Com uma diplomacia armadilhada pelas derradeiras decisões do ex-presidente Donald Trump, que a cinco dias de deixar a Casa Branca impôs novas sanções contra o regime de Teerão, Joe Biden tem pela frente um longo caminho de reconstrução das relações externas americanas. O dossier nuclear iraniano será, neste contexto, um dos mais espinhosos.
Depois da retirada de Trump – em maio de 2018 – de um acordo nuclear atingido três anos antes (2015) com o Irão, e que levava a assinatura de várias potências internacionais, verificou-se uma escalada de sanções assinadas a partir da Casa Branca, as últimas já este mês de janeiro, a escassos dias da mudança de turno em Washington.
O acordo internacional atingido durante a Presidência de Barack Obama era fruto de entendimentos multilaterais trabalhados com várias potências ao longo de dois anos de intensas negociações.
Rasgado o entendimento, ergueu-se um muro entre o Irão e os Estados Unidos, uma barreira que foi crescendo com as sanções impostas a partir de Washington, apesar dos apelos de vários parceiros internacionais para um regresso à diplomacia.
Numa tentativa de reverter a política isolacionista de Trump, Biden já deixou a promessa de um novo posicionamento dos Estados Unidos no tabuleiro internacional, sendo a questão nuclear iraniana apenas mais um dos dossiers em cima da mesa. Num sinal de abertura para recuperar o entendimento nuclear com um dos protagonistas mais poderosos do Médio Oriente, Antony Blinken, recém-chegado ao cargo de secretário de Estado, manifestou vontade de trabalhar com Teerão.
O primeiro passo
No entanto, há já um primeiro entrave à recuperação do acordo: quem dará o primeiro passo. Blinken não aceita a pressão de Teerão para que sejam os Estados Unidos a avançarem primeiro, dizendo aguardar um sinal de boa-fé da parte iraniana, ou seja, que regressem à conformidade nos seus compromissos.
“O Irão encontra-se em incumprimento em várias frentes. E levaria algum tempo, se fosse essa a sua decisão, para regressar ao cumprimento e para que nós pudéssemos avaliar se estava de facto a cumprir as suas obrigações”, declarou Blinken, considerando que “ainda não chegámos a esse ponto, para dizer o mínimo”.
A questão das sanções poderá ser a primeira pedra a tirar de cima da mesa de forma a abrir o caminho para um reencontro das duas partes. A este respeito, Blinken deixou um primeiro sinal de boa vontade: “O Presidente Biden tem sido muito claro ao afirmar que volte o Irão a cumprir integralmente as suas obrigações no âmbito do acordo nuclear internacional e os Estados Unidos farão a mesma coisa”.
De Teerão, a resposta partiu inevitavelmente de Javad Zarif, o ministro dos Negócios Estrangeiros.
Javad Zarif questiona através do Twitter “por que terá se ser o Irão – que se manteve firme e derrotou 4 anos de brutal terrorismo económico dos EUA imposto em violação da Resolução JCPOA & UNSC – a mostrar o primeiro gesto de boa vontade? Foram os EUA que quebraram o acordo sem razão. Têm de remediar o seu erro; então o Irão responderá”.
É nesse sentido que o chefe da diplomacia iraniana exige aos Estados Unidos “que cumpram as suas obrigações” começando por colocar um ponto final nas sanções assinadas por Donald Trump e em particular nos esforços da Administração Trump de minar a capacidade de exportação de petróleo de Teerão.
O xadrez da região já levou entretanto Israel a dar a sua contribuição para a discussão. O grande aliado dos Estados Unidos no Médio Oriente considera que o regresso ao acordo de 2015 seria um erro.