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Adepta de Trump poderá ser expulsa do Congresso por difamação e incitamento ao crime

por Joana Raposo Santos - RTP
A proposta de expulsão da polémica congressista precisa apenas de uma maioria simples para ser aprovada. Foto: Erin Scott - Reuters

A republicana Marjorie Taylor Greene tem gerado polémica devido às teorias da conspiração que defende. Acusa empresários judeus de terem usado um laser espacial para incendiar a floresta da Califórnia, acredita que os tiroteios em escolas são encenações de opositores do uso de armas e chegou a dar força ao rumor de que Hillary Clinton bebeu o sangue de uma criança num ritual satânico. Agora, a Câmara dos Representantes prepara-se para expulsar a congressista dos comités a que pertence.

Na quarta-feira, o líder da maioria democrata na Câmara dos Representantes, Steny Hoier, lançou um ultimato ao homólogo republicano, Kevin McCarthy: ou Marjorie Taylor Greene é expulsa do Comité de Educação e Trabalho e do Comité Orçamental aos quais pertence, ou o Partido Democrático tratará de avançar com legislação nesse sentido.

McCarthy classificou esta exigência democrata de “abuso de poder partidário”, apesar de condenar “os comentários sobre violência política, tiroteios em escolas e teorias da conspiração antissemitas” feitos pela congressista eleita pela Geórgia.

O líder dos republicanos na Câmara dos Representantes referia-se a comentários lançados ou apoiados por Marjorie Greene nos últimos anos e que têm vindo a ser condenados por ambas as forças políticas dos EUA. O mais recente episódio aconteceu no dia da invasão do Capitólio, quando terá incitado à violência por não acreditar que Donald Trump tivesse perdido as eleições presidenciais.

Dias depois, após democratas terem começado a insistir para que fosse expulsa da câmara baixa do Congresso, Greene veio condenar a violência na invasão ao edifício. Ainda assim, não resistiu a tecer mais comentários polémicos: “O movimento terrorista Antifa/Black Lives Matter depende de cúmplices democratas como Cori Bush, Ilhan Omar, Kamala Harris, Alexandria Ocasio-Cortez e muitos mais”, escreveu num tweet.

A republicana apoia o movimento QAnon, cuja teoria-base é a de que o ex-presidente Trump estava a levar a cabo uma guerra contra democratas, elementos da comunicação social e empresários que acusa de serem pedófilos, traficantes de menores e até canibais.

O QAnon acredita que esta alegada luta levará à detenção e execução de figuras de relevo, entre as quais a democrata e antiga candidata presidencial Hillary Clinton.

Mas o apoio a teorias da conspiração não fica por aqui. Greene sugeriu também que uma empresa de judeus estaria envolvida nos incêndios que devastaram a Califórnia no ano passado, tendo esses judeus alegadamente utilizado um laser espacial. Segundo a republicana, o objetivo seria limpar o caminho para a construção de um caminho de ferro de alta velocidade.

Esta teoria da conspiração foi alvo de várias piadas, em especial no Twitter.


Greene acredita ainda que os tiroteios em escolas norte-americanas em 2018, que causaram dezenas de mortes, não passaram de encenações montadas por grupos que se opõem ao uso de armas nos Estados Unidos, para que pudessem ter argumentos a seu favor.

Após este comentário, vários alunos e responsáveis dessas escolas exigiram a demissão de Greene. “Os tiroteios nas nossas escolas foram reais. Crianças reais e comunidades estão ainda em luto. Devia ter vergonha”, criticaram.
Teoria sobre alegado ritual satânico de Hillary Clinton
Em redes sociais, a congressista republicana já apoiou teorias racistas e incentivou à violência contra Nancy Pelosi e Barack Obama, entre outros democratas.

Em janeiro de 2019, antes de concorrer ao Congresso, criou uma petição para destituir Pelosi por alegados “crimes de traição”, nomeadamente a criação de políticas “que servem os imigrantes ilegais e não os cidadãos dos Estados Unidos” ou a falta de apoio ao muro fronteiriço de Trump.

Na mesma altura, colocou um “gosto” num comentário no Facebook de alguém que sugeria “uma bala na cabeça” de Nancy Pelosi como a solução para a remover da liderança da Câmara dos Representantes.

Colocou também "gostos" em comentários sobre a execução de agentes do FBI que não apoiassem Donald Trump.

Quando, em abril de 2018, alguém lhe perguntou num post do Facebook se se deveria enforcar Hillary Clinton e Barack Obama, Greene respondeu que “o palco está a ser montado e os atores estão a ser colocados no sítio”. “Isto deve ser feito de forma perfeita, caso contrário os juízes liberais vão deixá-los ir em liberdade”, acrescentou.

Greene chegou ao ponto de acusar Hillary Clinton de “ter assassinado uma criança durante um ritual satânico e ter bebido o seu sangue”. Esta teoria foi espalhada pela congressista depois de rumores nas redes sociais sobre um vídeo – inexistente – no qual Clinton cometia esse crime.

Todas estas teorias da conspiração foram debatidas numa reunião à porta fechada do Partido Republicano na quarta-feira. Em sua defesa, a republicana terá referido perante os colegas que têm sido outras pessoas a gerir as suas redes sociais ao longo dos anos. “Muitas das publicações não representam os meus ideais”, declarou, segundo uma fonte da CNN.

Esta quinta-feira a Câmara dos Representantes irá votar a sua expulsão dos comités aos quais pertence. O líder dos republicanos na câmara baixa já sugeriu transferir Greene para um outro comité, o dos Pequenos Negócios, por ser também empresária, mas os democratas não deverão aceitar.

A proposta de expulsão da polémica congressista precisa apenas de uma maioria simples para ser aprovada. Sendo a Câmara dos Representantes de maioria democrata, está praticamente garantida.
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