A saída dos Estados Unidos da América do acordo de Paris sobre as alterações climáticas é dada como certa. Os líderes empresariais norte-americanos, na sua grande maioria, já apelaram a Donald Trump que não tome essa decisão. Sair implica isolar os EUA de uma série de aliados internacionais.
Dos 195 países que fazem parte da ONU, apenas dois se mantiveram à margem das negociações: a Síria, que vive uma guerra civil sangrenta há seis anos e a Nicarágua por considerar o acordo pouco ambicioso nas metas e condenado ao falhanço pelo facto de não ser de cumprimento obrigatório.
Os Estados Unidos são o segundo maior emissor de dióxido de carbono do mundo, apenas ultrapassado pela China. Se falarmos na União Europeia, como bloco, é a terceira mais poluente, seguindo-se a Índia, a Rússia e o Japão.
Concretizar o processo
Grande parte da imprensa norte-americana dá a decisão da saída do acordo como certa. Já a Casa Branca não comenta as últimas notícias, isto apesar de a imprensa garantir que tem fontes na administração que confirmam a retirada dos Estados Unidos. Faltará ainda estudar a forma como será concretizado o processo de saída do pacto.
O mundo dos negócios, na sua grande maioria, já veio defender a permanência. Vários grupos económicos, incluindo a petrolífera ExxonMobil, BP, Shell, a gigante agroquímica DuPont, Apple, Google, Intel e Microsoft querem que Donald Trump se mantenha no acordo de Paris.
E é já esta noite (20h00 em Lisboa) que será revelada a decisão do Presidente dos EUA quanto ao acordo de Paris sobre as alterações climáticas.
A hora foi avançada pelo próprio Donald Trump no Twitter, depois de ontem ter dito que iria anunciar a decisão brevemente.
I will be announcing my decision on Paris Accord, Thursday at 3:00 P.M. The White House Rose Garden. MAKE AMERICA GREAT AGAIN!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 1 de junho de 2017
Durante a campanha às presidenciais, Donald Trump já tinha anunciado que o acordo era desnecessário, já que na sua ótica o aquecimento global é uma “mentira dos chineses” destinada a enfraquecer a indústria dos Estados Unidos.
Também o Presidente da Comissão Europeia revelou que os líderes do G7 "tentaram explicar, em frases simples, ao senhor Trump", que demorará vários anos aos Estados Unidos para poderem deixar o compromisso sobre alterações climáticas."É dever da Europa enfrentar os EUA"
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou na quarta-feira que é “dever da Europa” enfrentar os EUA, se Donald Trump decidir retirar o seu país do acordo de Paris.
Jean-Claude Juncker disse ainda que “os norte-americanos não podem sair à vontade do acordo”, acrescentando que “isso leva três a quatro anos”.
Também a conta da ONU da rede social Twitter citou o secretário-geral, António Guterres: "As alterações climáticas são inegáveis. As alterações climáticas são imparáveis. As soluções climáticas propiciam oportunidades incomparáveis".
A União Europeia e a China já reafirmaram o seu compromisso com o acordo de Paris, independentemente de os EUA saírem ou não do pacto, afiançou um dirigente da União Europeia, citado pela Reuters.
E acrescentou ainda que a União Europeia e a China vão divulgar como tencionam concretizar os seus compromissos na luta contra o aquecimento global durante as conversações que vão manter na sexta-feira, em Bruxelas.
Comunicado conjunto apresentado em Bruxelas
A BBC teve mesmo acesso a um comunicado conjunto que os líderes da China e da União Europeia se preparam para divulgar, esta sexta-feira, em Bruxelas, no qual sublinham que depois de Trump ter decidido retirar os Estados Unidos do acordo do clima de Paris "é um imperativo mais importante do que nunca" e que concretizar aquele acordo é o "mais elevado compromisso político" que podem assumir.
O documento será publicado na sexta-feira depois de uma cimeira em Bruxelas e surge em resposta aos rumores de que o Presidente dos EUA vai abandonar o acordo alcançado em dezembro de 2015 na capital francesa e já ratificado por 147 dos 197 países.
O que é o acordo de Paris?
O acordo de Paris é um compromisso considerado "histórico" e que foi negociado por 195 países com o principal objetivo de conter o aquecimento global do planeta, ao reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
O acordo tem como objetivo manter as temperaturas globais “bem abaixo” do nível de dois graus centígrados registado antes da revolução industrial e “trabalhar para limitar” essa subida da temperatura a um máximo de 1,5ºC.
Objetivos delineados no acordo:
- Limitar a quantidade de gases com efeito de estufa emitidos pela atividade humana a níveis que permitam a sua absorção natural pelas árvores, o solo e os oceanos;
- Rever as contribuições de cada país para a redução das emissões a cada cinco anos, para que possam adotar medidas para enfrentar o desafio;
- Habilitar os países mais ricos do mundo a ajudar as nações mais pobres através de “financiamentos do clima” para que estas possam adaptar-se às alterações climáticas e criar fontes sustentáveis de energia renovável.
c/ agências