A União Europeia e os países signatários do acordo nuclear com o Irão reuniram-se em Viena, esta terça-feira, para preparar o regresso ao tratado por parte de Washington, que o abandonou unilateralmente em 2018. No final do primeiro dia de negociações, vários diplomatas concordaram que as reuniões foram "construtivas" e "bem-sucedidas".
"Para nós é uma posição realista e promissora. Essa posição pode ser o início da correção de um mau processo que colocou a diplomacia num impasse. Nós saudamos essas declarações", disse o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabii, durante uma conferência de imprensa em Teerão.
"As reuniões em Viena foram construtivas. A próxima reunião será na sexta-feira", disse Araghchi à Press TV. "Continuamos a recusar qualquer acordo sobre o acesso aos mil milhões de dólares de dinheiro iraniano [congelado na Coreia do Sul] em troca da suspensão do enriquecimento de urânio a 20 por cento", disse ainda.
"O Irão está totalmente pronto para reverter a sua atividade e regressar à implementação completa do acordo imediatamente após a verificação das sanções".
De acordo com o Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros, as negociações de Viena incluem "negociações técnicas em reuniões de especialistas" para avaliar como as sanções dos EUA podem ser levantadas e como o Irão pode voltar a cumprir integralmente o acordo. Daí a complexidade destas negociações, uma vez que as sanções norte-americanas têm como alvo uma série de indivíduos e entidades iranianas, incluindo por motivos de "terrorismo" e abusos dos direitos humanos, avança Aljazeera.
The Joint Commission meeting of #JCPOA was successful. Two expert-level groups (on sanctions lifting and nuclear issues) were tasked to identify concrete measures to be taken by Washington and Tehran to restore full implementation of JCPOA. The groups started to work immediately pic.twitter.com/RSw41D4Yix
— Mikhail Ulyanov (@Amb_Ulyanov) April 6, 2021
"O restabelecimento" do acordo, concluído em 2015 em Viena e numa fase crítica após a retirada em 2018 dos Estados Unidos, "não surgirá no imediato. Vai levar tempo", escreveu também na rede social Twitter.
O diplomata acrescentou que o "mais importante (…) foi ter-se iniciado o trabalho prático para atingir esse objetivo".
Constructive Joint Commission meeting. There's unity and ambition for a joint diplomatic process with two expert groups on nuclear implementation and sanctions lifting. As Coordinator I will intensify separate contacts here in Vienna with all relevant parties, including US. pic.twitter.com/aQc6CSXlHc
— Enrique Mora (@enriquemora_) April 6, 2021
Noutra publicação, Mora tinha reiterado que o objetivo destas conversações "é o regresso da implementação plena e efetiva do acordo por todas as partes".
De acordo com o Departamento de Estado norte-americano, Rob Malley está na capital austríaca para discutir com o grupo P4+1 e a União Europeia que está a tentar mediar o processo relativo ao eventual regresso dos Estados Unidos ao acordo, mas não esteve nas reuniões desta terça-feira porque não reunirá diretamente com o homólogo iraniano.
O acordo internacional sobre a energia nuclear iraniana, concluído em Viena em 2015, foi afetado pela decisão unilateral dos Estados Unidos que, em 2018, sob a administração de Donald Trump, abandonou o tratado e impôs sanções contra Teerão. Desde essa altura, Teerão tem violado as restrições do acordo, nomeadamente em relação ao enriquecimento de urânio e à quantidade que armazena.
O acordo previa o alívio das sanções internacionais contra o Irão em troca da criação de limites ao seu programa nuclear. Agora Joe Biden promete voltar a assiná-lo mas com a condição de que o Irão retome, primeiro, os compromissos assumidos, que o país quebrou no momento da saída dos EUA.
Já Teerão afirma que as sanções estão a prejudicar a economia iraniana e, portanto, considera que Washington tem de dar o primeiro passo.