Afeganistão. EUA mantêm "todas as opções" em aberto incluindo retirada

por Graça Andrade Ramos, RTP
Forças de segurança afegãs examinam os restos de um ataque Taliban em Cavul, em 20 de fevereiro de 2021 Reuters

A Administração Biden tem "todas as opções em cima da mesa" quanto ao Afeganistão, incluindo a retirada militar acordada por Trump. O novo secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, assumiu contudo que está preocupado com a possibilidade de os taliban aproveitarem a retirada de tropas na NATO e dos Estados Unidos para lançar uma nova ofensiva militar e reconquistar território.

Em janeiro, a nova Administração norte-americana, de Joe Biden, disse que pretendia rever o acordo de princípio assinado por Trump em fevereiro de 2020. As negociações de paz entre o Governo afegão e os taliban em Doha, capital do Qatar, têm estado a marcar passo à espera de uma decisão norte-americana. Em simultâneo os episódios de violência recrudesceram.

Numa carta enviada ao Presidente afegão, Ashraf Ghani, Blinken admite agora que a Casa Branca pretende garantias.

Antes de qualquer retirada, refere o secretário de Estado, os norte-americanos querem ter a certeza que os taliban "vão cumprir os seus compromissos".

No acordo conseguido pela anterior Administração, a NATO iria retirar militarmente do Afeganistão até 1 de maio e os taliban comprometiam-se a diminuir os seus ataques e a cortar laços com o terrorismo.

Embora os taliban tenham deixado de atacar as forças internacionais, a violência contra as tropas e o Governo afegão não diminuiu. Jornalistas, ativistas, políticos, mulheres e juízes têm sido regularmente alvo de assassinos.

Blinken assumiu preocupação com "o agravamento da situação securitária" em caso de retirada militar ocidental e "que os taliban possam ganhar terreno rapidamente" numa "ofensiva da primavera".

A Casa Branca apelou a um período de 90 dias de redução da violência no país e a um novo esforço de paz internacional supervisionado pelas Nações Unidas, para alcançar "um cessar-fogo permanente e abrangente".

"Espero que compreenda a urgência do meu tom", acrescentou o novo responsável pelo Departamento de Estado, ao dirigir-se a Ghani.

A carta afirma que, para a Casa Branca, "todas as opções permanecem em cima da mesa", incluindo tanto a retirada no prazo previsto como a permanência dos cerca de 2500 soldados que ainda mantém no Afeganistão.

"Estamos a estudar a retirada total das nossas forças até 1 de maio, como consideramos outras opções", referiu Blinken.
Reunião na ONU
A carta de Blinken a Ghani revela que os Estados Unidos irão pedir à ONU uma reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros e enviados da Rússia, da China, do Paquistão, do Irão, da Índia e dos Estados Unidos, "para debater uma abordagem unida para apoiar a paz no Afeganistão".

Acrescentou que Washington irá pedir ao Governo turco para receber um encontro de altos responsáveis "de ambas as partes nas próximas semanas, para finalizar um acordo de paz".Em Doha, um porta-voz dos taliban revelou que o grupo recebeu o esboço de um plano para o processo de paz e estava a estuda-lo. Em fevereiro o grupo advertiu os EUA contra um adiamento da data prevista de retirada.

A carta de Anthony Blinken foi enviada tanto a Ashran Ghani como a Abdullah Abdullah, o presidente do Conselho de Paz, e foi apresentada aos lideres afegãos pelo enviado de paz dos EUA, Zalmay Khalilzad, durante a sua visita a Cabul na semana passada.

Segunda-feira, Abdullah confirmou durante uma reunião, na capital afegã, que a carta lhe foi "entregue e ao Presidente Ghani dois dias antes da visita de Khalilzad". Este terá proposto a formação de um Governo interino, depois de uma reunião de todos os líderes afegãos numa conferência externa.

O Presidente afegão tem-se oposto veemente a esta ideia e afirmado que um novo Executivo deveria formar-se através de eleições.

Ashraf Ghani propôs sábado aos Taliban a renúncia à violência e o regresso às negociações, incluindo a possibilidade de eleições, num esforço para relançar o diálogo de paz.
O acordo de Trump
Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2001 após os ataques terroristas de 11 de setembro. A missão era derrubar os taliban, um grupo de cariz islamita que tinha assumido o Governo do país impondo a lei da sharia de forma restrita e autorizando no território campos de treino de jihadistas.

O esforço de guerra teve o apoio internacional, incluindo através da NATO. A Organização tem ainda 10.000 tropas no país.

Após quase 20 anos, com a resistência taliban ainda ativa, a Administração Trump prometeu deixar o Iraque resolver os seus próprios problemas sem intervenção americana, sob condições.

O acordo com os taliban, assinado em fevereiro de 2020, previa que os EUA e os seus aliados da NATO iriam retirar todas as tropas num prazo de 14 meses, se os taliban cumprissem as suas promessas, incluindo não permitir nas suas áreas atividades da al Qaida ou de quaisquer outros grupos militantes, e prosseguir negociações de paz.

Em troca, e como condição para se sentar à mesa de negociações com o Governo de Cabul, os taliban exigiram a troca de milhares dos seus homens numa troca de prisioneiros.

O movimento islâmico suspendeu os seus ataques às forças internacionais, como parte do acordo histórico, mas continuou as operações contra o Governo afegão. As negociações começaram em Doha em setembro de 2020, mas até janeiro nenhum acordo de paz tinha sido alançado.
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