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Acordo migratório UE-Tunísia. Comissão Europeia acusada de passar cheque em branco a ditadores

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Foto: Rachel Mestre Mesquita - RTP

Um grupo de eurodeputados do Parlamento Europeu afirma que 150 milhões de euros de financiamento da União Europeia foram diretamente para as mãos do presidente tunisino, Kaïs Saïed, no âmbito de um acordo de migração e desenvolvimento assinado no ano passado entre a UE e a Tunísia.

Esta quarta-feira, 13 de março, numa conferência de imprensa em Estrasburgo sobre os riscos do apoio da UE ao orçamento estrutural da Tunísia, os eurodeputados da Comissão parlamentar dos Direitos do Homem, da Justiça e dos Assuntos Externos do Parlamento Europeu manifestaram o seu receio com a possibilidade da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, estar prestes a fechar um acordo semelhante com o Egipto, num valor superior a sete mil milhões de euros, segundo notícia o jornal Financial Times.

Os eurodeputados acusam a Comissão Europeia de se recusar a responder a perguntas sobre o acordo com a Tunísia e temem que estejam a ser analisados mais acordos “ad hoc” com outros países africanos, ignorando as violações dos direitos humanos nesses países, escreve o jornal britânico The Guardian.

"Parece que estamos a financiar ditadores em toda a região. E não é essa a Europa que queremos ver. Não é esse o lugar que a UE deve ocupar no mundo", disse Mounir Satouri, membro da comissão parlamentar dos Assuntos Externos, na conferência de imprensa, segundo o Guardian. 

O eurodeputado francês prosseguiu com uma acusação sobre o desvio do dinheiro da UE - prometido à Tunísia no ano passado como parte de um pacto migratório para travar o aumento da migração ilegal para a Europa – e que acabou por ser “transferido diretamente para o presidente (Kaïs Saïed)” e não foi investido no país como acordado.
Cheque em branco de 150 milhões de euros
Na conferência de imprensa os eurodeputados denunciaram ainda a “mudança autoritária” que se verificou na Tunísia, sob a presidência do presidente Kaïs Saïed, e que não impediu a Comissão Europeia de avançar com o acordo, desconsiderando a democracia e o Estado de direito naquele país.


"Nós, @verdes/EFA, exigimos que a @Comissão da UE justifique o seu cheque em branco de 150 milhões de euros à #Tunísia de #KaïsSaïed." escreveu o eurodeputado ecologista, Mounir Satouri, na rede social X. "A UE não pode financiar a destruição da #democracia #tunisina por um ditador que prende sistematicamente os seus opositores e jornalistas!", acrescentou.

"Assinar um acordo com o Presidente Saied, que continua a reprimir a oposição e a democracia na Tunísia, não é a forma como a UE deve atuar. Esta não é a forma como a Europa deve fazer a sua política externa" afirmou a eurodeputada dinamarquesa Karen Melchior, coordenadora da comissão parlamentar da Justiça e dos Assuntos Internos, denunciando o silêncio dos comissários europeus que se têm recusado responder às questões “continuamente ignoradas” dos eurodeputados sobre o acordo com a Tunísia. 

Um acordo feito "à pressa" e "às escondidas" e "sem qualquer debate crítico" segundo Udo Bullman,  presidente da comissão parlamentar dos direitos humanos.

Os eurodeputados defendem que a União Europeia tem a obrigação de supervisionar a aplicação financeira dos fundos europeus transferidos e de obter garantias em matéria de direitos humanos. 

“É necessário garantir que o dinheiro dos contribuintes europeus beneficia efetivamente o povo tunisino e a sociedade civil e que o financiamento europeu à Tunísia deve ser adequadamente condicionado para esse fim”, defendeu Michael Gahler, o eurodeputado alemão da CDU impedido de visitar a Tunísia pelas autoridades locais no ano passado, conta o jornal The Guardian.
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