"Acender sinais vermelhos". Publicado esboço da declaração final da COP26

por Carlos Santos Neves - RTP
Se os países representados em Glasgow mantiverem os atuais compromissos até 2030, o aquecimento global será de 2,4 e não de 1,5 graus Celsius Robert Perry - EPA

O Governo do Reino Unido, anfitrião da Cimeira do Clima, que decorre há vários dias em Glasgow, na Escócia, deu a conhecer esta quarta-feira a versão preliminar da declaração final do evento dedicado à resposta às alterações climáticas. No documento, os países são exortados a robustecer, até ao final de 2022, o caminho para um aquecimento global de 1,5 graus Celsius.

O esboço da declaração de Glasgow apela aos países para que “revisitem e fortaleçam as metas de 2030 nos seus contributos nacionais determinados, o que é necessário para se alinharem com o objetivo da temperatura até ao fim de 2022 do Acordo de Paris”.

Este draft, colocado a circular ao início da manhã desta quarta-feira, relembra ainda os países signatários do Acordo de Paris que podem apresentar compromissos mais sólidos, em matéria de resposta às alterações climáticas e em qualquer altura. E, pela primeira vez, exorta-os a abandonarem progressivamente o financiamento da exploração de carvão e combustíveis fósseis.

Diplomatas de perto de duas centenas de países representados em Glasgow vão agora negociar, nas próximas horas, uma versão final da declaração da COP26 – cimeira que chega ao fim no próximo fim-de-semana.

Se os países representados em Glasgow mantiverem os atuais compromissos até 2030, o aquecimento global será de 2,4 e não de 1,5 graus Celsius, acima dos níveis pré-industriais, segundo a avaliação da organização Climate Action Tracker. Sabe-se já que, pelo andar dos trabalhos nos últimos dias, países como a Índia estarão pouco disponíveis para fazer uma transição acelerada.

Ao mesmo tempo, nações mais pobres e especialmente vulneráveis às alterações climáticas têm vindo a apelar para que seja respeitado o limite de um aquecimento planetário de 1,5 graus Celsius. Algo que os cientistas consideram, mesmo assim, próximo da calamidade.

Os países são então exortados a “acelerar o abandono progressivo dos subsídios para o carvão e os combustíveis fósseis”. Em particular, os países mais desenvolvidos são instados e “aumentar urgentemente” o apoio financeiro às nações em desenvolvimento, no campo da proteção climática.
“Acender todos os sinais vermelhos”
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que regressa esta quarta-feira aos trabalhos da COP26, considera necessário que os países “acendam todos os sinais vermelhos”, numa tentativa de limitar o aquecimento da Terra.
Cláudia Godinho - Antena 1

São seis as páginas do esboço de declaração final, que se focam no princípio da adaptação e no financiamento – este último tem sido um dos pontos quentes dos trabalhos em solo escocês, uma vez que os países menos desenvolvidos responsabilizam as potências pelos escassos contributos para a defesa do clima.

De destacar que uma subida média da temperatura global de apenas dois graus Celsius poderá traduzir-se em milhares de milhões de pessoas atingidas por fatais vagas de calor e humidade
, de acordo com o Gabinete Meteorológico do Reino Unido.

Antes de retornar aos trabalhos da cimeira, Boris Johnson, cuja primeira intervenção foi alvo de críticas a um excessivo entusiasmo, afirmou que “as equipas negociação estão a cumprir os metros mais difíceis nestes últimos dias da COP26, de forma a transformar promessas em ação sobre as alterações climáticas”.

A edição online da BBC adianta que o próprio Johnson vai reunir-se com ministros e negociadores para auscultar vontades no sentido de eventuais progressos.

“Isto é maior do que qualquer país em particular e é tempo de as nações colocarem de lado as divergências e juntarem-se em prol do nosso planeta e dos nossos povos”, acentuou o chefe do Executivo britânico, para acrescentar: “Precisamos de acender todos os sinais vermelhos, se quisermos manter os 1,5 graus Celsius ao alcance”.
O que foi já conseguido em Glasgow?
A cimeira continuará, até ao último momento, a negociar um acordo que possa receber as chancelas de 197 países. Todavia, na passada semana, foram alcançados alguns acordos laterais.

Mais de uma centena de líderes prometeram pôr termo e mesme inverter a desflorestação até 2030, entre os quais o Brasil.

Estados Unidos e União Europeia anunciaram a formação de uma parceria de alcance global para reduzir as emissões de metano – gás com efeito de estufa – até 2030.

Por último, mais de 40 países comprometeram-se a pôr de parte o carvão como fonte de energia. No entanto, os maiores utilizadores deste combustível, como a China e os Estados Unidos, posicionaram-se à margem deste entendimento.

Esta quarta-feira é o “dia dos transportes” na COP26.

c/ agências
PUB