Uma operação levada a cabo por militares norte-americanos nos arredores de Cabul durante pelo menos duas semanas terá, no mês passado, permitido a retirada de cerca de mil cidadãos americanos, forças especiais afegãs e respetivos familiares através de uma antiga base secreta da CIA.
A operação clandestina, que terá acontecido essencialmente nas últimas duas semanas de agosto, permitiu a retirada de pelo menos mil afegãos em risco, incluindo militares e as suas famílias, assim como de centenas de americanos que residiam no Afeganistão, segundo o New York Times.
Os esforços terão sido coordenados com diplomatas e funcionários dos EUA que foram realocados da embaixada para o aeroporto Hamid Karzai, em Cabul. Todos os dias desde que os talibãs assumiram o controlo, estes diplomatas comunicaram com cidadãos americanos que pretendiam deixar o Afeganistão e que diziam temer pela própria segurança – especialmente depois de a própria embaixada ter desaconselhado idas até ao aeroporto devido a ameaças de ataques terroristas pelo autoproclamado Estado Islâmico.
Também o Comando de Operações Especiais Conjuntas do Pentágono ajudou na operação, ao contactar com centenas de americanos em Cabul e no resto do Afeganistão.
Um funcionário norte-americano confirmou ao Politico o envolvimento da CIA, a agência de inteligência do Governo dos Estados Unidos, na operação de evacuação. A CIA “trabalhou de perto com outras agências para facilitar, de várias maneiras, o acesso de cidadãos americanos e afegãos em risco ao aeroporto”, avançou a mesma fonte.
Eagle Base, a base secreta que acabou demolida
De acordo com a investigação do New York Times, a operação aconteceu numa ex-base militar secreta da CIA, a Eagle Base, que no passado foi alvo de polémica. Isto porque, para além de ter sido usada para treinar unidades afegãs de contraterrorismo, segundo um relatório do Governo norte-americano a base era também palco de práticas de tortura de suspeitos de terrorismo.
A infraestrutura que compunha a base foi gradualmente destruída no último mês para evitar que os talibãs apreendessem materiais sensíveis mas, ainda assim, o heliporto no local serviu para conduzir a evacuação. A 27 de agosto, a base acabou por ser totalmente demolida.
O New York Times utilizou imagens de satélite, documentos e trajetos de voos para perceber os contornos destas operações e o modo como os talibãs acabaram por conseguir aceder ao local.
A maioria das pessoas retiradas pelos militares e pela CIA terá sido levada por via aérea desde a Eagle Base até ao aeroporto de Cabul, conseguindo, assim, escapar ao caos em que se encontrava o aeroporto, enquanto milhares tentavam sair do país por medo do novo regime.
Os vários voos de helicóptero desde a base militar até ao aeroporto, operados por uma companhia norte-americana, terão começado a 15 de agosto, quando o grupo extremista islâmico tomou as rédeas da cidade.
Retirados escaparam por pouco a atentado terrorista
Os dados recolhidos pelo Politico sugerem que parte das pessoas retiradas foi levada para a Alemanha. Durante a segunda quinzena de agosto, aeronaves do Governo norte-americano voaram desde Cabul até à base aérea alemã de Ramstein.
Numa chamada telefónica às 16h00 (hora de Washington) a 25 de agosto, o comandante das forças militares dos EUA no Afeganistão estimou que cerca de mil entre os dois mil militares afegãos, assim como vários cidadãos americanos tinham sido retirados com sucesso da Eagle Base até ao aeroporto.
Estas pessoas saíram mesmo a tempo de Cabul, escapando por pouco do ataque terrorista que, poucas horas depois, fazia explodir um bombista-suicida do autoproclamado Estado Islâmico no exterior do aeroporto, matando 13 americanos e perto de duas centenas de afegãos.
Sem mencionar esta operação de evacuação, a Administração do presidente Joe Biden disse já terem sido retiradas mais de 124 mil pessoas do país. O líder continua a defender a decisão inicial de retirar os militares norte-americanos do Afeganistão.