Afeganistão: Taliban proíbem a entrada de mulheres aos lagos de Bamyan

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Proibir o acesso das mulheres afegãs aos lagos de Bamyan é uma decisão "cruel", afirmam as ONG. Sérgio Ramos - RTP

Os Taliban anunciaram, no domingo, que querem proibir as mulheres afegãs de frequentarem o Parque Nacional Band-e-Amir, Património Mundial da UNESCO, na província turística de Bamyan, aumentando assim a longa lista de restrições a que estão sujeitas. Uma decisão "cruel" e "totalmente intencional" condenaram, esta segunda-feira, as organizações humanitárias.

No domingo, o Ministério do Vício e Promoção da Virtude do Afeganistão, anunciou que usará as forças de segurança para impedir que as mulheres visitem uma das atrações turísticas mais populares do país, alegando que não usam corretamente o lenço islâmico.
"Não contentes por privarem as raparigas e as mulheres da educação, do emprego e da liberdade de circulação, os Talibãs querem também retirar-lhes os parques e o desporto, e agora até a natureza", denunciou Heather Barr, diretora-adjunta dos direitos das mulheres da organização Human Rights Watch.
As organizações de defesa dos Direitos Humanos condenaram, esta segunda-feira, a decisão "cruel" de impedir o acesso das mulheres afegãs ao Parque Nacional Band-e-Amir, na província de Bamyan, maioritariamente habitada pela minoria xiita Hazara, e considerada a menos perigosa e uma das menos conservadoras do país.

"Passo a passo, os muros estão a fechar-se sobre as mulheres, com cada casa a tornar-se uma prisão", denunciou Heather Barr, num comunicado.

O vale do Bamyan, no centro do Afeganistão, é o principal destino turístico do país, esculpido por longos penhascos e formado por uma rede de lagos turquesa. Foi declarado Património Mundial da UNESCO em 2023.

Aqui muitas famílias afegãs costumavam alugar “gaivotas” para navegar nos lagos e passear ao longo das margens, mas agora esse direito parece estar reservado exclusivamente aos homens.

Mohammad Khalid Hanafi, ministro da Prevenção do Vício e da Promoção da Virtude, justificou a proibição, durante uma visita à província de Bamyan, alegando o uso incorreto do hijab, o lenço islâmico, nos últimos dois anos.
"Temos de tomar medidas sérias agora. Temos de impedir o desrespeito pelo hijab", afirmou o ministro afegão.
Acrescentando que "as mulheres e as nossas irmãs deixarão de poder viajar para Band-e-Amir enquanto não tivermos estabelecido diretrizes (...). O turismo existe, elas podem fazer turismo, mas o turismo não é obrigatório".

Entretanto o relator especial da ONU sobre a situação dos Direitos Humanos no Afeganistão, Richard Bennet, questionou a nova medida tomada pelo Governo Talibã, na sua conta da rede social X, antigo Twitter.

"Alguém pode explicar por que razão esta restrição às mulheres que vão à Band-e-Amir é necessária para cumprir a lei da Sharia e a cultura afegã?”.

A organização Human Rights Watch considera que "a explicação sobre o facto de uma mulher não usar um hijab adequado não faz qualquer sentido" e que "também está em causa a sua capacidade de sentir alegria".

c/agência France Presse

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