Acordo de terras raras sobre a mesa. Casa Branca prepara-se para receber Zelensky

por Cristina Sambado - RTP
Zelensky esteve com Trump em Nova Iorque no final de setembro Shannon Stapleton - Reuters

Donald Trump revelou que Volodymyr Zelensky deverá visitar a Casa Branca na próxima sexta-feira com vista a assinar um acordo sobre minerais e terras raras para pagar a ajuda militar dos Estados Unidos, desde o início da invasão em grande escala da Rússia.

O anúncio foi feito após dias de negociações tensas entre os EUA e a Ucrânia, em que Zelensky alegou que os Estados Unidos estavam a pressionar para assinar um acordo no valor de mais de 500 mil milhões de dólares que obrigaria “dez gerações” de ucranianos a pagar.Os meios de comunicação social norte-americanos noticiaram na terça-feira que os termos de um acordo tinham sido alcançados.

Ouvi dizer que vem na sexta-feira. Se quiser, para mim muito bem. E gostaria de assinar junto comigo e eu compreendo. É um grande acordo. E acho que o povo americano, se vir nas sondagens, está muito feliz porque Biden distribuiu dinheiro como se fossem rebuçados”, afirmou Trump aos jornalistas na Sala Oval.
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O presidente norte-americano frisou ainda que o país não devia “ter tido este problema, porque não deveria ter acontecido. Mas aconteceu, por isso temos de o resolver. Mas o contribuinte americano vai reaver o seu dinheiro, e mais”.

Segundo o jornal norte-americano Financial Times, que foi o primeiro a noticiar o acordo, os novos termos do documento não incluíam as exigências onerosas de um direito a 500 mil milhões de dólares em receitas potenciais provenientes da exploração dos recursos, que incluem metais de terras raras e recursos ucranianos de petróleo e gás.

A estrutura do acordo incluía a propriedade conjunta de um fundo para desenvolver os recursos minerais da Ucrânia, com algumas ressalvas para os recursos que já contribuem para o Orçamento do Estado ucraniano.


Essa proposta era mais favorável a Kiev do que o acordo original proposto por Washington, mas não incluía referências às garantias de segurança a longo prazo que a Ucrânia pretendia receber no acordo.

Alguns pormenores do acordo permaneceram pouco claros, incluindo a participação dos EUA no novo fundo.

350 mil milhões de dólares, equipamento militar e o direito de continuar a lutar”, respondeu Trump aos jornalistas quando questionado sobre o valor que a Ucrânia receberia no acordo.

Já negociámos praticamente o nosso acordo sobre a terra e várias outras coisas”, acrescentou Trump. "Mais tarde, vamos procurar (...) a segurança geral para a Ucrânia. Não creio que isso venha a ser um problema. Há muita gente que o quer fazer, e falei com a Rússia sobre o assunto. Não me pareceram ter problemas com isso. Portanto, penso que eles compreendem que não vão voltar atrás. E assim que o fizermos, eles não vão voltar atrás". Fonte familiarizada com o conteúdo do projeto de acordo revelou à Reuters que o documento não especifica nenhuma garantia de segurança dos EUA ou fluxo contínuo de armas, mas diz que os Estados Unidos querem que a Ucrânia seja “livre, soberana e segura”.

Nos termos do acordo sobre minerais, os Estados Unidos e a Ucrânia vão estabelecer um Fundo de Investimento para a Reconstrução para recolher e reinvestir as receitas provenientes de fontes ucranianas, incluindo minerais, hidrocarbonetos e outros materiais extraíveis.

A Ucrânia contribuiria para o fundo com 50 por cento das receitas menos as despesas de funcionamento e continuaria a fazê-lo até as contribuições atingirem o montante de 500 mil milhões de dólares.

Os Estados Unidos assumiriam um compromisso financeiro a longo prazo para o desenvolvimento de uma “Ucrânia estável e economicamente próspera”.

A Ucrânia tem depósitos de 22 dos 34 minerais identificados pela União Europeia como críticos, de acordo com dados ucranianos, que incluem materiais industriais e de construção, ligas de ferro, metais preciosos e não ferrosos e alguns elementos de terras raras.

As reservas ucranianas de grafite, componente essencial das baterias dos veículos elétricos e dos reatores nucleares, representam 20 por cento dos recursos mundiais. A Ucrânia terá concordado incluir, ainda, o petróleo e o gás no acordo, depois de Washington ter deixado cair a exigência relativa ao direito de 500 mil milhões de dólares a título de compensação da ajuda militar já concedida. Proposta inicial gerou polémica
A proposta inicial dos EUA, que incluía uma participação financeira de 100 por cento no fundo para o qual seriam canalizadas as receitas da extração de recursos naturais, provocou a indignação da Ucrânia e de outros aliados na Europa.

Não vou assinar algo que dez gerações de ucranianos terão de pagar. A Ucrânia não está à venda”, afirmou Zelensky sobre a proposta inicial. Os recursos que os EUA procuram na Ucrânia incluem componentes-chave para baterias, produção de titânio e metais de terras raras que são utilizados em eletrónica, turbinas eólicas, armas e outros produtos modernos.

As negociações foram acompanhadas por uma guerra pública de palavras em que o Presidente norte-americano apelidou o seu homólogo ucraniano de “ditador sem eleições”, um ponto de vista comum do Kremlin.

No início da semana, as autoridades ucranianas afirmaram que o acordo estava quase concluído.


“As equipas ucranianas e norte-americanas estão na fase final das negociações sobre o acordo relativo aos minerais”, declarou na segunda-feira Olha Stefanishyna, vice-primeira-ministra ucraniana para a integração europeia e euroatlântica.

Segundo a governante, "as negociações têm sido muito construtivas, com quase todos os pormenores fundamentais finalizados. Estamos empenhados em concluir rapidamente este processo para proceder à sua assinatura. Esperamos que os líderes dos EUA e da Ucrânia assinem e aprovem o acordo em Washington, o mais rapidamente possível, para demonstrar o nosso compromisso para as próximas décadas".

Enquanto os EUA e a Ucrânia se aproximavam de um acordo, o Presidente russo propôs também um acordo para desenvolver os recursos minerais da Rússia, incluindo nos territórios ucranianos sob ocupação russa. Vladimir Putin afirmou que a Rússia “tem, sem dúvida, e quero sublinhar, muito mais recursos deste género do que a Ucrânia”.
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O recém-nomeado enviado presidencial russo, Kirill Dmitriev, afirmou que os dois países estão interessados em encontrar projetos económicos conjuntos, de acordo com a agência noticiosa estatal Tass.

Dmitriev foi nomeado por Putin no domingo como seu enviado especial para a cooperação económica e de investimento internacional. É visto como uma figura-chave nos esforços de Moscovo para melhorar as relações com a nova administração Trump.

c/ agências
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