Acusado de "ajudar o inimigo". Jornalista norte-americano Jeremy Loffredo libertado após ser detido por forças israelitas

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

No início da semana cinco jornalistas foram detidos na Cisjordânia pelas autoridades israelita. Jeremy Loffredo estava entre os presos por alegada "suspeita de graves delitos" e de "ajudar o inimigo" após publicar uma reportagem sobre os ataques iranianos contra Israel. Esta sexta-feira, quatro dias após a detenção, o jornalista norte-americano foi libertado, embora esteja para já proibido de sair do país.

A polícia israelita prendeu Loffredo, um jornalista independente de Nova Iorque, sob suspeita de ajudar um inimigo na guerra. Segundo a advogada responsável pela sua defesa, citada pelo jornal Intercept, esta alegação pode levar em Israel a uma sentença máxima de prisão perpétua ou morte.

Em causa estão as reportagens de Loffredo para o Grayzone, que indicavam as localizações de vários mísseis iranianos lançados contra alvos militares dentro de Israel no início deste mês, incluindo imagens perto de Nevatim, uma base aérea israelita, e da sede do Mossad em Telavive. Segundo Lea Tsemel, embora estes alvos tenham sido apresentados em transmissões de outros meios de comunicação, as autoridades israelitas argumentaram que as reportagens do jornalista norte-americano podia permitir que o Irão estudasse alvos futuros.

“Ele não fez nada de original — usou informação de diferentes fontes que já foram publicadas, por toda parte, por jornalistas israelitas e estrangeiros”, explicou Tsemel ao Intercept, criticando as tentativas do Governo de Israel de acusar Loffredo e classificando-as como “absurdas”.

Esta sexta-feira, um tribunal israelita ordenou a sua libertação, obrigando Loffredo a permanecer no país pelo menos até 20 de outubro, para permitir que as autoridades tenham mais tempo para novas investigações ou interrogatórios. Ainda segundo a advogada israelita especializada em direitos civis que representou o repórter, a polícia ficou com o telemóvel de Loffredo e conseguiu desbloquear o dispositivo, pretendendo revistá-lo à procura de potenciais provas.
Alegada censura

A detenção de Loffredo aconteceu numa altura em se assiste ao crescente número de jornalistas, israelitas ou estrangeiros, que têm sido alvo na guerra no Médio Oriente. De acordo com dados oficiais da Comissão de Proteção dos Jornalistas, terão já sido mortos por forças israelitas pelo menos 126 jornalistas, desde 7 de outubro do ano passado.

Segundo a mesma fonte, pelo menos cinco desses profissionais foram alvos específicos de Israel pelo seu trabalho e há outros dez casos cujas causas de morte ainda estão a ser investigadas. Além disso, na Cisjordânia, foram registadas 69 detenções de jornalistas, sendo que 43 permanecem sob custódia israelita.

A comunicação social de Israel também foi alvo de censura no que toca à cobertura do ataque de mísseis iranianos. As Forças de Defesa de Israel proibiram os meios de comunicação israelitas de publicar os locais exatos dos impactos dos mísseis, de acordo com o Times of Israel.

Antes da libertação de Loffredo, o Grayzone deixou uma mensagem na rede social X apoiando a reportagem que levou à sua detenção.

“A alegação de que Loffredo e o Grayzone representam o inimigo de Israel em tempos de guerra sugere apenas que o Governo israelita vê o povo norte-americano e a imprensa livre como um alvo legítimo. (…) Não representamos mais ninguém”.


A declaração apela ainda ao Departamento de Estado dos Estados Unidos para sair em defesa de Loffredo, sublinhando que os EUA “têm a obrigação de defender os seus jornalistas que estão apenas a cumprir a sua obrigação ética de informar o público sobre factos pertinentes”.

Entretanto, um porta-voz do Departamento de Estado disse ao Intercept que estava "ciente dos relatos de um cidadão norte-americano preso em Israel” e que estava a “monotonizar a situação".

“Não temos prioridade maior do que a segurança dos cidadãos norte-americanos no exterior”
, disse o porta-voz.

Como testemunha em tribunal, um jornalista israelita da Ynet News afirmou que a reportagem de Loffredo não violava a censura do Governo e indicou várias outras reportagens semelhantes.
PUB