A Polícia Nacional de Cabo Verde esclareceu hoje que o principal advogado cabo-verdiano do colombiano Alex Saab, considerado testa-de-ferro de Nicolás Maduro, foi detido na ilha do Sal por "injúrias e ameaça a agente da autoridade".
Em comunicado, o Comando Regional do Sal da Polícia Nacional referiu que a detenção do advogado cabo-verdiano José Manuel Pinto Monteiro aconteceu cerca das 15:00 de quarta-feira, "momentos após uma pretensa visita" - juntamente com outro colega da defesa - a Alex Saab, que se encontra desde janeiro em prisão domiciliária, sob fortes medidas de segurança.
"Após ser passado pelo procedimento de revista de segurança, foi-lhe dito para aguardar pelo término do processo junto ao seu colega. Ele não quis acatar a ordem, reagindo agressivamente e de forma desrespeitosa para com o agente, ofendendo oralmente a dignidade e moral deste, em pleno exercício da atividade", lê-se no comunicado.
A nota acrescenta que o advogado, de "forma intimidatória", proferiu "uma ameaça ao subchefe principal de serviço no local", de vigilância a Saab, garantindo "que vai contratar pessoas para o atacar".
A Lusa tentou contactar por vários formas o advogado José Manuel Pinto Monteiro, mas sem sucesso até ao momento.
A Polícia Nacional acrescentou que logo após a detenção foram-lhe comunicados os seus direitos e contactado o representante da Ordem dos Advogados na ilha do Sal, "dando-lhe conhecimento da detenção e dos factos que motivaram tal desfecho".
O escritório que assegura a defesa de Alex Saab, já condenou a detenção do advogado Pinto Monteiro em Cabo Verde, quando tentava visitar o seu cliente.
"Rejeitamos categoricamente a declaração emitida pelo Comandante Regional na Ilha do Sal, da Direção da Polícia Nacional, relativamente às alegadas ações do Dr. Pinto Monteiro", afirmou em comunicado de imprensa o gabinete que defende Alex Saab em Cabo Verde.
A defesa considera que Pinto Monteiro, que é sócio-gerente da empresa e atualmente o advogado principal em Cabo Verde de Alex Saab, "é um dos advogados mais graduados de Cabo Verde e tido na mais alta estima pelos seus pares, tanto a nível local como internacional".
Pinto Monteiro pretendia entrar na casa onde Saab está detido, para realizar a sua reunião diária com ele, tendo "protestado contra a brusquidão da busca a que foi submetido antes de poder entrar na casa".
"Instamos o Governo de Cabo Verde a reconsiderar a sua posição e a parar de interferir com a equipa de defesa do embaixador Saab no seu direito de exercer os seus deveres profissionais", afirmou a defesa.
Alex Saab, de 49 anos, foi detido em 12 de junho de 2020 pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos Estados Unidos da América (EUA), quando regressava de uma viagem ao Irão em representação da Venezuela, na qualidade de "enviado especial".
O Tribunal da Relação do Barlavento, na ilha de São Vicente, já decidiu por duas vezes -- a última das quais em janeiro, ambas com recurso da defesa -- pela extradição de Alex Saab para os EUA.
O Governo da Venezuela exige a libertação de Alex Saab, garantindo que aquando da detenção no Sal, possuía imunidade diplomática, pelo que Cabo Verde não podia ter permitido este processo.
Por ter ultrapassado o prazo legal de prisão preventiva, o empresário colombiano foi colocado em prisão domiciliária no final de janeiro, mas sob fortes medidas de segurança.
Neste processo, os EUA, que pedem a extradição do colombiano, acusam Alex Saab de ter branqueado 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.