamentou a morte do jornalista na rede social Twitter. Dashti sobreviveu ao ataque suicida que matou o pai de Massoud, a 9 de Setembro de 2001, dois dias antes dos ataques da Al Qaeda em solo americano.
 
Segundo o porta-voz do movimento talibã, o antigo vice-presidente do Afeganistão Amrullah Saleh deixou o país e procurou refúgio no vizinho Tajiquistão. Saleh tinha-se juntado às forças da FNR após os talibãs terem tomado Cabul. Na semana passada, Saleh dava conta num vídeo que não tinha intenções de deixar o Afeganistão.

O vale de Panchir, um enclave de difícil acesso a 80 quilómetros a norte de Cabul, era a última zona do país que abrigava opositores armados aos talibãs, que conquistaram o poder em 15 de agosto e conseguiram a retirada das tropas estrangeiras no país nas duas semanas seguintes.

"Com esta vitória, o nosso país saiu completamente do marasmo da guerra. As pessoas vão viver agora em liberdade, paz e prosperidade"
, declarava, em comunicado, o principal porta-voz do movimento fundamentalista Zabihullah Mujahid.

"Os rebeldes foram mortos e os restantes fugiram. A respeitável população de Panchir foi resgatada aos sequestradores", acrescentou.

Os talibãs, de etnia maioritariamente pashtun, garantiram ainda aos habitantes de Panchir, de etnia tajik, que "ninguém será alvo de discriminação. São todos nossos irmãos e trabalharemos em conjunto para um país e um objetivo".

O vale de Panchir nunca foi ocupado, nem durante a ocupação soviética nos anos 1980, quando foi defendido pelo comandante Ahmed Shah Massoud - assassinado pela rede terrorista Al-Qaeda em 2001 -, nem durante a ascensão dos talibãs ao poder uma década depois.

A FNR, liderada pelo filho do comandante Massoud, integra membros das milícias locais e antigos membros das forças de segurança afegãs que chegaram à zona quando o resto do Afeganistão caiu nas mãos dos talibãs.

A FNR propôs um cessar-fogo e uma retirada dos talibãs da zona. "Em troca, pediremos às nossas tropas que se abstenham de qualquer ação militar", refere um comunicado da FNR, divulgado pelas agências internacionais após notícia de perdas pesadas sofridas pelo movimento durante o fim-de-semana. No entanto, Zabihullah Mujahid disse que a FNR deu “respostas negativas” quando tentaram negociar.
Talibãs prometem novo governo “em breve”
Os talibãs rejeitam que o anúncio da composição do novo governo afegão se deva a discórdias no movimento. Em conferência de imprensa, o porta-voz Zabihullah Mujahid disse que todas as decisões importantes já foram tomadas e que a composição do novo executivo será anunciada “em breve”.

Sem mais detalhes quando à data ou composição, Mujahid apenas admite que o novo governo afegão poderá ser interino, com possíveis mudanças no futuro, e promete que este será “inclusivo”.

Quando questionado sobre a política dos talibãs para as mulheres, o porta-voz repete anteriores garantias de respeito pelos seus direitos ao abrigo da sharia – a lei islâmica – sem mais uma vez explicar o que isso significa. “As mulheres são parte importante da nossa sociedade”, refere. No entanto, já são vários os relatos do aumento de repressão das mulheres.

O porta-voz referiu ainda que o líder supremo do grupo, Hibatullah Akhunzada “virá a público em breve”, após ter sido questionado sobre o motivo de Akhunzada ainda não ter aparecido em público. Akhunzada terá cerca de 60 anos e sempre viveu no Afeganistão. Contudo, o responsável pelas questões políticas, militares e religiosas dos talibãs mantém laços próximos com os líderes talibãs com base na cidade paquistanesa de Quetta.
Antigos soldados vão ser integrados nas novas forças armadas
Os talibãs também anunciaram que os soldados do antigo exército vão ser integrados nas novas forças armadas e de segurança.

O porta-voz anunciou que o Paquistão fechou as fronteiras por causa de problemas de segurança devido a fugas do Afeganistão.

Ainda na conferência de imprensa, os talibãs admitiram que o aeroporto de Cabul está muito danificado mas que os voos domésticos foram retomados. O movimento ainda não tem data marcada para o recomeço dos voos internacionais a partir da capital afegã.

Como a situação humanitária a deteriorar-se rapidamente, o chefe de operações da Organização das Nações Unidas chegou a Cabul para vários encontros com os talibãs. De acordo com a ONU, estes estão envolvidos em garantir a segurança dos trabalhadores humanitários bem como o acesso a ajuda.

Já o secretário de Estado norte-americano chega esta segunda-feira ao Qatar, onde vai ficar até quarte-feira. Antony Blinken deverá expressar "o profundo reconhecimento" de Washington aos governantes do Qatar pela ajuda do país na retirada de milhares de americanos e afegãos na segunda quinzena de agosto.


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