Acusado de inércia. Bento XVI admite ter participado em reunião sobre abusos sexuais
O papa emérito Bento XVI admitiu esta segunda-feira ter estado, afinal, presente na reunião de 1980 na qual foi discutido o comportamento de um padre que alegadamente cometeu abusos sexuais contra menores. Inicialmente, Ratzinger tinha negado a sua presença.
O documento, encomendado pelo arcebispado a uma equipa de advogados, registou que Joseph Ratzinger não agiu quando devia para impedir os casos apontados, acusações que o Papa emérito refutou “contundentemente”.
Depois de Bento XVI ter negado estar presente numa reunião em 1980 durante a qual foi discutido o tema dos abusos sexuais levados a cabo por um padre, os investigadores mostraram parte dessa reunião e consideraram “pouco credível” a versão dos factos do antigo papa.
Agora, Bento XVI admite ter participado nesse encontro e justifica a sua anterior negação com um “erro na edição do comunicado”.
A confissão foi divulgada esta segunda-feira num comunicado enviado à Agência Católica de Notícias pelo secretário pessoal do papa emérito, o arcebispo Georg Gänswein. Segundo este, o erro no anterior comunicado “não foi cometido por maldade”, sendo apenas “o resultado de uma falha no processo editorial”.
Bento XVI “pede muitas desculpas” por este erro e pede para ser perdoado, declarou o secretário.
Ainda de acordo com Gänswein, o papa emérito pretende lançar mais tarde um comunicado detalhado, justificando a demora com o facto de o relatório independente aos abusos na Igreja ter 1.900 páginas e, por isso, ser necessário mais tempo para o analisar.
O que Bento XVI já pôde ler do relatório em questão “enche-o de vergonha e dor por todo o sofrimento” infligido às vítimas, assegurou o representante.
“Equilíbrio de horrores”
O relatório contempla centenas de casos de abuso sexual ocorridos dentro da Igreja Católica alemã, incluindo na arquidiocese onde Ratzinger foi arcebispo entre 1977 e 1982, desde o período pós-guerra até praticamente ao presente.
O documento culpa sucessivas hierarquias da Igreja por não terem agido para os travar, no mínimo, ou mesmo de os encobrir. Os advogados que apresentaram o relatório adjetivaram como um "equilíbrio de horrores" a sua análise dos casos de abuso que abordaram no estudo.
Em dois dos casos atribuídos ao período em que Ratzinger estava à frente daquele arcebispado, os abusos foram alegadamente cometidos por dois clérigos que prestaram assistência espiritual e contra os quais nunca foram tomadas quaisquer medidas.
c/ agências