O colombiano Alex Saab, detido em Cabo Verde, classificou hoje, em entrevista escrita à Lusa, como "ridícula" a acusação norte-americana de ser um testa-de-ferro de Nicolás Maduro, considerando que o seu "único crime" é "trabalhar" pela Venezuela.
Na entrevista, questionado pela Lusa sobre a acusação norte-americana que levou à detenção na ilha do Sal em junho, Alex Saab recorda o seu estatuto de "enviado especial" da Venezuela, que lhe confere imunidade diplomática, sendo também desde dezembro representante permanente suplente do país junto da União Africana.
Sobre a acusação de ser um testa-de-ferro de Maduro, o empresário colombiano é direto: "Ridícula", uma forma de "assédio" e de "desacreditar" a Venezuela e o Presidente Nicolás Maduro.
"Sou grato pelas oportunidades que a Venezuela me proporcionou nos últimos 15 anos. Em retribuição, considero uma grande honra ter recebido a tarefa de apoiar os programas de assistência social de que o povo venezuelano necessita, especialmente durante a pandemia de covid-19", afirmou.
Insiste que as nomeações atribuídas pela Venezuela acontecem porque trabalha "incansavelmente para retribuir a confiança do Presidente Maduro, da sua equipa e do povo venezuelano".
"O meu único crime é trabalhar para o meu Presidente e para o seu povo. O nosso país está a superar barreiras incríveis para erradicar a pandemia e estamos a trabalhar em cooperação com outros países, incluindo vários em África, e é por isso que a minha nomeação como embaixador [União Africana, em dezembro último] faz todo o sentido", acrescentou.
Alex Saab, de 49 anos, foi detido em 12 de junho pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, na ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, quando regressava de uma viagem ao Irão.
O Governo da Venezuela afirmou que Saab viajava com passaporte diplomático daquele país, enquanto "enviado especial", pelo que não podia ter sido detido, e continua a exigir a sua libertação.
Entretanto, a equipa internacional de defesa de Alex Saab, liderada pelo antigo juiz espanhol Baltasar Garçón, tem até 09 de janeiro para apresentar o anunciado recurso para o Supremo Tribunal de Justiça da decisão de 04 de janeiro, do Tribunal da Relação do Barlavento, favorável à extradição de Alex Saab para os EUA.
Para Alex Saab, todo o processo é "sem dúvida" uma forma de os Estados Unidos visarem a Venezuela: "Sou um mero instrumento ou meio para alcançar esse fim".
"O regime do Presidente Trump, que como todos viram nos últimos dias inclusive patrocinou e apoiou uma tentativa de golpe contra os órgãos legislativos dos Estados Unidos, tem uma obsessão pela República Bolivariana da Venezuela e pelos seus órgãos de Governo. A obsessão do regime de Trump com o Presidente Maduro e a Venezuela não tem precedentes e ele usou todos os mecanismos à sua disposição para aniquilá-los", acusou Alex Saab.
Para o colombiano, "é inegável que o processo vingativo e infundado iniciado pelos EUA" representa também "um abuso judicial extraterritorial", em Cabo Verde, e "politicamente motivado", numa "guerra judicial" que está a acontecer, neste caso, numa "escala nunca vista antes".
Neste processo, os EUA, que pedem a extradição do colombiano, acusam Alex Saab de ter branqueado 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, através do sistema financeiro norte-americano.